Fátima, página 3
Continuação de “Fátima: Mensagem de tragédia ou de esperança?”
A divulgação da terceira parte do Segredo
Chegamos finalmente ao Pontificado de João Paulo II cujo interesse por Fátima não era recente, mas que cresceu muito de ponto após sofrer um sacrílego atentado justamente na data de 13 de maio, no ano de 1981. Tendo mandado vir o envelope com o Segredo no dia 18 de julho desse ano, imediatamente se sentiu identificado com a figura do “Bispo vestido de branco” do qual fala o texto. A propósito, externou mais tarde a convicção de que “foi uma mão materna que guiou a trajetória da bala e o Santo Padre agonizante deteve-se no limiar da morte” (Meditação com os Bispos italianos em 13 de maio de 1994).
Entretanto, nem por isso decidiu-se logo pela publicação. Só mais recentemente — declara Sua Santidade — “ao parecerem-me já amadurecidos os tempos, julguei oportuno tornar público o conteúdo da chamada terceira parte do segredo” (alocução na audiência geral de quarta-feira 17 de maio de 2000, Voz da Fátima n° 933, 13-6-00).
No dia 13 de maio de 2000, na esplanada do Santuário de Fátima, o Cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado, foi incumbido por João Paulo II de anunciar essa histórica decisão. Serviu de quadro de fundo para o anúncio a beatificação dos videntes Francisco e Jacinta, que o Santo Padre fazia nesse dia, tendo-se deslocado especialmente de Roma a Fátima para esse efeito.
A publicação do Segredo devia fazer-se acompanhada de um “adequado comentário” — segundo palavras do Cardeal Sodano — do que ficou encarregada a Congregação para a Doutrina da Fé. Esta, no dia 26 de junho de 2000, deu a lume o documento intitulado A mensagem de Fátima, distribuído com grande aparato publicitário na Sala Stampa da Santa Sé e via Internet, em seis línguas (alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e português). A sessão na Sala Stampa — secretariada pelo porta-voz oficial da Santa Sé, Dr. Joaquín Navarro-Vals — foi presidida pelo próprio Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação, acompanhado de Mons. Tarcisio Bertone, Arcebispo-emérito de Vercelli e Secretário da Congregação, e retransmitida ao vivo pela rede de TV estatal italiana e outras emissoras de TV de todo o mundo.
O documento — do qual extraímos vários elementos do histórico acima apresentado — contém diversas peças da maior importância:
a) uma Apresentação geral, feita por Mons. Bertone;
b) o fac-símile dos manuscritos da Irmã Lúcia referente às três partes do Segredo de Fátima (a partir dos quais inferimos o formato do fólio do terceiro Segredo), bem como a respectiva transcrição em caracteres tipográficos;
c) carta de 19 de abril de 2000 de João Paulo II à Irmã Lúcia, pedindo que respondesse “aberta e sinceramente” às perguntas sobre a interpretação do Segredo que o Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé lhe faria em nome do Pontífice;
d) relatório do Colóquio de Mons. Bertone e do Bispo de Leiria com a Irmã Lúcia no Carmelo de Coimbra, no dia 27 de abril;
e) Comunicação feita em Fátima, no dia 12 de maio, pelo Cardeal Sodano;
f) e, por fim, o Comentário teológico, feito e assinado pelo Cardeal Ratzinger, contendo uma explanação sintética sobre o “lugar teológico” da revelação pública e das revelações privadas na Igreja, seguido de “uma tentativa de interpretação do ‘segredo’ de Fátima”.
O Cardeal Ratzinger, na conferência de imprensa da Sala Stampa foi enfático ao afirmar que não se tratava de uma “interpretação oficial”, e que, portanto, de forma alguma a Santa Sé pretendia impô-la como tal, pelo que se deduz estar facultado aos estudiosos tentar aprofundá-la ou mesmo oferecer novas perspectivas de interpretação. Com quanta prudência e modéstia devem fazê-lo é supérfluo encarecer.
De nossa parte, foi o que despretensiosamente procuramos fazer nos comentários com que acompanhamos o texto do terceiro Segredo, no Capítulo II deste trabalho, aduzindo conceitos da espiritualidade montfortiana (de São Luís Maria Grignion de Monfort), bem como enriquecimentos desses conceitos produzidos pelo eminente pensador e homem de ação brasileiro, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, falecido em 1995. Dois artigos seus (de 1953 e 1958, respectivamente) que integram este volume, constituem autênticas glosas do terceiro Segredo, feitas com quatro décadas de antecedência!
Feita assim a publicação do segredo pela própria Congregação para a Doutrina da Fé, tal fato conferia, de certo modo, um caráter “oficial” à publicação do Segredo (não, como salientamos acima, à interpretação que o acompanhava), conforme salientou o Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, em entrevista ao semanário Alfa e Omega(apud Avvenire, 27-6-2000). Com isso, Fátima, sem perder o seu caráter de revelação particular, cresceu muito em importância aos olhos dos fiéis. E cresceu também em atualidade, como ressaltou o mesmo Bispo de Leiria-Fátima, ao responder a outra pergunta na mesma entrevista:
— “O sr. acredita que, com este acontecimento da publicação do segredo, se fecha, de certo modo, o século XX?
— Eu não diria que se fecha algo, mas antes que se abre como uma janela de esperança sobre este século, a esperança de conversão pessoal de cada um de nós, da humanidade inteira, a fim de que se possa encontrar finalmente a paz” (loc. cit.).
Será o Grande Retorno da humanidade para Deus, a que nos referimos ao comentar a cena final do terceiro Segredo (cfr. Capítulo II deste trabalho).
Entretanto, nem por isso decidiu-se logo pela publicação. Só mais recentemente — declara Sua Santidade — “ao parecerem-me já amadurecidos os tempos, julguei oportuno tornar público o conteúdo da chamada terceira parte do segredo” (alocução na audiência geral de quarta-feira 17 de maio de 2000, Voz da Fátima n° 933, 13-6-00).
No dia 13 de maio de 2000, na esplanada do Santuário de Fátima, o Cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado, foi incumbido por João Paulo II de anunciar essa histórica decisão. Serviu de quadro de fundo para o anúncio a beatificação dos videntes Francisco e Jacinta, que o Santo Padre fazia nesse dia, tendo-se deslocado especialmente de Roma a Fátima para esse efeito.
A publicação do Segredo devia fazer-se acompanhada de um “adequado comentário” — segundo palavras do Cardeal Sodano — do que ficou encarregada a Congregação para a Doutrina da Fé. Esta, no dia 26 de junho de 2000, deu a lume o documento intitulado A mensagem de Fátima, distribuído com grande aparato publicitário na Sala Stampa da Santa Sé e via Internet, em seis línguas (alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e português). A sessão na Sala Stampa — secretariada pelo porta-voz oficial da Santa Sé, Dr. Joaquín Navarro-Vals — foi presidida pelo próprio Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação, acompanhado de Mons. Tarcisio Bertone, Arcebispo-emérito de Vercelli e Secretário da Congregação, e retransmitida ao vivo pela rede de TV estatal italiana e outras emissoras de TV de todo o mundo.
O documento — do qual extraímos vários elementos do histórico acima apresentado — contém diversas peças da maior importância:
a) uma Apresentação geral, feita por Mons. Bertone;
b) o fac-símile dos manuscritos da Irmã Lúcia referente às três partes do Segredo de Fátima (a partir dos quais inferimos o formato do fólio do terceiro Segredo), bem como a respectiva transcrição em caracteres tipográficos;
c) carta de 19 de abril de 2000 de João Paulo II à Irmã Lúcia, pedindo que respondesse “aberta e sinceramente” às perguntas sobre a interpretação do Segredo que o Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé lhe faria em nome do Pontífice;
d) relatório do Colóquio de Mons. Bertone e do Bispo de Leiria com a Irmã Lúcia no Carmelo de Coimbra, no dia 27 de abril;
e) Comunicação feita em Fátima, no dia 12 de maio, pelo Cardeal Sodano;
f) e, por fim, o Comentário teológico, feito e assinado pelo Cardeal Ratzinger, contendo uma explanação sintética sobre o “lugar teológico” da revelação pública e das revelações privadas na Igreja, seguido de “uma tentativa de interpretação do ‘segredo’ de Fátima”.
O Cardeal Ratzinger, na conferência de imprensa da Sala Stampa foi enfático ao afirmar que não se tratava de uma “interpretação oficial”, e que, portanto, de forma alguma a Santa Sé pretendia impô-la como tal, pelo que se deduz estar facultado aos estudiosos tentar aprofundá-la ou mesmo oferecer novas perspectivas de interpretação. Com quanta prudência e modéstia devem fazê-lo é supérfluo encarecer.
De nossa parte, foi o que despretensiosamente procuramos fazer nos comentários com que acompanhamos o texto do terceiro Segredo, no Capítulo II deste trabalho, aduzindo conceitos da espiritualidade montfortiana (de São Luís Maria Grignion de Monfort), bem como enriquecimentos desses conceitos produzidos pelo eminente pensador e homem de ação brasileiro, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, falecido em 1995. Dois artigos seus (de 1953 e 1958, respectivamente) que integram este volume, constituem autênticas glosas do terceiro Segredo, feitas com quatro décadas de antecedência!
Feita assim a publicação do segredo pela própria Congregação para a Doutrina da Fé, tal fato conferia, de certo modo, um caráter “oficial” à publicação do Segredo (não, como salientamos acima, à interpretação que o acompanhava), conforme salientou o Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, em entrevista ao semanário Alfa e Omega(apud Avvenire, 27-6-2000). Com isso, Fátima, sem perder o seu caráter de revelação particular, cresceu muito em importância aos olhos dos fiéis. E cresceu também em atualidade, como ressaltou o mesmo Bispo de Leiria-Fátima, ao responder a outra pergunta na mesma entrevista:
— “O sr. acredita que, com este acontecimento da publicação do segredo, se fecha, de certo modo, o século XX?
— Eu não diria que se fecha algo, mas antes que se abre como uma janela de esperança sobre este século, a esperança de conversão pessoal de cada um de nós, da humanidade inteira, a fim de que se possa encontrar finalmente a paz” (loc. cit.).
Será o Grande Retorno da humanidade para Deus, a que nos referimos ao comentar a cena final do terceiro Segredo (cfr. Capítulo II deste trabalho).
* * *
Para completar a análise do tema, convém elucidar duas perguntas que afloraram com freqüência após a divulgação da terceira parte do Segredo:
Por que a Santa Sé reteve durante 40 anos a divulgação do Segredo?
1a pergunta — Se o Segredo “era só isso”, por que a Santa Sé demorou tanto tempo para divulgá-lo?
— Como resposta cabe dizer que quem se refere ao terceiro Segredo como sendo “só isso” —seriam os tais “desiludidos” a que aludiu o Cardeal Ratzinger (cfr. A Mensagem de Fátima, pp. 31 e 42) — certamente não conseguiu penetrar o sentido misterioso e profundo de suas metáforas. O que, aliás, não surpreende, pois o mesmo Cardeal Ratzinger sentiu essa dificuldade ao ressaltar, logo no início de seu Comentário teológico, que se trata de “uma cena descrita numa linguagem simbólica de difícil decifração” (A Mensagem de Fátima, p. 31).
De qualquer modo — alega-se — a morte de um Pontífice, bem como a de tantos prelados e gentes de todas as condições sociais, previstas no terceiro Segredo, constituíam motivo mais do que suficiente para não manter o mundo assustado sob essa espada de Dâmocles. — Mas este susto não poderia ter sido salutar, fazendo ver à humanidade o perigo que corre, ao distanciar-se cada vez mais de Deus?
Este argumento, portanto, não parece decisivo, nem pró, nem contra, a divulgação do terceiro Segredo.
Haveria alguma razão mais profunda que teria levado a Santa Sé — mais precisamente os Sumos Pontífices João XXIII e Paulo VI — a optar pela não divulgação?
A data de 1960, indicada pela Irmã Lúcia para a revelação do Segredo, apresenta uma notável proximidade com a convocação do Concílio Vaticano II (25 de janeiro de 1959) e sua efetiva realização (1962-1965). Que efeito poderia ter a revelação do Segredo sobre os rumos da magna Assembléia Conciliar? — É uma pergunta que parece ter todo o cabimento, tanto mais quanto a mesma Irmã Lúcia declarou ao Cardeal Ottaviani que, a partir dessa data, o Segredo se tornaria mais claro. E o grande evento da década de 60 foi precisamente o Concílio Vaticano II.
Ora, analisando o desenrolar dos trabalhos conciliares, vê-se que havia desde o início o desígnio de uma ponderável parcela da Assembléia Conciliar de promover uma abertura da Igreja ao mundo moderno — era então comum a metáfora de uma abertura das janelas da Igreja, a fim de que a atmosfera reinante no interior do Templo se difundisse de modo benfazejo pelas ruas do mundo. Como é sabido, esse desígnio se concretizou mais especificamente com a promulgação da “Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje”, Gaudium et spes (7-12-1965). Tal documento foi o fruto da esperança, manifestada pela maioria conciliar, de que o mundo moderno corresponderia gaudiosamente — daí o nome Gaudium et spes — ao desejo da Igreja de uma cessação do regime de hostilidade, vigente até então entre ambas as partes, e o início de uma colaboração amistosa e profícua entre a Igreja e o mundo secular.
Passadas quatro décadas do fim do Concílio, nenhum historiador realista deixará de concluir que o mundo não correspondeu a essa expectativa. Pelo contrário, vai se manifestando cada vez mais adverso a Nosso Senhor Jesus Cristo e a sua Igreja, empenhado decididamente em excluir Deus de qualquer presença na vida pública e resolvido a confinar a Igreja no interior de suas fronteiras. E, mais ainda, a assaltá-la, se possível, dentro de suas próprias muralhas.
