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Antonio Augusto Borelli Machado
Fátima
Mensagem de tragédia
ou de esperança?
Mensagem de tragédia
ou de esperança?
Com a terceira parte do Segredo
Advertência. — A primeira versão deste trabalho foi publicada em Catolicismo, no 197, de maio de 1967, por ocasião do cinqüentenário das aparições, sob o título Simples relato do que se passou em Fátima, quando Nossa Senhora apareceu. Com base nos manuscritos da Irmã Lúcia, dados a lume em 1973, o trabalho foi inteiramente revisto e bastante ampliado. Foi assim estampado de novo emCatolicismo, no 295, de julho de 1975. Com a divulgação da terceira parte do Segredo, no ano 2000, e o falecimento da Irmã Lúcia em fevereiro de 2005, a historiografia de Fátima chegava ao seu ápice. Impunha-se uma nova atualização do livro, realizada em janeiro de 2007, do que resultou uma versão consideravelmente ampliada. Ademais, por insistentes sugestões de amigos, as principais notas de pé de página foram transferidas para o texto, para maior comodidade dos leitores.
Edições. — O presente trabalho teve 57 edições em português (47 no Brasil e 10 em Portugal), 23 em alemão (18 na Alemanha e cinco na Áustria), duas em bielo-russo (uma na Bielo-Rússia e uma na França), uma em checo (na Áustria), seis em croata (na Croácia), 47 em espanhol (oito na Argentina, duas na Bolívia, cinco no Chile, oito na Colômbia, três na Costa Rica, seis no Equador, quatro na Espanha, uma na França, uma no Paraguai, três no Peru, duas no Uruguai e quatro na Venezuela), uma em estoniano (na França), nove em francês (duas no Canadá e sete na França), uma em húngaro (na Áustria), dezessete em inglês (uma na África do Sul, duas na Austrália, duas no Canadá, quatro nos Estados Unidos, duas nas Filipinas, uma na Índia, três na Inglaterra e duas na Irlanda), 29 em italiano (na Itália), uma em japonês (no Japão), quatro em letão (na França), duas em lituano (na França), uma em malayalam (na Índia), 30 em polonês (três no Canadá, uma nos Estados Unidos, uma na Itália e 25 na Polônia), três em romeno (uma na Espanha e duas na Romênia), seis em russo (na França), uma em tagalo (nas Filipinas) e duas em ucraniano (na França). Foi outrossim publicado na íntegra em sete periódicos de cinco países (dez edições), totalizando desse modo 253 edições com a tiragem global de 4,868 milhões de exemplares.
Imprimatur. — Pelo atual Código de Direito Canônico, obras do gênero deste livro não requerem aprovação eclesiástica prévia, a não ser que o Ordinário assim o exija (cfr. cânon 823, §1). Contudo, no Brasil, além da aprovação eclesiástica quando de sua publicação em Catolicismo (no 197, maio de 1967 e no 295, julho de 1975), o presente livro obteve a aprovação de D. Geraldo Maria de Morais Penido, Arcebispo de Aparecida (18-4-95); em Portugal, o Imprimatur do Arcebispado de Braga (5-2-90); nas Filipinas, o Imprimatur do Cardeal Ricardo J. Vidal, Arcebispo de Cebu (24-4-92); na Lituânia, o Imprimatur do Bispo Auxiliar de Kaunas, D. Sigitas Tamkevicius (21-12-92); na Espanha, o Imprimatur do Provigário Geral de Madrid, Mons. Joaquín Iniesta (17-3-94); na Ucrânia, o Imprimatur do Cardeal Myroslav Ivan Lubachivsky, Arcebispo-Mor de Lviv dos Ucranianos (27-3-95); na Letônia, o Imprimatur de D. Janis Pujats, Arcebispo de Riga (1996); na Hungria, o Imprimatur do Cardeal Péter Erdö, Arcebispo de Esztergom-Budapest, Primaz da Hungria (8-3-2003).
Cartas de apoio e declarações elogiosas. — D. Pacífico M. Luigi Perantoni OFM, Arcebispo Emérito de Lanciano, Itália (15-6-76); D. Philip M. Hannan, Arcebispo de Nova Orleans, Estados Unidos (18-11-85); D. Bernardino Echeverría Ruiz OFM, Arcebispo de Guayaquil, Equador (22-2-86); D. Germán Villa Gaviria, Arcebispo de Barranquilla, Colômbia (1-7-86); D. Alejandro Mestre SJ, Arcebispo Coadjutor de La Paz (13-11-86); D. Polidoro Van Vlierberghe OFM, Bispo-Prelado Emérito de Illapel, Chile (30-1-87); D. Oscar Alzamora Revoredo, Bispo de Tacna, Peru (12-4-89); D. Vasile Louis Puscas, Exarca Apostólico para os católicos romenos dos Estados Unidos (maio-89); D. Charbel Merhi, Bispo dos Maronitas na Argentina (4-10-92); D. Manuel Salazar Espinosa, Bispo Emérito de León, Nicarágua (24-5-94); D. Antonio Iroyo Calderón, Bispo Auxiliar de San José, Costa Rica (16-6-94); Cardeal Bernardino Echeverría Ruiz OFM, Arcebispo Emérito de Guayaquil, Equador (2-2-95) e D. Ramón Mantilla Duarte, Bispo Emérito de Ipiales, Colômbia (13-3-95). Ademais, enviaram expressivas cartas de louvor e apoio à campanha de difusão deste livro o Cardeal Silvio Oddi, Prefeito Emérito da Congregação para o Clero, da Santa Sé; o Cardeal Vincentas Sladkevicius, Arcebispo de Kaunas (Lituânia); o Cardeal Kasimierz Swiatek, Arcebispo de Minsk (Bielo-Rússia); D. Josephus Zemaitis MJC, Bispo de Vilkaviskis (Lituânia); D. Custódio Alvim Pereira, Arcebispo Emérito de Lourenço Marques (Moçambique); e o Pe. Vacilh Menddrunh, Provincial dos Padres Basilianos para a Ucrânia.
Prefácio
Fátima 90 anos:
Atualidade da Mensagem
para o século XXI
Atualidade da Mensagem
para o século XXI
A comemoração, neste ano de 2007, dos 90 anos das aparições de Nossa Senhora em Fátima, se cerca de um aspecto festivo muito legítimo, em vista do bem que acarretaram para a humanidade do século passado. Mas, o que essas aparições significam para o mundo do novo milênio? Que sentido tem propor uma Mensagem, dada por Nossa Senhora no início do século XX, como solução para os problemas do século XXI?
A pergunta faz sentido, tanto mais quanto algumas personalidades de relevo no cenário católico mundial opinaram que, com a revelação da terceira parte do Segredo, no ano 2000, se colocava um ponto final na Mensagem de Fátima, toda ela — diziam — explicativa do século que acabava de se encerrar. O século XXI se abriria diante de novas perspectivas, não contempladas — segundo tais pronunciamentos — nas célebres revelações de 1917.
O presente livro tem por objetivo precisamente mostrar que a história de Fátima não se encerrou com a divulgação, em 2000, da parte até então remanescente do Segredo, nem com o falecimento da principal vidente — a Irmã Lúcia — em fevereiro de 2005.
Uma análise cuidadosa e isenta da Mensagem de Fátima mostra que ela traça rumos para a humanidade de nossos dias, a qual evidentemente não passou a ser outra diferente, com a virada do calendário gregoriano, em 31 de dezembro de 2000. É a mesma humanidade que continua com suas qualidades e seus defeitos, seus problemas e dificuldades, cuja etiologia deita raízes nas décadas passadas, e até mesmo, em seus lineamentos mais profundos, nos séculos anteriores.
Foi o que mostrou o célebre pensador e homem de ação brasileiro, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, no luminoso tratado que consagrou ao tema: Revolução e Contra-Revolução. Nessa obra, o grande líder católico de projeção mundial descreve o processo revolucionário pelo qual a humanidade foi se distanciando progressivamente de Deus e construindo uma sociedade igualitária, dessacralizada, laicista e atéia, em oposição aos princípios do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica, por Ele fundada.
Ora, em Fátima Nossa Senhora anunciou precisamente o desfecho desse embate multissecular entre as hostes do bem e as forças do mal, embate esse que obviamente ainda não terminou, mas se prolonga século XXI adentro.