Assim, em vez de o incenso de agradável odor se difundir através das janelas do Templo, o que se viu foi o contrário; isto é, como observou o próprio Pontífice Paulo VI, foi a pestilência do mundo — “a fumaça de Satanás” — que, por alguma fissura, penetrou no Templo de Deus... (cfr. sermão de 29 de junho de 1972).
Também o atual Pontífice, Bento XVI, aborda, com muita subtileza, a mesma problemática: “A questão torna-se mais clara se, em lugar do termo genérico ‘mundo de hoje’, escolhêssemos um outro mais preciso: o Concílio devia determinar de modo novo a relação entre Igreja e idade moderna. (...) Quem esperava que com este ‘sim’ fundamental à idade moderna todas as tensões se dissolvessem e a ‘abertura ao mundo’ assim realizada transformasse tudo em pura harmonia, subestimou as tensões interiores e até as contradições da própria idade moderna: subestimou a perigosa fragilidade da natureza humana que, em todos os períodos da história e em toda configuração histórica, é uma ameaça para o caminho do homem. Estes perigos, com as novas possibilidades e com o novo poder do homem sobre a matéria e sobre si mesmo, não desapareceram, mas assumem, pelo contrário, novas dimensões: um olhar sobre a história atual demonstra-o claramente. Também em nosso tempo a Igreja continua sendo um ‘sinal de contradição’ (Lc 2, 34). (...) Não podia ser intenção do Concílio abolir esta contradição do Evangelho em face dos perigos e dos erros do homem” (Discurso à Cúria Romana por ocasião da apresentação dos votos natalícios, 22 de dezembro de 2005).
Ora, a terceira parte do Segredo de Fátima — qualquer que seja a variante de interpretação que se lhe dê — de forma alguma autorizava o voto de confiança que os Padres Conciliares quiseram dar ao mundo moderno. Pois, no Segredo, a humanidade atual aparece como alvo da ira de Deus, simbolizada pelo fogo que a espada do Anjo expedia em sua direção, com o fito de incendiar o mundo (o qual aliás aparece, na seqüência da visão, semidestruído e juncado de cadáveres).
Passadas quatro décadas do fim do Concílio, nenhum historiador realista deixará de concluir que o mundo não correspondeu a essa expectativa. Pelo contrário, vai se manifestando cada vez mais adverso a Nosso Senhor Jesus Cristo e a sua Igreja, empenhado decididamente em excluir Deus de qualquer presença na vida pública e resolvido a confinar a Igreja no interior de suas fronteiras. E, mais ainda, a assaltá-la, se possível, dentro de suas próprias muralhas.
Assim, em vez de o incenso de agradável odor se difundir através das janelas do Templo, o que se viu foi o contrário; isto é, como observou o próprio Pontífice Paulo VI, foi a pestilência do mundo — “a fumaça de Satanás” — que, por alguma fissura, penetrou no Templo de Deus... (cfr. sermão de 29 de junho de 1972).
Também o atual Pontífice, Bento XVI, aborda, com muita subtileza, a mesma problemática: “A questão torna-se mais clara se, em lugar do termo genérico ‘mundo de hoje’, escolhêssemos um outro mais preciso: o Concílio devia determinar de modo novo a relação entre Igreja e idade moderna. (...) Quem esperava que com este ‘sim’ fundamental à idade moderna todas as tensões se dissolvessem e a ‘abertura ao mundo’ assim realizada transformasse tudo em pura harmonia, subestimou as tensões interiores e até as contradições da própria idade moderna: subestimou a perigosa fragilidade da natureza humana que, em todos os períodos da história e em toda configuração histórica, é uma ameaça para o caminho do homem. Estes perigos, com as novas possibilidades e com o novo poder do homem sobre a matéria e sobre si mesmo, não desapareceram, mas assumem, pelo contrário, novas dimensões: um olhar sobre a história atual demonstra-o claramente. Também em nosso tempo a Igreja continua sendo um ‘sinal de contradição’ (Lc 2, 34). (...) Não podia ser intenção do Concílio abolir esta contradição do Evangelho em face dos perigos e dos erros do homem” (Discurso à Cúria Romana por ocasião da apresentação dos votos natalícios, 22 de dezembro de 2005).
Ora, a terceira parte do Segredo de Fátima — qualquer que seja a variante de interpretação que se lhe dê — de forma alguma autorizava o voto de confiança que os Padres Conciliares quiseram dar ao mundo moderno. Pois, no Segredo, a humanidade atual aparece como alvo da ira de Deus, simbolizada pelo fogo que a espada do Anjo expedia em sua direção, com o fito de incendiar o mundo (o qual aliás aparece, na seqüência da visão, semidestruído e juncado de cadáveres).
A divulgação desse Segredo em 1960 teria ido, portanto, na contramão das esperanças manifestadas na Aula Conciliar. E, dada a grande expectativa que havia então em todo o mundo, em torno da revelação do Segredo, poderia ter influenciado uma ponderável parcela da opinião católica, tornando quiçá inviável que se desse guarida a essa esperança frustra.
Se as considerações acima são válidas, compreende-se que os Pontífices do tempo, bem cientes da expectativa otimista reinante desde o momento em que o Concílio foi convocado, julgassem inoportuna a revelação do Segredo e a remetessem para um futuro remoto. O que acabou acontecendo no ano 2000, quando João Paulo II julgou “amadurecidos os tempos” para divulgá-lo (cfr. alocução de 17 de maio de 2000).
Esta é a hipótese que, à vista dos fatos históricos e da realidade atual, se poderia levantar. Haverá outras explicações? — A História um dia o dirá.
O que, após 1960, tornaria o Segredo “mais claro”?
2a pergunta — O que há no conteúdo do terceiro Segredo que se tornaria “mais claro” após 1960, conforme declarou a Irmã Lúcia, a propósito da data limite a partir da qual o texto poderia ser publicado?
— A chave que propomos para a interpretação da terceira parte do Segredo é a resposta, sim ou não, da humanidade ao apelo de penitência e de conversão que Nossa Senhora fez em Fátima. Ora, é notório que esta resposta, no geral da humanidade, tem sido até aqui negativa, e que o afastamento da sociedade humana das vias da virtude se acentuou muitíssimo na década de 60. Basta mencionar a revolução cultural que a partir de maio de 1968 na Sorbonne se expandiu velozmente pelo mundo (e aqui entram, mais uma vez, os erros da Rússia, que impregnavam inegavelmente esse movimento revolucionário); e, dentro da Igreja, a crise pós-conciliar, a qual traz em seu bojo uma crise da fé, sem a qual ela não existiria. Crise da fé que implica por sua própria natureza numa rejeição de Deus, do conteúdo da Revelação e do Magistério da Igreja, em grau maior ou menor conforme o caso, mas que atinge porções extensíssimas da Cristandade (cfr. Capítulo II deste trabalho, Comentários à segunda parte do Segredo).
Assim, tanto a ordem temporal como a ordem espiritual se encontram num estado de desconcerto, do qual não se sairá sem uma intervenção extraordinária da Providência, acompanhada de um regime especial de graças para a humanidade, como o terceiro Segredo indica.
Todo esse desconcerto, somente sanável com uma intervenção da Providência, começou a ficar mais patente, aos olhos do mundo, em meados da década de 60, confirmando a intuição profética da Irmã Lúcia.
A consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria
No dia 13 de junho de 1929, a Irmã Lúcia teve uma esplêndida visão da Santíssima Trindade e do Imaculado Coração de Maria, durante a qual Nossa Senhora lhe comunicou que “era chegado o momento em que queria [que ela] participasse à Santa Igreja o seu desejo da consagração da Rússia, e a sua promessa de a converter”. É a própria Irmã Lúcia quem escreve:
“Eu tinha pedido e obtido licença das minhas superioras e do confessor para fazer a Hora Santa das onze à meia-noite, de quintas para sextas-feiras. Estando uma noite só, ajoelhei-me entre a balaustrada, no meio da capela, a rezar prostrada as orações do Anjo. Sentindo-me cansada, ergui-me e continuei a rezá-las com os braços em cruz. A única luz era a da lâmpada. De repente iluminou-se toda a capela com uma luz sobrenatural, e sobre o altar apareceu uma Cruz de luz que chegava até o teto. Numa luz mais clara, via-se na parte superior da Cruz, uma face de homem com corpo até à cintura [o Padre Eterno], sobre o peito uma pomba de luz [o Divino Espírito Santo], e pregado na Cruz o corpo de outro homem [Nosso Senhor Jesus Cristo]. Um pouco abaixo da cintura, suspenso no ar, via-se um cálice e uma Hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas faces do Crucificado e de uma ferida do peito. Escorregando pela Hóstia, essas gotas caíam dentro do cálice. Sob o braço direito da Cruz estava Nossa Senhora (era Nossa Senhora de Fátima com o seu Imaculado Coração na mão esquerda, sem espada nem rosas, mas com uma coroa de espinhos e chamas)... Sob o braço esquerdo [da Cruz], umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do altar, formavam estas palavras: ‘Graça e Misericórdia’.
Compreendi que me era mostrado o Mistério da Santíssima Trindade, e recebi luzes sobre este Mistério que não me é permitido revelar.
Depois Nossa Senhora disse-me: “É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio. São tantas as almas que a Justiça de Deus condena por pecados contra Mim cometidos, que venho pedir reparação: sacrifica-te por esta intenção e ora” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pp. 462 e 464) (17).
Compreendi que me era mostrado o Mistério da Santíssima Trindade, e recebi luzes sobre este Mistério que não me é permitido revelar.
Depois Nossa Senhora disse-me: “É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio. São tantas as almas que a Justiça de Deus condena por pecados contra Mim cometidos, que venho pedir reparação: sacrifica-te por esta intenção e ora” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pp. 462 e 464) (17).
17. Apontamentos do Pe. José Bernardo Gonçalves SJ, copiados de um manuscrito da Irmã Lúcia que, segundo parece, não existe mais (cfr. edições brasileira e portuguesa das Memórias da Irmã Lúcia, p. 193).
Através de seus confessores e do Bispo de Leiria, a vidente fez com que o pedido de Nossa Senhora chegasse, ainda naquele ano, ao conhecimento do Papa Pio XI, o qual prometeu tomá-lo em consideração (cfr. De Marchi, p. 311; Walsh, p. 198).
Em carta de 29 de maio de 1930 ao seu confessor Pe. José Bernardo Gonçalves SJ, a Irmã Lúcia relata que Nosso Senhor, tendo-lhe feito sentir no fundo do coração a sua Divina Presença, instou-lhe a pedir ao Santo Padre a aprovação da devoção reparadora dos Primeiros Sábados. São palavras da vidente: “Se me não engano, o bom Deus promete terminar a perseguição na Rússia se o Santo Padre se dignar fazer, e mandar que o façam igualmente os Bispos do mundo católico, um solene e público ato de reparação e consagração da Rússia aos Santíssimos Corações de Jesus e Maria, prometendo, Sua Santidade, mediante o fim desta perseguição, aprovar e recomendar a prática da já indicada devoção reparadora”(cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 404).
Mais tarde, por meio de outra comunicação íntima, Nosso Senhor queixou-Se à Irmã Lúcia de que a consagração da Rússia não tinha sido feita: “Não quiseram atender ao meu pedido. Como o Rei de França, arrepender-se-ão, e fá-la-ão, mas será tarde (18). A Rússia terá já espalhado os seus erros pelo mundo, provocando guerras, perseguições à Igreja: o Santo Padre terá muito que sofrer” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 464).
18. Alusão à promessa de Nosso Senhor a Luís XIV, por intermédio de Santa Margarida Maria Alacoque, de dar-lhe a vida da graça e a glória eterna, bem como a vitória sobre todos os inimigos, se o Rei se consagrasse ao Sagrado Coração e O fizesse reinar em seu palácio, pintar em seus estandartes e gravar em suas armas.
O pedido que o Senhor assim formulara ainda não fora atendido quando, em 1792, prisioneiro na Torre do Templo, Luís XVI fez o voto de consagrar solenemente ao Coração de Jesus sua própria pessoa, sua Família e seu Reino, se recobrasse a liberdade, a Coroa e o poder real. Já era tarde: o Rei só saiu da prisão para o patíbulo.
Em 21 de janeiro de 1935, em carta ao Pe. José Bernardo Gonçalves SJ, a Irmã Lúcia declara que “Nosso Senhor estava bastante descontente por não se realizar o seu pedido” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 412).
Em carta ao mesmo Pe. Gonçalves, de 18 de maio de 1936, a Irmã Lúcia esclarece:
“Quanto à outra pergunta: se será conveniente insistir para obter a consagração da Rússia, — respondo quase o mesmo que das outras vezes tenho dito. Sinto que não se tenha já feito; mas o mesmo Deus que a pediu, é que assim o permitiu [...] Se é conveniente insistir? Não sei. Parece-me que, se o Santo Padre agora o fizesse, Nosso Senhor a aceitava e cumpria a sua promessa; e, sem dúvida, seria um gosto que dava a Nosso Senhor e ao Imaculado Coração de Maria.
Intimamente, tenho falado a Nosso Senhor do assunto; e há pouco perguntava-Lhe por que não convertia a Rússia sem que Sua Santidade fizesse essa consagração: ‘Porque quero que toda a minha Igreja reconheça essa consagração como um triunfo do Coração Imaculado de Maria, para depois estender o seu culto e pôr, ao lado da devoção do meu Divino Coração, a devoção deste Imaculado Coração’. Mas, meu Deus, o Santo Padre não me há-de crer, se Vós mesmo o não moveis com uma inspiração especial. ‘O Santo Padre! Ora muito pelo Santo Padre. Ele há-de fazê-la, mas será tarde. No entanto, o Imaculado Coração de Maria há-de salvar a Rússia. Está-Lhe confiada’” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pp. 412 e 414).