À medida que o tempo se desenrola, o desfecho vai ficando naturalmente mais próximo, se bem que não devemos pensar que a cronologia de Deus coincida com a cronologia dos homens. Ninguém, portanto, pode saber quando se dará o misterioso Hoje (Hodie) fixado por Deus, do qual fala São Paulo, na Epístola aos Hebreus: “iterum terminat [Deus] diem quendam, Hodie” (Heb 4, 7):
— [Deus] fixa de novo um dia, ‘Hoje’, dizendo por meio de Davi, tanto tempo depois (...):
A pergunta faz sentido, tanto mais quanto algumas personalidades de relevo no cenário católico mundial opinaram que, com a revelação da terceira parte do Segredo, no ano 2000, se colocava um ponto final na Mensagem de Fátima, toda ela — diziam — explicativa do século que acabava de se encerrar. O século XXI se abriria diante de novas perspectivas, não contempladas — segundo tais pronunciamentos — nas célebres revelações de 1917.
O presente livro tem por objetivo precisamente mostrar que a história de Fátima não se encerrou com a divulgação, em 2000, da parte até então remanescente do Segredo, nem com o falecimento da principal vidente — a Irmã Lúcia — em fevereiro de 2005.
Uma análise cuidadosa e isenta da Mensagem de Fátima mostra que ela traça rumos para a humanidade de nossos dias, a qual evidentemente não passou a ser outra diferente, com a virada do calendário gregoriano, em 31 de dezembro de 2000. É a mesma humanidade que continua com suas qualidades e seus defeitos, seus problemas e dificuldades, cuja etiologia deita raízes nas décadas passadas, e até mesmo, em seus lineamentos mais profundos, nos séculos anteriores.
Foi o que mostrou o célebre pensador e homem de ação brasileiro, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, no luminoso tratado que consagrou ao tema: Revolução e Contra-Revolução. Nessa obra, o grande líder católico de projeção mundial descreve o processo revolucionário pelo qual a humanidade foi se distanciando progressivamente de Deus e construindo uma sociedade igualitária, dessacralizada, laicista e atéia, em oposição aos princípios do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica, por Ele fundada.
Ora, em Fátima Nossa Senhora anunciou precisamente o desfecho desse embate multissecular entre as hostes do bem e as forças do mal, embate esse que obviamente ainda não terminou, mas se prolonga século XXI adentro.
À medida que o tempo se desenrola, o desfecho vai ficando naturalmente mais próximo, se bem que não devemos pensar que a cronologia de Deus coincida com a cronologia dos homens. Ninguém, portanto, pode saber quando se dará o misterioso Hoje (Hodie) fixado por Deus, do qual fala São Paulo, na Epístola aos Hebreus: “iterum terminat [Deus] diem quendam, Hodie” (Heb 4, 7):
— [Deus] fixa de novo um dia, ‘Hoje’, dizendo por meio de Davi, tanto tempo depois (...):
Se Hoje ouvirdes a sua voz,
não endureçais os vossos corações
não endureçais os vossos corações
Por analogia, podemos aplicar essa exortação também ao dia do cumprimento da esplendorosa promessa que Nossa Senhora anunciou em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.
Nesse dia, para que as graças difundidas pelo Espírito Santo por toda a humanidade não sejam vãs para nenhum de nós, não endureçamos os nossos corações!
É na expectativa das graças desse grandioso que damos a público este volume comemorativo dos 90 anos das aparições de Nossa Senhora em Fátima, certos de que ele contribuirá para encorajar os fiéis católicos neste borrascoso início de novo século e milênio.
Nesse dia, para que as graças difundidas pelo Espírito Santo por toda a humanidade não sejam vãs para nenhum de nós, não endureçamos os nossos corações!
É na expectativa das graças desse grandioso que damos a público este volume comemorativo dos 90 anos das aparições de Nossa Senhora em Fátima, certos de que ele contribuirá para encorajar os fiéis católicos neste borrascoso início de novo século e milênio.
Introdução
As aparições e a mensagem de Fátima
Nos livros que tratam dos acontecimentos de Fátima, a descrição das aparições e os colóquios de Nossa Senhora com os videntes aparecem insertos numa seqüência de fatos que englobam as repercussões locais que as aparições provocaram, os interrogatórios dos videntes e das testemunhas, as curas e conversões extraordinárias que se seguiram, os pormenores tão atraentes da ascensão espiritual das privilegiadas crianças, e numerosos episódios conexos. Nada mais lógico e compreensível, por certo.
Lidos os livros, porém, surge em muitos espíritos o desejo de dispor de um texto que lhes facilite deter-se mais especialmente sobre o conteúdo mesmo das aparições, no empenho de penetrar sempre mais o sentido da mensagem que Nossa Senhora veio comunicar aos homens, de modo a poder atender-lhe às prescrições.