Como se vê, a Irmã Lúcia acompanha de perto o que se passa no mundo relativamente aos pedidos de Nosso Senhor e de Nossa Senhora. Mas nem sempre toma conhecimento dos fatos pelas vias de informação normais. Diz ela ao Pe. Gonçalves, em carta de 21 de janeiro de 1940: “Coisas desse gênero [alguns artigos de revista que queriam que ela visse], só costumo ler o que os Superiores determinadamente me mandam. [...] De resto, as minhas Superioras gostam que me conserve em ignorância do que se vai passando, e eu sou contente; não tenho curiosidade. Quando Nosso Senhor quer que saiba alguma coisa, encarrega-Se de mo fazer conhecer. Tem para isso tantos meios!” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 420).
Ainda para o Pe. Gonçalves, ela escreve a 24 de abril de 1940:
“Ele [Nosso Senhor], se quiser, pode fazer que a causa ande depressa. Mas, para castigo do mundo, deixará que vá devagar. A sua Justiça, provocada pelos nossos pecados, assim o exige. Desgosta-se, às vezes, não só pelos grandes pecados, mas também pela nossa frouxidão e negligência em atender aos seus pedidos.
[...] São muitos os crimes, mas, sobretudo, é muito maior agora a negligência das almas de quem Ele esperava ardor no seu serviço. É muito limitado o número daquelas com quem Ele Se encontra” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pp. 420 e 427).
A Irmã Lúcia volta aos mesmos pensamentos em carta de 18 de agosto de 1940, sempre ao Pe. Gonçalves:< “Suponho que é do agrado de Nosso Senhor que haja quem se vá interessando, junto do seu Vigário na terra, pela realização dos seus desejos. Mas o Santo Padre não o fará já. Duvida da realidade, e tem razão. O nosso bom Deus podia, por meio de algum prodígio, mostrar claro que é Ele que o pede; mas aproveita-se deste tempo para, com a sua Justiça, punir o mundo de tantos crimes, e prepará-lo para uma volta mais completa para Si (19). A prova que nos concede é a proteção especial do Imaculado Coração de Maria, sobre Portugal, em vista da consagração que lhe fizeram (20).
Em carta de 29 de maio de 1930 ao seu confessor Pe. José Bernardo Gonçalves SJ, a Irmã Lúcia relata que Nosso Senhor, tendo-lhe feito sentir no fundo do coração a sua Divina Presença, instou-lhe a pedir ao Santo Padre a aprovação da devoção reparadora dos Primeiros Sábados. São palavras da vidente: “Se me não engano, o bom Deus promete terminar a perseguição na Rússia se o Santo Padre se dignar fazer, e mandar que o façam igualmente os Bispos do mundo católico, um solene e público ato de reparação e consagração da Rússia aos Santíssimos Corações de Jesus e Maria, prometendo, Sua Santidade, mediante o fim desta perseguição, aprovar e recomendar a prática da já indicada devoção reparadora”(cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 404).
Mais tarde, por meio de outra comunicação íntima, Nosso Senhor queixou-Se à Irmã Lúcia de que a consagração da Rússia não tinha sido feita: “Não quiseram atender ao meu pedido. Como o Rei de França, arrepender-se-ão, e fá-la-ão, mas será tarde (18). A Rússia terá já espalhado os seus erros pelo mundo, provocando guerras, perseguições à Igreja: o Santo Padre terá muito que sofrer” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 464).
18. Alusão à promessa de Nosso Senhor a Luís XIV, por intermédio de Santa Margarida Maria Alacoque, de dar-lhe a vida da graça e a glória eterna, bem como a vitória sobre todos os inimigos, se o Rei se consagrasse ao Sagrado Coração e O fizesse reinar em seu palácio, pintar em seus estandartes e gravar em suas armas.
O pedido que o Senhor assim formulara ainda não fora atendido quando, em 1792, prisioneiro na Torre do Templo, Luís XVI fez o voto de consagrar solenemente ao Coração de Jesus sua própria pessoa, sua Família e seu Reino, se recobrasse a liberdade, a Coroa e o poder real. Já era tarde: o Rei só saiu da prisão para o patíbulo.
Em 21 de janeiro de 1935, em carta ao Pe. José Bernardo Gonçalves SJ, a Irmã Lúcia declara que “Nosso Senhor estava bastante descontente por não se realizar o seu pedido” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 412).
Em carta ao mesmo Pe. Gonçalves, de 18 de maio de 1936, a Irmã Lúcia esclarece:
“Quanto à outra pergunta: se será conveniente insistir para obter a consagração da Rússia, — respondo quase o mesmo que das outras vezes tenho dito. Sinto que não se tenha já feito; mas o mesmo Deus que a pediu, é que assim o permitiu [...] Se é conveniente insistir? Não sei. Parece-me que, se o Santo Padre agora o fizesse, Nosso Senhor a aceitava e cumpria a sua promessa; e, sem dúvida, seria um gosto que dava a Nosso Senhor e ao Imaculado Coração de Maria.
Intimamente, tenho falado a Nosso Senhor do assunto; e há pouco perguntava-Lhe por que não convertia a Rússia sem que Sua Santidade fizesse essa consagração: ‘Porque quero que toda a minha Igreja reconheça essa consagração como um triunfo do Coração Imaculado de Maria, para depois estender o seu culto e pôr, ao lado da devoção do meu Divino Coração, a devoção deste Imaculado Coração’. Mas, meu Deus, o Santo Padre não me há-de crer, se Vós mesmo o não moveis com uma inspiração especial. ‘O Santo Padre! Ora muito pelo Santo Padre. Ele há-de fazê-la, mas será tarde. No entanto, o Imaculado Coração de Maria há-de salvar a Rússia. Está-Lhe confiada’” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pp. 412 e 414).
Como se vê, a Irmã Lúcia acompanha de perto o que se passa no mundo relativamente aos pedidos de Nosso Senhor e de Nossa Senhora. Mas nem sempre toma conhecimento dos fatos pelas vias de informação normais. Diz ela ao Pe. Gonçalves, em carta de 21 de janeiro de 1940: “Coisas desse gênero [alguns artigos de revista que queriam que ela visse], só costumo ler o que os Superiores determinadamente me mandam. [...] De resto, as minhas Superioras gostam que me conserve em ignorância do que se vai passando, e eu sou contente; não tenho curiosidade. Quando Nosso Senhor quer que saiba alguma coisa, encarrega-Se de mo fazer conhecer. Tem para isso tantos meios!” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 420).
Ainda para o Pe. Gonçalves, ela escreve a 24 de abril de 1940:
“Ele [Nosso Senhor], se quiser, pode fazer que a causa ande depressa. Mas, para castigo do mundo, deixará que vá devagar. A sua Justiça, provocada pelos nossos pecados, assim o exige. Desgosta-se, às vezes, não só pelos grandes pecados, mas também pela nossa frouxidão e negligência em atender aos seus pedidos.
[...] São muitos os crimes, mas, sobretudo, é muito maior agora a negligência das almas de quem Ele esperava ardor no seu serviço. É muito limitado o número daquelas com quem Ele Se encontra” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pp. 420 e 427).
A Irmã Lúcia volta aos mesmos pensamentos em carta de 18 de agosto de 1940, sempre ao Pe. Gonçalves:< “Suponho que é do agrado de Nosso Senhor que haja quem se vá interessando, junto do seu Vigário na terra, pela realização dos seus desejos. Mas o Santo Padre não o fará já. Duvida da realidade, e tem razão. O nosso bom Deus podia, por meio de algum prodígio, mostrar claro que é Ele que o pede; mas aproveita-se deste tempo para, com a sua Justiça, punir o mundo de tantos crimes, e prepará-lo para uma volta mais completa para Si (19). A prova que nos concede é a proteção especial do Imaculado Coração de Maria, sobre Portugal, em vista da consagração que lhe fizeram (20).
19. Na segunda parte do Segredo, Nossa Senhora anunciou o triunfo de seu Imaculado Coração, a concretizar-se após o Castigo com que Deus punirá o mundo pelos seus crimes. Neste documento, a Irmã Lúcia alude a “uma volta mais completa” do mundo a Deus Nosso Senhor. O que confirma o que dissemos ao comentar a cena final do terceiro Segredo (cfr. Capítulo II), sobre o Grande Retorno da humanidade para Deus, como sendo a condição sine qua non para concretizar-se o Reino de Maria profetizado por São Luís Maria Grignion de Montfort em seu célebre Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem e em sua não menos famosa Oração abrasada. No Reino de Maria — segundo esse Santo — Nossa Senhora ocupará um papel centralíssimo em toda a vida das sociedades religiosa e temporal, exercendo um império especial sobre as almas; assim, verificar-se-á um esplêndido reflorescimento da Santa Igreja e da civilização cristã. A mensagem de Fátima é uma magnífica promessa de realização dessa visão profética ainda em nossos dias.
20. Em maio de 1936, o Episcopado Português reunido em Fátima fez o voto de voltar lá em assembléia plenária, se o seu país ficasse livre do perigo vermelho tão temerosamente próximo (a revolução comunista na Espanha poderia facilmente alastrar-se para o país vizinho). Conjurado inesperadamente esse perigo, os Bispos de Portugal voltam à Cova da Iria no dia 13 de maio de 1938 e cumprem a sua promessa, realizando uma solene cerimônia de ação de graças por aquilo que explicitamente reconheciam como miraculosa proteção da Santíssima Virgem à sua pátria. Na mesma ocasião renovaram a consagração da nação portuguesa ao Imaculado Coração de Maria, feita sete anos antes (cfr. Pe. Moreira das Neves, As grandes jornadas de Fátima, in Fátima, altar do mundo, vol. II, pp. 249-257).
Em atenção a essa consagração, Nosso Senhor prometeu uma proteção especial a Portugal durante a Segunda Guerra Mundial acrescentando que esta proteção seria a prova das graças que concederia às outras nações se, como Portugal, lhe tivessem sido consagradas (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pp. 436 e 438).
Estas graças concedidas a Portugal nas décadas de 30 e 40 não significavam, entretanto, que o perigo vermelho e o castigo das guerras estivessem definitivamente afastados desse país, como aliás se depreende do que em seguida se lê na carta de 18 de agosto de 1940 ao Pe. Gonçalves, e em outras que se encontram no livro Memórias e Cartas da Irmã Lúcia (cfr. pp. 438, 440 e 442), bem como das visões de Jacinta que relatamos no Capítulo III deste trabalho.
20. Em maio de 1936, o Episcopado Português reunido em Fátima fez o voto de voltar lá em assembléia plenária, se o seu país ficasse livre do perigo vermelho tão temerosamente próximo (a revolução comunista na Espanha poderia facilmente alastrar-se para o país vizinho). Conjurado inesperadamente esse perigo, os Bispos de Portugal voltam à Cova da Iria no dia 13 de maio de 1938 e cumprem a sua promessa, realizando uma solene cerimônia de ação de graças por aquilo que explicitamente reconheciam como miraculosa proteção da Santíssima Virgem à sua pátria. Na mesma ocasião renovaram a consagração da nação portuguesa ao Imaculado Coração de Maria, feita sete anos antes (cfr. Pe. Moreira das Neves, As grandes jornadas de Fátima, in Fátima, altar do mundo, vol. II, pp. 249-257).
Em atenção a essa consagração, Nosso Senhor prometeu uma proteção especial a Portugal durante a Segunda Guerra Mundial acrescentando que esta proteção seria a prova das graças que concederia às outras nações se, como Portugal, lhe tivessem sido consagradas (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pp. 436 e 438).
Estas graças concedidas a Portugal nas décadas de 30 e 40 não significavam, entretanto, que o perigo vermelho e o castigo das guerras estivessem definitivamente afastados desse país, como aliás se depreende do que em seguida se lê na carta de 18 de agosto de 1940 ao Pe. Gonçalves, e em outras que se encontram no livro Memórias e Cartas da Irmã Lúcia (cfr. pp. 438, 440 e 442), bem como das visões de Jacinta que relatamos no Capítulo III deste trabalho.
Essa gente, de que me fala, tem razão de estar assustada. Tudo isso nos aconteceria, se os nossos Prelados não tivessem atendido aos pedidos do nosso bom Deus, e implorado tanto de coração a sua Misericórdia e a proteção do Imaculado Coração da nossa boa Mãe do Céu. Mas na nossa Pátria há ainda muitos crimes e pecados; e como agora é a hora da Justiça de Deus sobre o mundo, é preciso que se continue a orar. Por isso, eu achava bem que incutissem nas pessoas, a par duma grande confiança na Misericórdia do nosso bom Deus e na proteção do Imaculado Coração de Maria, a necessidade da oração, acompanhada do sacrifício, sobretudo daquele que é preciso fazer para evitar o pecado” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 426).
Em carta datada de 2 de dezembro de 1940, a Irmã Lúcia dirigiu-se diretamente ao Papa Pio XII, por ordem de seus diretores espirituais, pedindo que Sua Santidade se dignasse abençoar a devoção dos Primeiros Sábados e estendê-la por todo o mundo, acrescentando:
“Em 1929, Nossa Senhora, por meio de outra aparição, pediu a consagração da Rússia a seu Imaculado Coração, prometendo, por este meio, impedir a propagação de seus erros, e a sua conversão.
Em carta datada de 2 de dezembro de 1940, a Irmã Lúcia dirigiu-se diretamente ao Papa Pio XII, por ordem de seus diretores espirituais, pedindo que Sua Santidade se dignasse abençoar a devoção dos Primeiros Sábados e estendê-la por todo o mundo, acrescentando:
“Em 1929, Nossa Senhora, por meio de outra aparição, pediu a consagração da Rússia a seu Imaculado Coração, prometendo, por este meio, impedir a propagação de seus erros, e a sua conversão.
[...] Em várias comunicações íntimas Nosso Senhor não tem deixado de insistir neste pedido, prometendo ultimamente, se Vossa Santidade se digna fazer a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, com menção especial pela Rússia, e ordenar que, em união com Vossa Santidade e ao mesmo tempo, a façam também todos os Bispos do mundo, abreviar os dias de tribulação com que tem determinado punir as nações de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de várias perseguições à Santa Igreja e a Vossa Santidade” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 436; De Marchi, p. 312; Galamba de Oliveira, p. 153).
A resposta dos Papas ao pedido de consagração
No dia 31 de outubro de 1942, em Radiomensagem a Portugal por ocasião do encerramento do ano jubilar das aparições de Fátima, Pio XII consagrou a Igreja e o gênero humano ao Imaculado Coração de Maria.
Em 1943, a Irmã Lúcia teve outra revelação de Nosso Senhor, que ela assim relata em carta ao Pe. Gonçalves, no dia 4 de maio daquele ano: “Tive, por ordem de Sua Excia. Revma. [o Bispo titular de Gurza, D. Manuel Maria Ferreira da Silva], que manifestar, ao Sr. Arcebispo de Valladolid, um recado de Nosso Senhor para os Senhores Bispos cá de Espanha, e outro aos de Portugal. Deus queira que todos ouçam a voz do bom Deus. Deseja que os de Espanha se reúnam em retiro e determinem uma reforma no povo, clero e ordens religiosas; que alguns conventos!... e muitos membros de outros!... entende? Deseja que se faça compreender às almas que a verdadeira penitência que Ele agora quer e exige consiste, antes de tudo, no sacrifício que cada um tem de se impor para cumprir com os próprios deveres religiosos e materiais. Promete o fim da guerra para breve, em atenção ao ato que se dignou fazer Sua Santidade. Mas como ele foi incompleto, fica a conversão da Rússia para mais adiante. Se os Srs. Bispos da Espanha não atenderem aos seus desejos, ela será mais uma vez ainda o açoite com que Deus os pune” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 446).
Em 7 de julho de 1952, por meio da Carta Apostólica Sacro Vergente Anno, Pio XII consagrou os povos da Rússia ao Puríssimo Coração de Maria (ver o texto em Catolicismo, nº 21, de setembro de 1952).
Por ocasião do II Concílio Ecumênico do Vaticano, 510 Arcebispos e Bispos de 78 países subscreveram uma petição na qual rogam ao Vigário de Cristo que consagre ao Imaculado Coração o mundo todo e de modo especial e explícito a Rússia e as demais nações dominadas pelo comunismo, ordenando que, em união com ele e no mesmo dia, o façam todos os Bispos do orbe católico. O documento foi apresentado pessoalmente ao Santo Padre Paulo VI, pelo Arcebispo de Diamantina, D. Geraldo de Proença Sigaud, em audiência particular de 3 de fevereiro de 1964 (ver a íntegra do documento no nº 159 de Catolicismo, de março de 1964).
O Papa Paulo VI, ao encerrar a III Sessão do Concílio Vaticano II, no dia 21 de novembro de 1964, “confiou o gênero humano” ao Imaculado Coração de Maria, no mesmo ato em que, aplaudido de pé pelos Padres Conciliares, proclamou Nossa Senhora Mater Ecclesiae (cfr. Insegnamenti di Paolo VI, vol. II, 1964, p. 678).
João Paulo II fez duas consagrações do mundo ao Imaculado Coração de Maria, uma em Fátima, no dia 13 de maio de 1982, e outra em Roma, em 25 de março de 1984. Ambas as consagrações foram precedidas de um convite do Pontífice aos Bispos para se unirem a ele nesses atos. Não há, porém, dados positivos para avaliar até que ponto os Bispos do mundo inteiro realizaram a Consagração em união com o Papa, nem em 1982, nem em 1984. Em nenhuma das duas, também, a Rússia foi mencionada nominalmente.< Assim, a Irmã Lúcia sempre sustentou, até meados de 1989, que nenhuma das consagrações mencionadas tinha sido “válida” (tomada esta palavra no sentido de atendimento dos requisitos manifestados por Nossa Senhora à vidente). Para citar apenas um documento de maior peso, em entrevista que a vidente concedeu à revista do Exército Azul da Espanha, Sol de Fátima, em 1985, ela afirma:
“[Pergunta] — João Paulo II convidou todos os Bispos a se associarem à consagração da Rússia que ele efetuaria em Fátima no dia 13 de maio de 1982 e que repetiu no final do Ano Santo, em 25 de março de 1984 em Roma, diante da Imagem autêntica de Fátima. Não foi feito o que [Nossa Senhora] pediu em Tuy?
“[Resposta] — Não houve a participação de todos os Bispos nem foi mencionada a Rússia.
“[Pergunta] — De modo que não se fez a consagração conforme pediu a Santíssima Virgem?
“[Resposta] — Não. Muitos Bispos não deram importância a este ato” (Sol de Fátima, Madrid, nº 103, setembro-outubro de 1985, p. 8).
A partir de meados de 1989, entretanto, a Irmã Lúcia passou a reconhecer a validade da Consagração feita pelo Papa João Paulo II em 25 de março de 1984. Assim, por exemplo, na Apresentação do opúsculo A Mensagem de Fátima, Mons. Bertone cita uma carta da vidente de 8 de novembro de 1989, na qual ela afirma categoricamente: “Sim, [a consagração] está feita tal como Nossa Senhora a pediu, desde o dia 25 de março de 1984” (op. cit, p. 8). E no colóquio com a vidente em 17 de novembro de 2001, no Carmelo de Coimbra, a uma interpelação do mesmo Mons. Bertone, ela responde: “Já disse que a consagração desejada por Nossa Senhora foi feita em 1984, e foi aceita no Céu” (Boletim da Sala Stampa do Vaticano de 20-12-2001). Seria bem o momento de perguntar se a expressão “foi aceita no Céu” correspondia a uma dedução pessoal da vidente, ou a alguma iluminação sobrenatural. Esse ponto, entretanto, ficou sem esclarecimento
Uma tão brusca mudança de posição da Irmã Lúcia deixou perplexos os peritos, aderindo uns à nova posição, preferindo outros ater-se aos seus pronunciamentos anteriores.
O assunto é por demais complexo e extenso para o elucidarmos aqui. Bastaria de momento observar que, ao pronunciar-se sobre o eventual relacionamento dessa Consagração com os espetaculares acontecimentos ocorridos no Leste europeu, com o aparente desmoronamento do comunismo, principalmente no segundo semestre de 1989 — relacionamento esse que parece estar na raiz da mudança de posição da vidente — sempre se entendeu que a Irmã Lúcia estava emitindo uma opinião particular, e não transmitindo uma revelação sobrenatural.
Não obstante, interpelado por um jornalista, em 2004, se a “Irmã Lúcia viu Nossa Senhora outras vezes, depois das famosas aparições de 1917”, o Cardeal Bertone, já arcebispo de Gênova, respondeu afirmativamente, dando como exemplo “uma aparição na qual Nossa Senhora lhe manifestou ter acolhido de bom grado a consagração feita [em 1984] por João Paulo II, do mundo e da Rússia, ao seu Coração Imaculado” (cfr. Giuseppe de Carli, Eminenza, mi permette?, Piemme, 2004, p. 128).
Nos relatos dos colóquios que Mons. Bertone teve com a Irmã Lúcia, em 27 de abril de 2000, e depois em 17 de novembro de 2001, não consta nenhuma referência à mencionada aparição, apesar de esses relatos terem sido circunstanciados e cuidadosos (cfr. A Mensagem de Fátima, pp. 27-28; Boletim da Sala Stampa da Santa Sé de 20 de dezembro de 2001). Ora, seria normal que uma informação tão fundamental para a completa elucidação do assunto — como uma aparição de Nossa Senhora à Irmã Lúcia — constasse, com todos os pormenores (data, lugar e circunstâncias em que se deu etc.), nos referidos relatos. Considerado o empenho que a Santa Sé põe em que cessem as petições procedentes de diversas partes do mundo visando uma formal consagração da Rússia, seria de toda conveniência que esse dado decisivo fosse previamente esclarecido junto a Sua Eminência, que atualmente ocupa um dos postos mais elevados na hierarquia da Igreja, como é o cargo de Secretário de Estado. Fazemos votos de que isso seja reverentemente feito, por quem de direito, no momento adequado.
Em 1943, a Irmã Lúcia teve outra revelação de Nosso Senhor, que ela assim relata em carta ao Pe. Gonçalves, no dia 4 de maio daquele ano: “Tive, por ordem de Sua Excia. Revma. [o Bispo titular de Gurza, D. Manuel Maria Ferreira da Silva], que manifestar, ao Sr. Arcebispo de Valladolid, um recado de Nosso Senhor para os Senhores Bispos cá de Espanha, e outro aos de Portugal. Deus queira que todos ouçam a voz do bom Deus. Deseja que os de Espanha se reúnam em retiro e determinem uma reforma no povo, clero e ordens religiosas; que alguns conventos!... e muitos membros de outros!... entende? Deseja que se faça compreender às almas que a verdadeira penitência que Ele agora quer e exige consiste, antes de tudo, no sacrifício que cada um tem de se impor para cumprir com os próprios deveres religiosos e materiais. Promete o fim da guerra para breve, em atenção ao ato que se dignou fazer Sua Santidade. Mas como ele foi incompleto, fica a conversão da Rússia para mais adiante. Se os Srs. Bispos da Espanha não atenderem aos seus desejos, ela será mais uma vez ainda o açoite com que Deus os pune” (cfr. Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 446).
Em 7 de julho de 1952, por meio da Carta Apostólica Sacro Vergente Anno, Pio XII consagrou os povos da Rússia ao Puríssimo Coração de Maria (ver o texto em Catolicismo, nº 21, de setembro de 1952).
Por ocasião do II Concílio Ecumênico do Vaticano, 510 Arcebispos e Bispos de 78 países subscreveram uma petição na qual rogam ao Vigário de Cristo que consagre ao Imaculado Coração o mundo todo e de modo especial e explícito a Rússia e as demais nações dominadas pelo comunismo, ordenando que, em união com ele e no mesmo dia, o façam todos os Bispos do orbe católico. O documento foi apresentado pessoalmente ao Santo Padre Paulo VI, pelo Arcebispo de Diamantina, D. Geraldo de Proença Sigaud, em audiência particular de 3 de fevereiro de 1964 (ver a íntegra do documento no nº 159 de Catolicismo, de março de 1964).
O Papa Paulo VI, ao encerrar a III Sessão do Concílio Vaticano II, no dia 21 de novembro de 1964, “confiou o gênero humano” ao Imaculado Coração de Maria, no mesmo ato em que, aplaudido de pé pelos Padres Conciliares, proclamou Nossa Senhora Mater Ecclesiae (cfr. Insegnamenti di Paolo VI, vol. II, 1964, p. 678).
João Paulo II fez duas consagrações do mundo ao Imaculado Coração de Maria, uma em Fátima, no dia 13 de maio de 1982, e outra em Roma, em 25 de março de 1984. Ambas as consagrações foram precedidas de um convite do Pontífice aos Bispos para se unirem a ele nesses atos. Não há, porém, dados positivos para avaliar até que ponto os Bispos do mundo inteiro realizaram a Consagração em união com o Papa, nem em 1982, nem em 1984. Em nenhuma das duas, também, a Rússia foi mencionada nominalmente.< Assim, a Irmã Lúcia sempre sustentou, até meados de 1989, que nenhuma das consagrações mencionadas tinha sido “válida” (tomada esta palavra no sentido de atendimento dos requisitos manifestados por Nossa Senhora à vidente). Para citar apenas um documento de maior peso, em entrevista que a vidente concedeu à revista do Exército Azul da Espanha, Sol de Fátima, em 1985, ela afirma:
“[Pergunta] — João Paulo II convidou todos os Bispos a se associarem à consagração da Rússia que ele efetuaria em Fátima no dia 13 de maio de 1982 e que repetiu no final do Ano Santo, em 25 de março de 1984 em Roma, diante da Imagem autêntica de Fátima. Não foi feito o que [Nossa Senhora] pediu em Tuy?
“[Resposta] — Não houve a participação de todos os Bispos nem foi mencionada a Rússia.
“[Pergunta] — De modo que não se fez a consagração conforme pediu a Santíssima Virgem?
“[Resposta] — Não. Muitos Bispos não deram importância a este ato” (Sol de Fátima, Madrid, nº 103, setembro-outubro de 1985, p. 8).
A partir de meados de 1989, entretanto, a Irmã Lúcia passou a reconhecer a validade da Consagração feita pelo Papa João Paulo II em 25 de março de 1984. Assim, por exemplo, na Apresentação do opúsculo A Mensagem de Fátima, Mons. Bertone cita uma carta da vidente de 8 de novembro de 1989, na qual ela afirma categoricamente: “Sim, [a consagração] está feita tal como Nossa Senhora a pediu, desde o dia 25 de março de 1984” (op. cit, p. 8). E no colóquio com a vidente em 17 de novembro de 2001, no Carmelo de Coimbra, a uma interpelação do mesmo Mons. Bertone, ela responde: “Já disse que a consagração desejada por Nossa Senhora foi feita em 1984, e foi aceita no Céu” (Boletim da Sala Stampa do Vaticano de 20-12-2001). Seria bem o momento de perguntar se a expressão “foi aceita no Céu” correspondia a uma dedução pessoal da vidente, ou a alguma iluminação sobrenatural. Esse ponto, entretanto, ficou sem esclarecimento
Uma tão brusca mudança de posição da Irmã Lúcia deixou perplexos os peritos, aderindo uns à nova posição, preferindo outros ater-se aos seus pronunciamentos anteriores.
O assunto é por demais complexo e extenso para o elucidarmos aqui. Bastaria de momento observar que, ao pronunciar-se sobre o eventual relacionamento dessa Consagração com os espetaculares acontecimentos ocorridos no Leste europeu, com o aparente desmoronamento do comunismo, principalmente no segundo semestre de 1989 — relacionamento esse que parece estar na raiz da mudança de posição da vidente — sempre se entendeu que a Irmã Lúcia estava emitindo uma opinião particular, e não transmitindo uma revelação sobrenatural.