No intuito de satisfazer a esse anelo tão legítimo, compusemos um relato circunscrito ao que se passou entre a Virgem, o Anjo de Portugal, e os videntes, isto é, um relato no qual todos os outros fatos, edificantes ou pitorescos, que entremeiam a história de Fátima, foram deixados de lado com vistas a fixar a atenção sobre o essencial.
À relação das manifestações do Anjo em 1916 e de Nossa Senhora em 1917 segue-se a das revelações particulares recebidas por um ou outro dos videntes isoladamente (em especial as da Irmã Lúcia). Constituindo um complemento das aparições da Cova da Iria, não poderiam elas faltar aqui.
Lidos os livros, porém, surge em muitos espíritos o desejo de dispor de um texto que lhes facilite deter-se mais especialmente sobre o conteúdo mesmo das aparições, no empenho de penetrar sempre mais o sentido da mensagem que Nossa Senhora veio comunicar aos homens, de modo a poder atender-lhe às prescrições.
No intuito de satisfazer a esse anelo tão legítimo, compusemos um relato circunscrito ao que se passou entre a Virgem, o Anjo de Portugal, e os videntes, isto é, um relato no qual todos os outros fatos, edificantes ou pitorescos, que entremeiam a história de Fátima, foram deixados de lado com vistas a fixar a atenção sobre o essencial.
À relação das manifestações do Anjo em 1916 e de Nossa Senhora em 1917 segue-se a das revelações particulares recebidas por um ou outro dos videntes isoladamente (em especial as da Irmã Lúcia). Constituindo um complemento das aparições da Cova da Iria, não poderiam elas faltar aqui.
* * *
Na primeira redação deste trabalho, havíamos nos baseado principalmente em duas obras muito conhecidas, que recomendamos aos leitores desejosos de possuir uma história completa de Fátima. A primeira delas é a do escritor católico norte-americano William Thomas Walsh, Our Lady of Fatima, com tradução em português editada no Brasil e intitulada Nossa Senhora de Fátima. A segunda obra é a do Pe. João de Marchi IMC, sob o título de Era uma Senhora mais brilhante que o sol...
O Pe. De Marchi passou três anos em Fátima, a partir de 1943, interrogando as principais testemunhas dos acontecimentos e anotando cuidadosamente seus depoimentos. Entrevistou a Irmã Lúcia e pôde compulsar os manuscritos da vidente, dos quais falaremos adiante.
William Thomas Walsh esteve em Portugal em 1946 realizando inquéritos e entrevistas. Falou com a Irmã Lúcia e baseou seu livro, de modo especial, nas quatro Memórias por ela escritas.
As obras do Pe. De Marchi e de Walsh são bastante fidedignas, e concordam, fundamentalmente, entre si. Entretanto, para maior segurança, confrontamo-las com outros autores, que completam certos fatos e esclarecem alguns pormenores. Eles vão citados nos lugares correspondentes.
Não nos tinha sido dado, entretanto, recorrer diretamente à fonte mais autorizada, que são, sem dúvida, os manuscritos da Irmã Lúcia. Com efeito, permaneciam eles, até então, inéditos, salvo um ou outro fragmento reproduzido pelos autores que tinham podido examiná-los.
Por ocasião do cinqüentenário das aparições, quando este nosso trabalho foi publicado pela primeira vez, formulamos o voto de que fosse dado a lume o texto integral desses preciosos manuscritos, para edificação de todos os devotos de Nossa Senhora de Fátima.
Registramos com alegria que tal voto foi felizmente realizado. Com efeito, em 1973 foram por fim publicadas as Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pelo Pe. Dr. Antonio Maria Martins SJ (ver Obras citadas no fim do volume). A bem cuidada edição traz o fac-símile dos manuscritos da Irmã Lúcia e, lado a lado, o seu texto composto em caracteres tipográficos, com as correspondentes traduções para o francês e o inglês (em outra edição da mesma obra aparecem as traduções para o italiano e o espanhol).
Na mesma ocasião exprimíamos igualmente o desejo de que fosse feita, no futuro, uma edição crítica completa, contendo além das Memórias e cartas já publicadas, os interrogatórios vários a que a Irmã Lúcia foi submetida, as diversas peças do processo canônico e toda a correspondência da vidente que se conseguisse reunir. A importância do assunto Fátima certamente comportava que se fizesse tão meritório esforço.