Não obstante, interpelado por um jornalista, em 2004, se a “Irmã Lúcia viu Nossa Senhora outras vezes, depois das famosas aparições de 1917”, o Cardeal Bertone, já arcebispo de Gênova, respondeu afirmativamente, dando como exemplo “uma aparição na qual Nossa Senhora lhe manifestou ter acolhido de bom grado a consagração feita [em 1984] por João Paulo II, do mundo e da Rússia, ao seu Coração Imaculado” (cfr. Giuseppe de Carli, Eminenza, mi permette?, Piemme, 2004, p. 128).
Nos relatos dos colóquios que Mons. Bertone teve com a Irmã Lúcia, em 27 de abril de 2000, e depois em 17 de novembro de 2001, não consta nenhuma referência à mencionada aparição, apesar de esses relatos terem sido circunstanciados e cuidadosos (cfr. A Mensagem de Fátima, pp. 27-28; Boletim da Sala Stampa da Santa Sé de 20 de dezembro de 2001). Ora, seria normal que uma informação tão fundamental para a completa elucidação do assunto — como uma aparição de Nossa Senhora à Irmã Lúcia — constasse, com todos os pormenores (data, lugar e circunstâncias em que se deu etc.), nos referidos relatos. Considerado o empenho que a Santa Sé põe em que cessem as petições procedentes de diversas partes do mundo visando uma formal consagração da Rússia, seria de toda conveniência que esse dado decisivo fosse previamente esclarecido junto a Sua Eminência, que atualmente ocupa um dos postos mais elevados na hierarquia da Igreja, como é o cargo de Secretário de Estado. Fazemos votos de que isso seja reverentemente feito, por quem de direito, no momento adequado.
As exéquias da Irmã Lúcia comoveram o mundo
No dia 13 de fevereiro de 2005, Nossa Senhora chamou a Si a Irmã Lúcia, aos 97 anos de idade (completaria 98 no dia 22 de março seguinte). A notícia comoveu o mundo e fez afluir uma multidão incalculável ao Carmelo de Coimbra, o que representava uma espera de mais de três horas para desfilar diante dos despojos mortais da vidente.
O fato era cheio de significado: a última testemunha das aparições encerrava sua missão neste mundo. Um fiel exprimiu o sentimento geral com as seguintes palavras: “Agora eu me sinto só. É como se uma proteção que eu tinha tivesse desaparecido. Eu sinto necessidade de rezar pelo mundo” (apud Luis Dufaur, A morte da Irmã Lúcia e as profecias de Fátima, in Catolicismo, São Paulo, nº 651, março de 2005, p. 22).
O acontecimento pôs em foco, mais uma vez, a Mensagem de Fátima, cuja atualidade está longe de se extinguir, posto que os prognósticos nela contidos sobre o futuro da humanidade ainda estão em grande parte por se realizar, conforme mostramos detidamente ao longo deste trabalho.
As exéquias se realizaram no próprio Carmelo de Coimbra, onde foi provisoriamente inumada.
No ano seguinte, no dia 19 de fevereiro de 2006, cem mil peregrinos de todas as partes de Portugal e de pelo menos doze países acompanharam comovidos a cerimônia de trasladação dos restos mortais da vidente para a Basílica de Fátima. Ali, de há muito lhe estava preparado um lugar, no lado esquerdo do transepto, alinhado com a sepultura da Beata Jacinta. Simetricamente, do outro lado do transepto, repousam os restos mortais do Beato Francisco.
Como a dos dois outros videntes, a lápide da Irmã Lúcia diz, singelamente: “Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado / A quem Nossa Senhora apareceu”.
O fato era cheio de significado: a última testemunha das aparições encerrava sua missão neste mundo. Um fiel exprimiu o sentimento geral com as seguintes palavras: “Agora eu me sinto só. É como se uma proteção que eu tinha tivesse desaparecido. Eu sinto necessidade de rezar pelo mundo” (apud Luis Dufaur, A morte da Irmã Lúcia e as profecias de Fátima, in Catolicismo, São Paulo, nº 651, março de 2005, p. 22).
O acontecimento pôs em foco, mais uma vez, a Mensagem de Fátima, cuja atualidade está longe de se extinguir, posto que os prognósticos nela contidos sobre o futuro da humanidade ainda estão em grande parte por se realizar, conforme mostramos detidamente ao longo deste trabalho.
As exéquias se realizaram no próprio Carmelo de Coimbra, onde foi provisoriamente inumada.
No ano seguinte, no dia 19 de fevereiro de 2006, cem mil peregrinos de todas as partes de Portugal e de pelo menos doze países acompanharam comovidos a cerimônia de trasladação dos restos mortais da vidente para a Basílica de Fátima. Ali, de há muito lhe estava preparado um lugar, no lado esquerdo do transepto, alinhado com a sepultura da Beata Jacinta. Simetricamente, do outro lado do transepto, repousam os restos mortais do Beato Francisco.
Como a dos dois outros videntes, a lápide da Irmã Lúcia diz, singelamente: “Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado / A quem Nossa Senhora apareceu”.
[Apêndice I]
Apêndice I
Consulta sobre a terceira parte do Segredo apresentada à Congregação para a Doutrina da Fé
I — Carta do autor a Mons. Tarcisio Bertone
Em 25 de setembro de 2001, o autor dirigiu ao Exmo. Revmo. Mons. Tarcisio Bertone SDB, DD. Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, a seguinte carta:
É conhecida em todo o orbe católico a destacada participação de V. Exa. nos episódios que culminaram na histórica sessão de 26 de junho do ano passado, em que a Congregação para a Doutrina da Fé, por determinação de S. S. João Paulo II, comunicou ao mundo a terceira parte do Segredo de Fátima, até então não revelada.
V. Exa. não só teve participação relevante nessa sessão, como foi incumbido pessoalmente pelo Santo Padre de esclarecer pessoalmente com a Irmã Lucia certos pontos relativos à Mensagem de Fátima indispensáveis para que a tão esperada revelação se fizesse com toda a objetividade necessária. Os católicos de todo o mundo são gratos a V. Exa. pela seriedade e competência com que V. Exa. se desincumbiu dessa delicada missão.
Assim pareceu-me justo e proficiente que eu encaminhasse a V. Exa. a consulta anexa, como a pessoa certa para obter e fornecer os esclarecimentos aí pedidos.
É certamente de conhecimento de V. Exa. que algumas pessoas, baseando-se em um ou outro ponto não esclarecido da Mensagem de Fátima, levantam certas perguntas, algumas pertinentes, outras não, e com isso o efeito salutar que a revelação do Segredo deveria causar acaba sendo prejudicado. Daí a minha esperança de que, esclarecidos esses pontos — alguns deles de natureza quase acadêmica — o burburinho em torno do assunto pudesse cessar. Ou, pelo menos, daria condições para que os estudiosos de Fátima mostrassem ao grande público quanto essas especulações têm de improcedente.
Deposito, pois, com filial respeito e confiança, nas mãos de V. Exa. a consulta anexa, cujos considerandos me parece que são suficientemente explicativos do alcance das perguntas feitas.
Desde já grato pela atenção que V. Exa. der à presente, subscrevo-me devotadamente
Assim pareceu-me justo e proficiente que eu encaminhasse a V. Exa. a consulta anexa, como a pessoa certa para obter e fornecer os esclarecimentos aí pedidos.
É certamente de conhecimento de V. Exa. que algumas pessoas, baseando-se em um ou outro ponto não esclarecido da Mensagem de Fátima, levantam certas perguntas, algumas pertinentes, outras não, e com isso o efeito salutar que a revelação do Segredo deveria causar acaba sendo prejudicado. Daí a minha esperança de que, esclarecidos esses pontos — alguns deles de natureza quase acadêmica — o burburinho em torno do assunto pudesse cessar. Ou, pelo menos, daria condições para que os estudiosos de Fátima mostrassem ao grande público quanto essas especulações têm de improcedente.
Deposito, pois, com filial respeito e confiança, nas mãos de V. Exa. a consulta anexa, cujos considerandos me parece que são suficientemente explicativos do alcance das perguntas feitas.
Desde já grato pela atenção que V. Exa. der à presente, subscrevo-me devotadamente
In Jesu et Maria
Antonio Augusto Borelli Machado
Antonio Augusto Borelli Machado
II — Consulta sobre a terceira parte do Segredo
A inesperada e auspiciosa revelação da terceira parte do Segredo de Fátima no dia 26 de junho de 2000, determinada pelo Santo Padre — que incumbiu a Congregação para a Doutrina da Fé de tomar as providências necessárias — causou explicável exultação em ambientes católicos do mundo inteiro. Era natural que os fatimólogos, e até os simples devotos de Fátima, se debruçassem sobre o texto divulgado e lhe procurassem perscrutar o significado, para um mais profundo entendimento da Mensagem de Nossa Senhora e conseqüentemente um mais fiel e pressuroso cumprimento de suas prescrições e orientações.
A literatura sobre Fátima, já vastíssima até então, foi se enriquecendo assim de novas análises e comentários versando sobre a terceira parte do Segredo (ou simplesmente “terceiro Segredo”, como se acostumou a dizer), a começar obviamente pela interpretação que dela ofereceu a Congregação para a Doutrina da Fé. Esta mesma interpretação, por sua vez, tem sido objeto de análises minuciosas, embora, ao que parece, os comentaristas nem sempre distingam bem a interpretação em si, feita pela Congregação vaticana, do objeto da referida interpretação, que deve ser e permanecer o fim primário da investigação, isto é, o texto da Irma Lúcia que descreve a visão profética em que consiste essencialmente o “terceiro Segredo”.
A terceira parte do Segredo constitui, pois, a pedra de fecho da Mensagem de Fátima, que assim se apresenta como um todo coerente e completo em suas linhas essenciais, oferecido à humanidade de nossos dias como solução cabal para os problemas que nos afligem.
É mais do que legítimo, portanto, que os estudiosos da Mensagem de Fátima se esforcem por discernir e explicar essa coerência e inteireza.
A testemunha por excelência das aparições é a vidente supérstite, isto é, a Irmã Lúcia, à qual todos os devotos e estudiosos de Fátima se referem com a máxima veneração e reverência, como privilegiada confidente da Virgem. Nela, sempre chamou a atenção a fidelíssima memória, sem dúvida enriquecida e protegida com os dons do Espírito Santo, a fim de que ela se tornasse a confiável guardiã da Mensagem.
Ora, debruçando-se com essa máxima veneração e reverência sobre os textos da Irmã Lúcia, os estudiosos se deram conta de que, com a revelação do terceiro Segredo, alguns pontos não ficaram inteiramente claros, necessitando um esclarecimento. É o objeto da presente consulta, que respeitosamente submetemos à Congregação para a Doutrina da Fé, para que ela dê o encaminhamento que julgar conveniente.
A literatura sobre Fátima, já vastíssima até então, foi se enriquecendo assim de novas análises e comentários versando sobre a terceira parte do Segredo (ou simplesmente “terceiro Segredo”, como se acostumou a dizer), a começar obviamente pela interpretação que dela ofereceu a Congregação para a Doutrina da Fé. Esta mesma interpretação, por sua vez, tem sido objeto de análises minuciosas, embora, ao que parece, os comentaristas nem sempre distingam bem a interpretação em si, feita pela Congregação vaticana, do objeto da referida interpretação, que deve ser e permanecer o fim primário da investigação, isto é, o texto da Irma Lúcia que descreve a visão profética em que consiste essencialmente o “terceiro Segredo”.
A terceira parte do Segredo constitui, pois, a pedra de fecho da Mensagem de Fátima, que assim se apresenta como um todo coerente e completo em suas linhas essenciais, oferecido à humanidade de nossos dias como solução cabal para os problemas que nos afligem.
É mais do que legítimo, portanto, que os estudiosos da Mensagem de Fátima se esforcem por discernir e explicar essa coerência e inteireza.
A testemunha por excelência das aparições é a vidente supérstite, isto é, a Irmã Lúcia, à qual todos os devotos e estudiosos de Fátima se referem com a máxima veneração e reverência, como privilegiada confidente da Virgem. Nela, sempre chamou a atenção a fidelíssima memória, sem dúvida enriquecida e protegida com os dons do Espírito Santo, a fim de que ela se tornasse a confiável guardiã da Mensagem.
Ora, debruçando-se com essa máxima veneração e reverência sobre os textos da Irmã Lúcia, os estudiosos se deram conta de que, com a revelação do terceiro Segredo, alguns pontos não ficaram inteiramente claros, necessitando um esclarecimento. É o objeto da presente consulta, que respeitosamente submetemos à Congregação para a Doutrina da Fé, para que ela dê o encaminhamento que julgar conveniente.
Onde se encaixa a terceira parte do Segredo?
1. Ao terminar a narração do segundo Segredo, a Irmã Lúcia põe nos lábios de Nossa Senhora as seguintes palavras: “Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco, sim, podeis dizê-lo”. — Esta frase foi dita por Nossa Senhora antes ou depois da visão que constitui o terceiro Segredo?
Qual o significado da omissão, na III Memória, da frase conclusiva do segundo Segredo?
2. A frase conclusiva do segundo Segredo — “Em Portugal se conservará sempre o Dogma da Fé” — aparece na IV Memória da Irmã Lúcia, porém não na III Memória.