Também este voto veio sendo paulatinamente realizado. Com excelente aparato crítico, o Santuário de Fátima já publicou quatro volumes (ao todo, seis tomos) da coletânea Documentação Crítica de Fátima. O primeiro volume (editado em 1992) contém substancialmente os interrogatórios feitos aos videntes ao tempo das aparições — dentre os quais cumpre destacar os do Pároco de Fátima, Pe. Manuel Marques Ferreira, e os do Cônego Dr. Manuel Nunes Formigão, da Sé Patriarcal de Lisboa (que depois publicou diversos livros sobre o assunto, sob o pseudônimo de Visconde de Montelo) — bem como o processo paroquial de Fátima, que se estendeu até 1919.
O segundo volume (editado em 1999) é consagrado ao Processo Canônico Diocesano. Este, que se prolongou por oito anos (1922-1930) — durante os quais a Irmã Lúcia foi interrogada várias vezes — concluiu favoravelmente às aparições. O Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, em Carta Pastoral do dia 13 de outubro de 1930, assim se expressa:
“Em virtude das considerações expostas e outras que omitimos por brevidade, invocando humildemente o Divino Espírito Santo e confiados na proteção de Maria Santíssima, depois de ouvirmos os Rev. Consultores desta nossa Diocese:
Havemos por bem:
1º declarar como dignas de crédito as visões das crianças na Cova da Iria, freguesia de Fátima, desta diocese, nos dias 13 de maio a outubro;
2º permitir oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima” (Documentação Crítica de Fátima, vol. II, p. 275).
O terceiro volume vai das Aparições ao Processo Canônico Diocesano e se divide em três tomos: o tomo 1 (editado em 2002) abrange o período 1917-1918; o tomo 2 (editado em 2004) abrange o período 1918-1920; e o tomo 3 (editado em 2005) abrange o período 1920-1922.
O tomo 1 do quarto volume (editado em 2006), abrange o período de 3 de maio a 12 de outubro de 1922, e vai do início do Processo Canônico Diocesano até a criação da Capelania de Fátima.
O Pe. De Marchi passou três anos em Fátima, a partir de 1943, interrogando as principais testemunhas dos acontecimentos e anotando cuidadosamente seus depoimentos. Entrevistou a Irmã Lúcia e pôde compulsar os manuscritos da vidente, dos quais falaremos adiante.
William Thomas Walsh esteve em Portugal em 1946 realizando inquéritos e entrevistas. Falou com a Irmã Lúcia e baseou seu livro, de modo especial, nas quatro Memórias por ela escritas.
As obras do Pe. De Marchi e de Walsh são bastante fidedignas, e concordam, fundamentalmente, entre si. Entretanto, para maior segurança, confrontamo-las com outros autores, que completam certos fatos e esclarecem alguns pormenores. Eles vão citados nos lugares correspondentes.
Não nos tinha sido dado, entretanto, recorrer diretamente à fonte mais autorizada, que são, sem dúvida, os manuscritos da Irmã Lúcia. Com efeito, permaneciam eles, até então, inéditos, salvo um ou outro fragmento reproduzido pelos autores que tinham podido examiná-los.
Por ocasião do cinqüentenário das aparições, quando este nosso trabalho foi publicado pela primeira vez, formulamos o voto de que fosse dado a lume o texto integral desses preciosos manuscritos, para edificação de todos os devotos de Nossa Senhora de Fátima.
Registramos com alegria que tal voto foi felizmente realizado. Com efeito, em 1973 foram por fim publicadas as Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, pelo Pe. Dr. Antonio Maria Martins SJ (ver Obras citadas no fim do volume). A bem cuidada edição traz o fac-símile dos manuscritos da Irmã Lúcia e, lado a lado, o seu texto composto em caracteres tipográficos, com as correspondentes traduções para o francês e o inglês (em outra edição da mesma obra aparecem as traduções para o italiano e o espanhol).
Na mesma ocasião exprimíamos igualmente o desejo de que fosse feita, no futuro, uma edição crítica completa, contendo além das Memórias e cartas já publicadas, os interrogatórios vários a que a Irmã Lúcia foi submetida, as diversas peças do processo canônico e toda a correspondência da vidente que se conseguisse reunir. A importância do assunto Fátima certamente comportava que se fizesse tão meritório esforço.