É sabido que os videntes são freqüentemente favorecidos com um regime especial de graças e inspirações do Espírito Santo, seja para o bem da Igreja, seja para o próprio bem espiritual. Assim, por exemplo, Nossa Senhora permitiu que Santa Bernadette, já no convento de Nevers, em determinado momento perdesse toda lembrança das aparições, a ponto de duvidar se as teria tido realmente, e portanto se não enganara o mundo todo com suas declarações! Felizmente foi uma provação passageira, mas que os historiadores de Lourdes registram. Com Santa Catarina Labouré ocorreu também um fenômeno curioso: seu confessor, ao tomar providências para a cunhagem da medalha que viria a chamar-se “milagrosa”, quis saber exatamente o que colocar no verso. E pediu à vidente que fizesse uma nova descrição completa da medalha. A vidente mandou lhe dizer que no momento só se lembrava do que constava no verso... O fato impressionou muito o confessor, que duvidava da realidade das aparições.
Isto posto, podem colocar-se duas questões:
(a) Com a Irmã Lúcia não se teria passado um fenômeno espiritual semelhante, ao omitir na III Memória a frase que depois incluiu na IV Memória? (b) Que significado atribuir a essa omissão?
É sabido que os videntes são freqüentemente favorecidos com um regime especial de graças e inspirações do Espírito Santo, seja para o bem da Igreja, seja para o próprio bem espiritual. Assim, por exemplo, Nossa Senhora permitiu que Santa Bernadette, já no convento de Nevers, em determinado momento perdesse toda lembrança das aparições, a ponto de duvidar se as teria tido realmente, e portanto se não enganara o mundo todo com suas declarações! Felizmente foi uma provação passageira, mas que os historiadores de Lourdes registram. Com Santa Catarina Labouré ocorreu também um fenômeno curioso: seu confessor, ao tomar providências para a cunhagem da medalha que viria a chamar-se “milagrosa”, quis saber exatamente o que colocar no verso. E pediu à vidente que fizesse uma nova descrição completa da medalha. A vidente mandou lhe dizer que no momento só se lembrava do que constava no verso... O fato impressionou muito o confessor, que duvidava da realidade das aparições.
Isto posto, podem colocar-se duas questões:
(a) Com a Irmã Lúcia não se teria passado um fenômeno espiritual semelhante, ao omitir na III Memória a frase que depois incluiu na IV Memória? (b) Que significado atribuir a essa omissão?
O que a Irmã Lúcia quis precisamente significar com o “etc. ...” que colocou na IV Memória?
3. É bem conhecido que a frase acrescentada na IV Memória terminava com um “etc. ...”, que poderia talvez significar duas coisas: (a) que nesse ponto da narrativa se inseria o terceiro Segredo; ou (b) que a frase continuava com uma explanação que se relacionava com o terceiro Segredo. Nas duas hipóteses, a Irmã Lúcia estava vinculada ao segredo que deveria manter sobre a terceira parte, que não estava então autorizada a divulgar. Qual das duas hipóteses explica o “etc. ...” colocado pela Irmã Lúcia? Ou haveria uma terceira hipótese que não nos ocorre?
Observações sobre o resultado da Consulta
1. Não tendo sido possível obter um esclarecimento cabal da Consulta acima em vida da Irmã Lúcia, conforme relatamos no local oportuno (cfr. Capítulo II, Comentários à segunda parte do Segredo), a historiografia de Fátima se ressentirá para sempre desta impreenchível lacuna. Resta aos estudiosos trabalhar com os documentos divulgados, a fim de apresentar a mensagem de Fátima da forma mais fidedigna possível.
2. O leitor terá notado que, na Consulta, fizemos seguir ao “etc.” o sinal gráfico de reticências [...], as quais entretanto não aparecem no fac-símile dos manuscritos da Irmã Lúcia (cfr. IV Memória, p. 340).
De onde surgiram, então, tais reticências? O Pe. Joaquín María Alonso CMF foi que as colocou no seu valioso estudo La verdad sobre el secreto de Fátima (p. 25). E no artigo De nuevo el secreto de Fátima (publicado na revista espanhola Ephemerides Mariologicae, Madrid, vol. XXXII, 1982, fasc. 1, p. 85) adverte explicitamente: “Atenção: o ‘etc. e as reticências’ são do próprio manuscrito”. O mesmo ele repete no livro Doctrina y espiritualidad del mensaje de Fátima (Arias Montano Editores, Madrid, 1990, p. 274).
Tratando-se de autoridade incontestável na matéria, pois fôra nomeado em 1966, pelo então Bispo de Leiria, D. João Pereira Venâncio, para “empreender a tão esperada história crítica de Fátima” (cfr. Documentação crítica de Fátima, vol. I, p. VII), trabalho a que se consagrou até sua morte em 1981, era de supor que ele tivesse em mãos o original dos manuscritos da Irmã Lúcia onde as referidas reticências estivessem visíveis. Sem o que não se compreende que ele fizesse uma afirmação tão categórica. Curiosamente, aliás, há um vazio no manuscrito, onde elas caberiam perfeitamente (precisamente entre as palavras “dogma da Fé etc.” e “Isto não o digais a ninguém”).
O fato é que, como foi dito, elas não aparecem nas reproduções impressas até aqui oferecidas ao público. Que teria acontecido? Ter-se-ia esvaecido a tinta do manuscrito, a ponto de elas se terem tornado invisíveis? É um fenômeno que acontece com freqüência em documentos antigos, seja devido à natureza da tinta, do papel, ou às condições de conservação do documento. Como a Congregação para a Doutrina da Fé não desceu a nenhum aspecto técnico sobre o estado de conservação dos manuscritos da Irmã Lúcia, esse importante detalhe fica, por enquanto, sem esclarecimento.
Ora, a existência dessas reticências não é irrelevante, pois reforçaria muito a idéia, introduzida pelo “etc.”, de que a frase “Em Portugal ...” fosse seguida de uma explanação, tanto mais quanto, sem essa seqüência, ela parece ficar suspensa no ar (cfr. Capítulo II, Comentários à segunda parte do Segredo).
Ao incluir as reticências na Consulta acima, tínhamos a esperança de que sua existência fosse deslindada, pois, ao ser interrogada sobre a frase em questão, a Irmã Lúcia talvez pudesse explicar porque as teria colocado. Não lhe tendo sido feita a pergunta, fica-se diante de mais uma dúvida — a existência ou não das reticências — que somente um estudo técnico do manuscrito poderia eventualmente dissipar.
3. Após o falecimento da Irmã Lúcia, o Carmelo de Coimbra editou o opúsculo Como vejo a Mensagem através dos tempos e dos acontecimentos, de autoria da Irmã Lúcia (edição conjunta do Carmelo de Coimbra e do Secretariado dos Pastorinhos, Coimbra, 2006, 63 pp.). Trata-se de comentários à Mensagem de Fátima que ela foi redigindo, a partir de 1983, por sugestão do Provincial Carmelita, Pe. Jeremias Carlos Vechina, na medida que o tempo lhe permitia, e que a vidente deixou inconclusos. Infelizmente não se sabe durante quanto tempo a vidente se consagrou a esse trabalho, e em que ano redigiu seus últimos comentários, os quais chegam apenas até a quarta aparição do ciclo de 1917.
No que diz respeito à presente Consulta, é digno de menção que, nesse opúsculo, a Irmã Lúcia confirma a frase final da segunda parte do Segredo — “Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé” — porém suprime o “etc.” que ela colocara na IV Memória (p. 340).
Esta confirmação e subseqüente supressão do “etc.” são significativas a dois títulos:
a) Tendo observado que a frase em questão existia na IV Memória e não na terceira, a Congregação para a Doutrina da Fé optou por reproduzir o fac-símile da III Memória, relegando para uma nota de pé de página a frase “Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc.”, com a observação de que fôra acrescentada na IV Memória (cfr. A Mensagem de Fátima, pp. 13-14, 16).
Relegada para uma nota, a frase podia parecer de menor importância
O fato de a Irmã Lúcia retomá-la no opúsculo Como vejo a Mensagem restabelece a sua importância como fecho da segunda parte do Segredo e justifica todos os comentários que os fatimólogos deduziram de seu rico conteúdo (cfr. Capítulo II deste trabalho, Comentários à segunda parte do Segredo).
b) Quanto à supressão do “etc.”, seu significado pode variar conforme tenha sido anterior ou posterior à divulgação da terceira parte do Segredo. Se anterior, a Irmã Lúcia estaria apenas continuando sua indefectível reserva a tudo que eventualmente se relacionasse com o terceiro Segredo. Se posterior, poderia indicar que à frase “Em Portugal ...” não se segue nenhuma explanação que lhe explicitasse o sentido e/ou constituísse uma conexão com a terceira parte.
Tal conclusão iria no sentido da categórica resposta que ela deu à indagação de Mons. Bertone, no importante colóquio de 17 de novembro de 2001: “A quem manifesta a dúvida de que tenha sido ocultada alguma coisa do ‘terceiro segredo’, [a Irmã Lúcia] responde: ‘Tudo foi publicado; não há mais segredo’” (Boletim da Sala Stampa, 20-12-2001).
Note-se bem que a Irmã Lúcia foi questionada a respeito do terceiro Segredo. Se bem que houve de fato quem levantasse a dúvida de estar ele incompleto, uma análise contextual só permitiria fazer uma conjectura do gênero em relação à frase final do segundo Segredo, conforme apontamos no tópico 3 de nossa Consulta, acima reproduzida. De qualquer modo, pode-se entender que a resposta da Irmã Lúcia — “Tudo foi publicado; não há mais segredo” — é abrangente, incluindo também o segundo Segredo. Neste caso, pareceria definitivamente afastada a hipótese de o Segredo estar incompleto em qualquer uma de suas partes.
Qualquer que seja a conclusão que se possa tirar destas considerações, a omissão da frase “Em Portugal ...” na III Memória, e a sua inclusão na IV Memória permanecerão para sempre um mistério inexplicável.< Tal o status quaestionis em que o falecimento da Irmã Lúcia deixa o assunto Fátima.
Quem se compenetrou da alta transcendência das matérias já reveladas e publicadas pôde perceber que há nelas preciosas diretrizes para orientar a atuação dos fiéis católicos num mundo secularizado e posto acintosamente de pé contra os preceitos do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Santa Igreja. Nos embates, por vezes dilacerantes, em que essa atuação implica, nunca devemos desanimar: o Coração Imaculado de Maria será o nosso refúgio e o caminho que nos conduzirá até Deus (cfr. Segunda aparição).
2. O leitor terá notado que, na Consulta, fizemos seguir ao “etc.” o sinal gráfico de reticências [...], as quais entretanto não aparecem no fac-símile dos manuscritos da Irmã Lúcia (cfr. IV Memória, p. 340).
De onde surgiram, então, tais reticências? O Pe. Joaquín María Alonso CMF foi que as colocou no seu valioso estudo La verdad sobre el secreto de Fátima (p. 25). E no artigo De nuevo el secreto de Fátima (publicado na revista espanhola Ephemerides Mariologicae, Madrid, vol. XXXII, 1982, fasc. 1, p. 85) adverte explicitamente: “Atenção: o ‘etc. e as reticências’ são do próprio manuscrito”. O mesmo ele repete no livro Doctrina y espiritualidad del mensaje de Fátima (Arias Montano Editores, Madrid, 1990, p. 274).
Tratando-se de autoridade incontestável na matéria, pois fôra nomeado em 1966, pelo então Bispo de Leiria, D. João Pereira Venâncio, para “empreender a tão esperada história crítica de Fátima” (cfr. Documentação crítica de Fátima, vol. I, p. VII), trabalho a que se consagrou até sua morte em 1981, era de supor que ele tivesse em mãos o original dos manuscritos da Irmã Lúcia onde as referidas reticências estivessem visíveis. Sem o que não se compreende que ele fizesse uma afirmação tão categórica. Curiosamente, aliás, há um vazio no manuscrito, onde elas caberiam perfeitamente (precisamente entre as palavras “dogma da Fé etc.” e “Isto não o digais a ninguém”).
O fato é que, como foi dito, elas não aparecem nas reproduções impressas até aqui oferecidas ao público. Que teria acontecido? Ter-se-ia esvaecido a tinta do manuscrito, a ponto de elas se terem tornado invisíveis? É um fenômeno que acontece com freqüência em documentos antigos, seja devido à natureza da tinta, do papel, ou às condições de conservação do documento. Como a Congregação para a Doutrina da Fé não desceu a nenhum aspecto técnico sobre o estado de conservação dos manuscritos da Irmã Lúcia, esse importante detalhe fica, por enquanto, sem esclarecimento.
Ora, a existência dessas reticências não é irrelevante, pois reforçaria muito a idéia, introduzida pelo “etc.”, de que a frase “Em Portugal ...” fosse seguida de uma explanação, tanto mais quanto, sem essa seqüência, ela parece ficar suspensa no ar (cfr. Capítulo II, Comentários à segunda parte do Segredo).
Ao incluir as reticências na Consulta acima, tínhamos a esperança de que sua existência fosse deslindada, pois, ao ser interrogada sobre a frase em questão, a Irmã Lúcia talvez pudesse explicar porque as teria colocado. Não lhe tendo sido feita a pergunta, fica-se diante de mais uma dúvida — a existência ou não das reticências — que somente um estudo técnico do manuscrito poderia eventualmente dissipar.
3. Após o falecimento da Irmã Lúcia, o Carmelo de Coimbra editou o opúsculo Como vejo a Mensagem através dos tempos e dos acontecimentos, de autoria da Irmã Lúcia (edição conjunta do Carmelo de Coimbra e do Secretariado dos Pastorinhos, Coimbra, 2006, 63 pp.). Trata-se de comentários à Mensagem de Fátima que ela foi redigindo, a partir de 1983, por sugestão do Provincial Carmelita, Pe. Jeremias Carlos Vechina, na medida que o tempo lhe permitia, e que a vidente deixou inconclusos. Infelizmente não se sabe durante quanto tempo a vidente se consagrou a esse trabalho, e em que ano redigiu seus últimos comentários, os quais chegam apenas até a quarta aparição do ciclo de 1917.
No que diz respeito à presente Consulta, é digno de menção que, nesse opúsculo, a Irmã Lúcia confirma a frase final da segunda parte do Segredo — “Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé” — porém suprime o “etc.” que ela colocara na IV Memória (p. 340).
Esta confirmação e subseqüente supressão do “etc.” são significativas a dois títulos:
a) Tendo observado que a frase em questão existia na IV Memória e não na terceira, a Congregação para a Doutrina da Fé optou por reproduzir o fac-símile da III Memória, relegando para uma nota de pé de página a frase “Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc.”, com a observação de que fôra acrescentada na IV Memória (cfr. A Mensagem de Fátima, pp. 13-14, 16).
Relegada para uma nota, a frase podia parecer de menor importância
O fato de a Irmã Lúcia retomá-la no opúsculo Como vejo a Mensagem restabelece a sua importância como fecho da segunda parte do Segredo e justifica todos os comentários que os fatimólogos deduziram de seu rico conteúdo (cfr. Capítulo II deste trabalho, Comentários à segunda parte do Segredo).
b) Quanto à supressão do “etc.”, seu significado pode variar conforme tenha sido anterior ou posterior à divulgação da terceira parte do Segredo. Se anterior, a Irmã Lúcia estaria apenas continuando sua indefectível reserva a tudo que eventualmente se relacionasse com o terceiro Segredo. Se posterior, poderia indicar que à frase “Em Portugal ...” não se segue nenhuma explanação que lhe explicitasse o sentido e/ou constituísse uma conexão com a terceira parte.
Tal conclusão iria no sentido da categórica resposta que ela deu à indagação de Mons. Bertone, no importante colóquio de 17 de novembro de 2001: “A quem manifesta a dúvida de que tenha sido ocultada alguma coisa do ‘terceiro segredo’, [a Irmã Lúcia] responde: ‘Tudo foi publicado; não há mais segredo’” (Boletim da Sala Stampa, 20-12-2001).
Note-se bem que a Irmã Lúcia foi questionada a respeito do terceiro Segredo. Se bem que houve de fato quem levantasse a dúvida de estar ele incompleto, uma análise contextual só permitiria fazer uma conjectura do gênero em relação à frase final do segundo Segredo, conforme apontamos no tópico 3 de nossa Consulta, acima reproduzida. De qualquer modo, pode-se entender que a resposta da Irmã Lúcia — “Tudo foi publicado; não há mais segredo” — é abrangente, incluindo também o segundo Segredo. Neste caso, pareceria definitivamente afastada a hipótese de o Segredo estar incompleto em qualquer uma de suas partes.
Qualquer que seja a conclusão que se possa tirar destas considerações, a omissão da frase “Em Portugal ...” na III Memória, e a sua inclusão na IV Memória permanecerão para sempre um mistério inexplicável.< Tal o status quaestionis em que o falecimento da Irmã Lúcia deixa o assunto Fátima.
Quem se compenetrou da alta transcendência das matérias já reveladas e publicadas pôde perceber que há nelas preciosas diretrizes para orientar a atuação dos fiéis católicos num mundo secularizado e posto acintosamente de pé contra os preceitos do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Santa Igreja. Nos embates, por vezes dilacerantes, em que essa atuação implica, nunca devemos desanimar: o Coração Imaculado de Maria será o nosso refúgio e o caminho que nos conduzirá até Deus (cfr. Segunda aparição).
Apêndice II
Fátima: explicação e remédio da crise contemporânea
Plinio Corrêa de Oliveira
Publicado em Catolicismo, nº 29, maio de 1953, o presente artigo constitui uma autêntica glosa do terceiro Segredo, feita com mais de quatro décadas de antecedência. A esse título, são reproduzidos a seguir seus principais tópicos:
A sociedade humana apresentava na primeira parte deste século, isto é, até 1914, aspecto brilhante. O progresso era indiscutível em todos os terrenos. A vida econômica tinha alcançado uma prosperidade sem precedentes. A vida social era fácil e atraente. A humanidade parecia caminhar para a era de ouro.
Alguns sintomas graves, entretanto, destoavam das cores risonhas deste quadro. Havia misérias materiais e morais. Mas poucos eram os que mediam em toda a sua extensão a importância destes fatos. A grande maioria esperava que a ciência e o progresso resolvessem todos os problemas.
A primeira guerra mundial veio opor um desmentido terrível a estas perspectivas. Em todos os sentidos, as dificuldades se agravaram incessantemente até que, em 1939, sobreveio a segunda guerra mundial. E assim chegamos à condição presente, em que se pode dizer que não há sobre a terra uma só nação que não esteja a braços, em quase todos os campos, com crises gravíssimas.
Em outras palavras, se analisamos a vida interna de cada nação, notamos nela um estado de agitação, de desordem, de desbragamento de apetites e ambições, de subversão de valores, que se já não é a anarquia franca, em todo caso caminha para lá. Nenhum estadista de nossos dias soube ainda apresentar remédio que corte o passo a este processo mórbido de envergadura universal.
O elemento essencial das mensagens de Nossa Senhora e do Anjo de Portugal em Fátima, no ano de 1917, consiste exatamente em abrir os olhos dos homens para a gravidade dessa situação, em lhes ensinar sua explicação à luz dos planos da Providência Divina, e em indicar os meios necessários para evitar a catástrofe. É a própria História de nossa época e, mais do que isto, o seu futuro, que nos é ensinado pela Mãe de Deus.
O Império Romano do Ocidente se encerrou com um cataclismo iluminado e analisado pelo gênio de um grande Doutor, que foi Santo Agostinho. O ocaso da Idade Média foi previsto por um grande profeta, São Vicente Ferrer. A Revolução Francesa, que marca o fim dos Tempos Modernos, foi prevista por outro grande profeta, e ao mesmo tempo grande Doutor, São Luís Maria Grignion de Montfort. Os Tempos Contemporâneos, que parecem na iminência de se encerrar com nova crise, têm um privilégio maior. Veio Nossa Senhora falar aos homens.
Santo Agostinho não pôde senão explicar para a posteridade as causas da tragédia que presenciava. São Vicente Ferrer e São Luís Grignion de Montfort procuraram em vão desviar a tormenta: os homens não os quiseram ouvir. Nossa Senhora a um tempo explica os motivos da crise, e indica o seu remédio, profetizando a catástrofe caso os homens não a ouçam.
De todo ponto de vista, pela natureza do conteúdo como pela dignidade de quem as fez, as revelações de Fátima sobrepujam pois tudo quanto a Providência tem dito aos homens na iminência das grandes borrascas da História.
Os diversos pontos das revelações relativos a este tema constituem propriamente o elemento essencial das mensagens. O mais, por importante que seja, constitui mero complemento.
A sociedade humana apresentava na primeira parte deste século, isto é, até 1914, aspecto brilhante. O progresso era indiscutível em todos os terrenos. A vida econômica tinha alcançado uma prosperidade sem precedentes. A vida social era fácil e atraente. A humanidade parecia caminhar para a era de ouro.
Alguns sintomas graves, entretanto, destoavam das cores risonhas deste quadro. Havia misérias materiais e morais. Mas poucos eram os que mediam em toda a sua extensão a importância destes fatos. A grande maioria esperava que a ciência e o progresso resolvessem todos os problemas.
A primeira guerra mundial veio opor um desmentido terrível a estas perspectivas. Em todos os sentidos, as dificuldades se agravaram incessantemente até que, em 1939, sobreveio a segunda guerra mundial. E assim chegamos à condição presente, em que se pode dizer que não há sobre a terra uma só nação que não esteja a braços, em quase todos os campos, com crises gravíssimas.
Em outras palavras, se analisamos a vida interna de cada nação, notamos nela um estado de agitação, de desordem, de desbragamento de apetites e ambições, de subversão de valores, que se já não é a anarquia franca, em todo caso caminha para lá. Nenhum estadista de nossos dias soube ainda apresentar remédio que corte o passo a este processo mórbido de envergadura universal.
O elemento essencial das mensagens de Nossa Senhora e do Anjo de Portugal em Fátima, no ano de 1917, consiste exatamente em abrir os olhos dos homens para a gravidade dessa situação, em lhes ensinar sua explicação à luz dos planos da Providência Divina, e em indicar os meios necessários para evitar a catástrofe. É a própria História de nossa época e, mais do que isto, o seu futuro, que nos é ensinado pela Mãe de Deus.
O Império Romano do Ocidente se encerrou com um cataclismo iluminado e analisado pelo gênio de um grande Doutor, que foi Santo Agostinho. O ocaso da Idade Média foi previsto por um grande profeta, São Vicente Ferrer. A Revolução Francesa, que marca o fim dos Tempos Modernos, foi prevista por outro grande profeta, e ao mesmo tempo grande Doutor, São Luís Maria Grignion de Montfort. Os Tempos Contemporâneos, que parecem na iminência de se encerrar com nova crise, têm um privilégio maior. Veio Nossa Senhora falar aos homens.
Santo Agostinho não pôde senão explicar para a posteridade as causas da tragédia que presenciava. São Vicente Ferrer e São Luís Grignion de Montfort procuraram em vão desviar a tormenta: os homens não os quiseram ouvir. Nossa Senhora a um tempo explica os motivos da crise, e indica o seu remédio, profetizando a catástrofe caso os homens não a ouçam.
De todo ponto de vista, pela natureza do conteúdo como pela dignidade de quem as fez, as revelações de Fátima sobrepujam pois tudo quanto a Providência tem dito aos homens na iminência das grandes borrascas da História.
Os diversos pontos das revelações relativos a este tema constituem propriamente o elemento essencial das mensagens. O mais, por importante que seja, constitui mero complemento.
Apêndice III
Primeiro marco do ressurgimento contra-revolucionário
Plinio Corrêa de Oliveira
O presente artigo, escrito a propósito do centenário das aparições de Nossa Senhora em Lourdes, foi publicado em Catolicismo (nº 86, fevereiro de 1958). Nele, o insigne pensador e líder católico brasileiro de projeção mundial Plinio Corrêa de Oliveira analisa a missão de Maria Santíssima na restauração da civilização cristã e na derrota da Revolução (entendida tal palavra como a define o mesmo preclaro autor em sua obra-prima Revolução e Contra-Revolução, isto é, como o processo multissecular de afastamento do mundo ocidental dos princípios do Evangelho).
Seus comentários sobre o estado de mal-estar em que, devido ao pecado, se encontra a humanidade, e os profundos anseios que esta tem por algo de diferente, relacionam-se intimamente com a terceira parte do Segredo de Fátima, publicada quatro décadas depois.
Após se referir à proclamação dos dogmas da Imaculada Conceição e da infalibilidade papal, e às medidas de São Pio X sobre a comunhão freqüente, escreve o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (os subtítulos são nossos):
Seus comentários sobre o estado de mal-estar em que, devido ao pecado, se encontra a humanidade, e os profundos anseios que esta tem por algo de diferente, relacionam-se intimamente com a terceira parte do Segredo de Fátima, publicada quatro décadas depois.
Após se referir à proclamação dos dogmas da Imaculada Conceição e da infalibilidade papal, e às medidas de São Pio X sobre a comunhão freqüente, escreve o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (os subtítulos são nossos):
O inimigo, mais forte do que nunca
Mas, poder-se-ia perguntar, o que resultou daí, para a luta da Igreja com seus adversários externos? Não se diria que o inimigo está mais forte do que nunca, e que nos aproximamos daquela era, sonhada pelos iluministas há tantos séculos, de naturalismo científico cru e integral, dominado pela técnica materialista; da república universal ferozmente igualitária, de inspiração mais ou menos filantrópica e humanitária, de cujo ambiente sejam varridos todos os resquícios de uma religião sobrenatural? Não está aí o comunismo, não está aí o perigoso deslizar da própria sociedade ocidental, pretensamente anticomunista, mas que no fundo também caminha para a realização deste «ideal»?
O mundo inteiro geme nas trevas e na dor
Sim. E a proximidade deste perigo é até maior do que geralmente se pensa. Mas ninguém atenta para um fato de importância primordial. É que enquanto o mundo vai sendo modelado para a realização deste sinistro desígnio, um profundo, um imenso, um indescritível mal-estar se vai apoderando dele. É um mal-estar muitas vezes inconsciente, que se apresenta vago e indefinido até mesmo quando é consciente, mas que ninguém ousaria contestar. Dir-se-ia que a humanidade inteira sofre violência, que está sendo posta em uma fôrma que não convém à sua natureza, e que todas as suas fibras sadias se contorcem e resistem. Há um anseio imenso por outra coisa, que ainda não se sabe qual é. Mas, enfim, fato talvez novo desde que começou, no século XV, o declínio da civilização cristã, o mundo inteiro geme nas trevas e na dor, precisamente como o filho pródigo quando chegou ao último da vergonha e da miséria, longe do lar paterno. No próprio momento em que a iniqüidade parece triunfar, há algo de frustrado em sua aparente vitória.
A experiência nos mostra que é de descontentamentos assim que nascem as grandes surpresas da História. À medida que a contorção se acentuar, acentuar-se-á o mal-estar. Quem poderá dizer que magníficos sobressaltos daí podem provir?
No extremo do pecado e da dor, está muitas vezes, para o pecador, a hora da misericórdia divina...
Ora, este sadio e promissor mal-estar é, a meu ver, um fruto da ressurreição da fibra católica com os grandes acontecimentos que acima enumerei, ressurreição esta que repercutiu favoravelmente sobre o que havia de restos de vida e de sanidade em todas as áreas de cultura do mundo.
A experiência nos mostra que é de descontentamentos assim que nascem as grandes surpresas da História. À medida que a contorção se acentuar, acentuar-se-á o mal-estar. Quem poderá dizer que magníficos sobressaltos daí podem provir?
No extremo do pecado e da dor, está muitas vezes, para o pecador, a hora da misericórdia divina...
Ora, este sadio e promissor mal-estar é, a meu ver, um fruto da ressurreição da fibra católica com os grandes acontecimentos que acima enumerei, ressurreição esta que repercutiu favoravelmente sobre o que havia de restos de vida e de sanidade em todas as áreas de cultura do mundo.