Também este voto veio sendo paulatinamente realizado. Com excelente aparato crítico, o Santuário de Fátima já publicou quatro volumes (ao todo, seis tomos) da coletânea Documentação Crítica de Fátima. O primeiro volume (editado em 1992) contém substancialmente os interrogatórios feitos aos videntes ao tempo das aparições — dentre os quais cumpre destacar os do Pároco de Fátima, Pe. Manuel Marques Ferreira, e os do Cônego Dr. Manuel Nunes Formigão, da Sé Patriarcal de Lisboa (que depois publicou diversos livros sobre o assunto, sob o pseudônimo de Visconde de Montelo) — bem como o processo paroquial de Fátima, que se estendeu até 1919.
O segundo volume (editado em 1999) é consagrado ao Processo Canônico Diocesano. Este, que se prolongou por oito anos (1922-1930) — durante os quais a Irmã Lúcia foi interrogada várias vezes — concluiu favoravelmente às aparições. O Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, em Carta Pastoral do dia 13 de outubro de 1930, assim se expressa:
“Em virtude das considerações expostas e outras que omitimos por brevidade, invocando humildemente o Divino Espírito Santo e confiados na proteção de Maria Santíssima, depois de ouvirmos os Rev. Consultores desta nossa Diocese:
Havemos por bem:
1º declarar como dignas de crédito as visões das crianças na Cova da Iria, freguesia de Fátima, desta diocese, nos dias 13 de maio a outubro;
2º permitir oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima” (Documentação Crítica de Fátima, vol. II, p. 275).
O terceiro volume vai das Aparições ao Processo Canônico Diocesano e se divide em três tomos: o tomo 1 (editado em 2002) abrange o período 1917-1918; o tomo 2 (editado em 2004) abrange o período 1918-1920; e o tomo 3 (editado em 2005) abrange o período 1920-1922.
O tomo 1 do quarto volume (editado em 2006), abrange o período de 3 de maio a 12 de outubro de 1922, e vai do início do Processo Canônico Diocesano até a criação da Capelania de Fátima.
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Tenha-se presente que os autores que desbravaram o assunto Fátima, de há muito haviam publicado, além dos documentos primevos, outros posteriores ainda não abrangidos pela Documentação Crítica. Assim, por exemplo, o Cônego Dr. Sebastião Martins dos Reis, em seu livro A Vidente de Fátima dialoga e responde pelas Aparições, traz os seguintes documentos:
a) Interrogatório feito pelo Pe. H. I. Iongen, Montfortino holandês, que esteve com a Irmã Lúcia nos dias 3 e 4 de fevereiro de 1946, publicando o relato dessas entrevistas nos números de maio, julho e outubro do mesmo ano da revista bimensal Médiatrice et Reine;
b) Identificação dos lugares históricos de Fátima, feita pela própria vidente no dia 20 de maio de 1946;
c) Interrogatório do Dr. J. J. Goulven, respondido por escrito pela Irmã Lúcia em 30 de junho de 1946 (o Cônego Dr. Sebastião Martins dos Reis informa que a Irmã Lúcia enviou o manuscrito ao Bispo de Leiria, que o mandou datilografar em três vias, as quais, depois de assinadas pela vidente, tiveram o seguinte destino: uma foi remetida ao Dr. Goulven, outra ficou em poder da vidente, e a terceira foi mandada arquivar pelo Bispo de Leiria junto com o original. O autor não esclarece se foi do manuscrito ou de uma cópia que transcreveu o documento);
d) Interrogatório do Pe. José Pedro da Silva (mais tarde Bispo de Viseu), respondido pela vidente em 1º de agosto de 1947.
Além destes depoimentos, e das já mencionadas entrevistas ao Pe. de Marchi e a Walsh, a Irmã Lúcia concedeu uma outra, ao longo de cinco dias (de 16 a 20 de setembro de 1935), ao escritor Antero de Figueiredo, a qual a vidente comenta em suas Memórias (pp. 368 a 376).