A grande conversão
Foi por certo um grande momento, na vida do filho pródigo, aquele em que seu espírito embotado pelo vício adquiriu nova lucidez, e sua vontade novo vigor, na meditação da situação miserável em que caíra, e da torpeza de todos os erros que o haviam conduzido para fora da casa paterna. Tocado pela graça, encontrou-se, com mais clareza do que nunca, diante da grande alternativa. Ou arrepender-se e voltar, ou perseverar no erro e aceitar até o mais trágico final as suas conseqüências. Tudo quanto uma educação reta nele implantara de bom, como que renascia maravilhosamente nesse instante providencial. Enquanto, de outro lado, a tirania dos maus hábitos nele se afirmava quiçá mais terrível do que nunca. Deu-se o embate interno. Ele escolheu o bem. E o resto da história, pelo Evangelho o conhecemos.
Não nos estaremos aproximando desse momento?
Não nos estaremos aproximando desse momento?
O ensinamento de Lourdes
O futuro, só Deus o conhece. A nós, homens, é lícito entretanto conjeturá-lo segundo as regras da verossimilhança.
Estamos vivendo uma terrível hora de castigos. Mas esta hora também pode ser uma admirável hora de misericórdia. A condição para isto é que olhemos para Maria, a Estrela do Mar, que nos guia em meio às tempestades.
Durante cem anos, movida de compaixão para com a humanidade pecadora, Nossa Senhora tem alcançado para nós os mais estupendos milagres. Esta piedade se terá extinguido? Têm fim as misericórdias de uma Mãe, e da melhor das mães? Quem ousaria afirmá-lo? Se alguém duvidasse, Lourdes lhe serviria de admirável lição de confiança. Nossa Senhora há de nos socorrer.
Durante cem anos, movida de compaixão para com a humanidade pecadora, Nossa Senhora tem alcançado para nós os mais estupendos milagres. Esta piedade se terá extinguido? Têm fim as misericórdias de uma Mãe, e da melhor das mães? Quem ousaria afirmá-lo? Se alguém duvidasse, Lourdes lhe serviria de admirável lição de confiança. Nossa Senhora há de nos socorrer.
Lourdes e Fátima
Há de nos socorrer. Expressão em parte verdadeira, e em parte falsa. Pois na realidade Ela já começou a nos socorrer. A definição dos dogmas da Imaculada Conceição e da infalibilidade papal, a renovação da piedade eucarística, têm seu prosseguimento nos fastos mariais dos pontificados subseqüentes a São Pio X. Nossa Senhora apareceu em Fátima sob Bento XV. Precisamente no dia em que Pio XII era sagrado Bispo, 13 de maio de 1917, deu-se a primeira aparição. Sob Pio XI, a mensagem de Fátima se foi espraiando suave e seguramente por toda a terra. Nessa mesma ocasião, o 75º aniversário das aparições de Lourdes foi festejado pelo Sumo Pontífice com invulgar júbilo, tendo ele delegado o então Cardeal Pacelli para o representar nas festividades. O pontificado de Pio XII se imortalizou pela definição do dogma da Assunção e pela Coroação de Nossa Senhora como Rainha do Mundo. Nesse pontificado, o Emmo. Cardeal Masella, tão caro aos brasileiros, coroou em nome do Papa Pio XII a Imagem da Santíssima Virgem em Fátima.
São outras tantas luzes que, da gruta de Massabielle à Cova da Iria, constituem um fio brilhante.
São outras tantas luzes que, da gruta de Massabielle à Cova da Iria, constituem um fio brilhante.
O Reinado do Imaculado Coração de Maria
E este artigo se detém em Fátima. Nossa Senhora delineou perfeitamente, em suas aparições, a alternativa. Ou nos convertemos, ou um tremendo castigo virá. Mas, no fim, o Reinado do Imaculado Coração se estabelecerá no mundo.
Em outros termos, de qualquer maneira, com mais ou com menos sofrimentos para os homens, o Coração de Maria triunfará.
O que quer dizer, afinal, que de acordo com a Mensagem de Fátima, os dias do domínio da impiedade estão contados.
Em outros termos, de qualquer maneira, com mais ou com menos sofrimentos para os homens, o Coração de Maria triunfará.
O que quer dizer, afinal, que de acordo com a Mensagem de Fátima, os dias do domínio da impiedade estão contados.
Plinio Corrêa de Oliveira
Nasceu em São Paulo, em 1908. Diplomado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, destacou-se desde a juventude como orador, conferencista e jornalista católico. Um dos fundadores da Liga Eleitoral Católica, foi o deputado mais votado do País para a Assembléia Constituinte federal de 1934.
Como professor, exerceu as cátedras de História da Civilização no Colégio Universitário de São Paulo, e de História Moderna e Contemporânea nas Faculdades de São Bento e Sedes Sapientiae da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo e diretor do semanário católico Legionário. Distinguiu-se, desde o início, em 1951, como o principal colaborador do mensário de cultura Catolicismo. Entre 1968 e 1990 escreveu assiduamente para a Folha de S. Paulo.
Em 1960, fundou a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade — TFP, da qual foi o Presidente do Conselho Nacional. Inspiradas em Revolução e Contra-Revolução e em outras obras suas, TFPs e associações congêneres se desenvolveram igualmente em 27 países dos cinco continentes.
Devotíssimo de Nossa Senhora, foi sem dúvida um dos maiores difusores da Mensagem de Fátima no Brasil e, por sua influência, no mundo inteiro.
Seu falecimento em 3 de outubro de 1995 representou uma perda irreparável para a Santa Igreja e para a civilização cristã, às quais amou entranhadamente e serviu, com fidelidade exímia, até o último hausto de sua vida.
Em 1960, fundou a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade — TFP, da qual foi o Presidente do Conselho Nacional. Inspiradas em Revolução e Contra-Revolução e em outras obras suas, TFPs e associações congêneres se desenvolveram igualmente em 27 países dos cinco continentes.
Devotíssimo de Nossa Senhora, foi sem dúvida um dos maiores difusores da Mensagem de Fátima no Brasil e, por sua influência, no mundo inteiro.
Seu falecimento em 3 de outubro de 1995 representou uma perda irreparável para a Santa Igreja e para a civilização cristã, às quais amou entranhadamente e serviu, com fidelidade exímia, até o último hausto de sua vida.
O autor
Antonio Augusto Borelli Machado é membro da Academia Marial com sede no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Foi professor de Filosofia Moral na Faculdade de Ciências Econômicas do Liceu Coração de Jesus em São Paulo. Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, exerceu a profissão durante catorze anos. Depois passou a dedicar inteiramente o seu tempo à defesa dos princípios básicos da civilização cristã — a tradição, a família e a propriedade — sob o comando do grande líder católico brasileiro de projeção mundial, Plinio Corrêa de Oliveira, falecido em 1995.
É autor de uma das obras mais difundidas em todo o mundo sobre as aparições de Fátima, com 243 edições em 30 países e em 20 línguas, alcançando a tiragem global de 4,8 milhões de exemplares.
É igualmente autor de um livro sobre as origens, o significado e a eficácia do Rosário, contendo ademais um método para rezá-lo com fruto, bem como uma sinopse de textos dos quatro Evangelhos apropriados para a meditação dos mistérios.
[Obras citadas — Atenção: não pôr “Bibliografia”; são apenas as obras citadas no trabalho]
Obras citadas
Memórias e Cartas da Irmã Lúcia — Introdução e notas pelo Pe. Dr. Antonio Maria Martins SJ, Composição e impressão de Simão Guimarães, Filhos, Ltda.; Depositária: L. E., Porto, 1973. — Edição em fac-símile dos manuscritos da Irmã Lúcia, nas páginas pares; nas páginas ímpares, em três colunas, o texto em português composto em caracteres tipográficos, e as correspondentes traduções para o francês e o inglês (em outra edição da mesma obra aparecem as traduções para o italiano e o espanhol). Do texto em português foram feitas duas outras edições, uma no Brasil (O Segredo de Fátima nas memórias e cartas da Irmã Lúcia, Edições Loyola, São Paulo, 1974) e em Portugal (O Segredo de Fátima e o futuro de Portugal nos escritos da Irmã Lúcia, Propriedade de L. E., Porto, 1974). Salvo indicação em contrário, nossas referências dizem respeito à edição fac-similar.
Documentação Crítica de Fátima — Serviço de Estudos e Difusão (SESDI), Santuário de Fátima, Pe. Dr. Luciano Coelho Cristino (Director), vol. I, 1992; vol. II, 1999; vol. III-1, 2002; vol. III-2, 2004; vol. III-3, 2005; vol. IV-1, 2006.
A Mensagem de Fátima — Congregação para a Doutrina da Fé, Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano, 2000. Contém todas as peças relativas à divulgação ao Segredo de Fátima. Edições em alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e português.
Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, Como vejo a Mensagem através dos tempos e dos acontecimentos, Carmelo de Coimbra / Secretariado dos Pastorinhos, Coimbra, 2006.
Pe. Joaquín María Alonso CMF — 1) La verdad sobre el secreto de Fátima — Fátima sin mitos, Cor Mariae Centrum, Madrid, 1976; 2) De nuevo el secreto de Fátima, in Ephemerides Mariologicae, Madrid, vol. XXXII, 1982, fasc. 1; 3) Doctrina y espiritualidad del Mensaje de Fátima, Arias Montano Editores, Madrid, 1990.
Pe. Luiz Gonzaga Ayres da Fonseca SJ — Nossa Senhora da Fátima, Editora Vozes, Petrópolis, 5ª edição, 1954.
Plínio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Artpress, São Paulo, 4ª edição, 1998; 1ª edição, 1950.
Giuseppe De Carli, Eminenza, mi permette?, Piemme, 2004.
Pe. João M. De Marchi IMC — 1) Era uma Senhora mais brilhante que o sol..., Seminário das Missões de Na. Sra. da Fátima, Cova da Iria, 3ª edição; 2) tradução em inglês sob o título de The Crusade of Fatima — The Lady more brilliant than the sun, adaptada pelos PP. Asdrubal Castello Branco e Philip C. M. Kelly CSC, P. J. Kenedy & Sons, New York, 3rd printing, 1948. Salvo indicação em contrário, nossas referências dizem respeito à edição em português.
Pe. Antonio de Almeida Fazenda SJ — Meditações dos primeiros sábados, Mensageiro do Coração de Jesus, Braga, 2ª edição, 1953.
Pe. José Geraldes Freire — O Segredo de Fátima: a terceira parte é sobre Portugal?, Santuário de Fátima, 1977.
Cônego José Galamba de Oliveira — História das Aparições, in Fátima, Altar do Mundo, Ocidental Editora, Porto, 1954, vol. II, pp. 21-160.
Pe. Fernando Leite SJ — Francisco de Fátima, Editorial A.O., Braga, 4ª ed., 1986.
Pe. Luiz Gonzaga Mariz SJ — Fátima, onde o céu tocou a terra, Editora Mensageiro da Fé Ltda., Salvador, 2ª ed., 1954.
Pe. Antonio Maria Martins SJ — Novos documentos de Fátima, Edições Loyola, São Paulo, 1984.
Cônego Dr. Sebastião Martins dos Reis — 1) O milagre do Sol e o Segredo de Fátima, Edições Salesianas, Porto, 1966; 2) Síntese crítica de Fátima — Incidências e Repercussões, Edição do Autor, Évora, 1967; 3) A Vidente de Fátima dialoga e responde pelas Aparições, Tip. Editorial Franciscana, Braga, 1970.
Pe. Moreira das Neves — As grandes jornadas de Fátima, in Fátima, Altar do Mundo, Ocidental Editora, Porto, 1954, vol. II, pp. 205-303.
Frère Michel de la Sainte Trinité — Toute la vérité sur Fatima, La Contre-Réforme Catholique, Saint-Parres-Lès-Vaudes, tomo I, 1983; tomo II, 1984; tomo III, 1985.
Documentação Crítica de Fátima — Serviço de Estudos e Difusão (SESDI), Santuário de Fátima, Pe. Dr. Luciano Coelho Cristino (Director), vol. I, 1992; vol. II, 1999; vol. III-1, 2002; vol. III-2, 2004; vol. III-3, 2005; vol. IV-1, 2006.
A Mensagem de Fátima — Congregação para a Doutrina da Fé, Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano, 2000. Contém todas as peças relativas à divulgação ao Segredo de Fátima. Edições em alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e português.
Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, Como vejo a Mensagem através dos tempos e dos acontecimentos, Carmelo de Coimbra / Secretariado dos Pastorinhos, Coimbra, 2006.
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Plínio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Artpress, São Paulo, 4ª edição, 1998; 1ª edição, 1950.
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Cônego Dr. Sebastião Martins dos Reis — 1) O milagre do Sol e o Segredo de Fátima, Edições Salesianas, Porto, 1966; 2) Síntese crítica de Fátima — Incidências e Repercussões, Edição do Autor, Évora, 1967; 3) A Vidente de Fátima dialoga e responde pelas Aparições, Tip. Editorial Franciscana, Braga, 1970.
Pe. Moreira das Neves — As grandes jornadas de Fátima, in Fátima, Altar do Mundo, Ocidental Editora, Porto, 1954, vol. II, pp. 205-303.
Frère Michel de la Sainte Trinité — Toute la vérité sur Fatima, La Contre-Réforme Catholique, Saint-Parres-Lès-Vaudes, tomo I, 1983; tomo II, 1984; tomo III, 1985.
William Thomas Walsh — 1) Our Lady of Fatima, The Macmillan Company, New York, 4th printing, 1947; 2) tradução em português, sob o título de Nossa Senhora de Fátima, Edições Melhoramentos, São Paulo, 2ª edição, 1949. Salvo indicação em contrário, nossas referências dizem respeito à edição em português.
FIM