Entre os autores que se dedicaram ao estudo das aparições de Fátima, merece um destaque especial Frère Michel de la Sainte Trinité, que além de fazer uma análise exaustiva da documentação até então disponível, colheu depoimentos preciosos de importantes personalidades ligadas à história de Fátima, os quais reuniu em seu documentadíssimo livro Toute la vérité sur Fatima (ver Obras citadas).
a) Interrogatório feito pelo Pe. H. I. Iongen, Montfortino holandês, que esteve com a Irmã Lúcia nos dias 3 e 4 de fevereiro de 1946, publicando o relato dessas entrevistas nos números de maio, julho e outubro do mesmo ano da revista bimensal Médiatrice et Reine;
b) Identificação dos lugares históricos de Fátima, feita pela própria vidente no dia 20 de maio de 1946;
c) Interrogatório do Dr. J. J. Goulven, respondido por escrito pela Irmã Lúcia em 30 de junho de 1946 (o Cônego Dr. Sebastião Martins dos Reis informa que a Irmã Lúcia enviou o manuscrito ao Bispo de Leiria, que o mandou datilografar em três vias, as quais, depois de assinadas pela vidente, tiveram o seguinte destino: uma foi remetida ao Dr. Goulven, outra ficou em poder da vidente, e a terceira foi mandada arquivar pelo Bispo de Leiria junto com o original. O autor não esclarece se foi do manuscrito ou de uma cópia que transcreveu o documento);
d) Interrogatório do Pe. José Pedro da Silva (mais tarde Bispo de Viseu), respondido pela vidente em 1º de agosto de 1947.
Além destes depoimentos, e das já mencionadas entrevistas ao Pe. de Marchi e a Walsh, a Irmã Lúcia concedeu uma outra, ao longo de cinco dias (de 16 a 20 de setembro de 1935), ao escritor Antero de Figueiredo, a qual a vidente comenta em suas Memórias (pp. 368 a 376).
Entre os autores que se dedicaram ao estudo das aparições de Fátima, merece um destaque especial Frère Michel de la Sainte Trinité, que além de fazer uma análise exaustiva da documentação até então disponível, colheu depoimentos preciosos de importantes personalidades ligadas à história de Fátima, os quais reuniu em seu documentadíssimo livro Toute la vérité sur Fatima (ver Obras citadas).
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Quanto às cartas, na edição das Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, o Pe. Antonio Maria Martins SJ, insere, entre outras, algumas escritas pela vidente ao seu confessor Pe. José Bernardo Gonçalves SJ, e faz notar que foi este quem “provocou mais tarde a mais valiosa correspondência da Vidente. A maioria dessas cartas tratam de assuntos de consciência, pelo que não podem ser publicadas agora” (op. cit., p. 399). No prefácio do mesmo livro (p. XX), o Pe. Martins diz que os escritos da vidente, além das Memórias, “incluem milhares de cartas, a maioria delas redigidas após o seu ingresso no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, a 25 de março de 1948”.
A propósito de sua correspondência com o Pe. Gonçalves, a Irmã Lúcia alude, em determinada passagem, à censura a que era submetida e que lhe impedia ou dificultava tratar assuntos de consciência com ele. São suas palavras, em carta a esse mesmo Padre (21 de janeiro de 1940): “Há muito que eu também desejava escrever a V. Revcia., mas vários motivos mo têm impedido. O principal tem sido a censura. Escrever e não dizer o que precisava, parecia-me roubar-lhe tempo; escrevê-lo com a censura, impossível. A necessidade, por vezes, não tem sido pouca, mas paciência. Tudo tem passado, e o nosso bom Deus a tudo tem valido; conforme tem mandado a ferida, assim a tem curado. Ele bem sabe que é o único médico na terra. Na verdade, eu o confesso, também duvidava se V. Revcia. estaria disposto a gastar tempo comigo. Por isso agradeço imenso a carta de V. Revcia., e a caridade que usou comigo em me abrir caminho. Nosso Senhor recompense V. Revcia.” (Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 418).
Em junho de 1943, a Irmã Lúcia foi atingida por uma pleurisia que se foi arrastando ao longo dos meses, com sucessivas melhoras e recaídas, complicadas por reação aos medicamentos. Na previsão de que o pior pudesse ocorrer, o Bispo de Leiria, depois de muito hesitar, em meados de setembro daquele ano pediu à vidente que escrevesse a terceira parte do Segredo. Era um pedido e não uma ordem, o que deixou a vidente num certo estado de perplexidade, pois ela não se sentia movida a isso por nenhuma moção interior da graça. Em meados de outubro, o Bispo de Leiria dá a ordem expressa por ela solicitada, mas a vidente não consegue vencer as angústias interiores que a assaltam.
Consultado a respeito D. Antonio Garcia, administrador apostólico de Tuy e arcebispo designado de Valladolid, este aconselhava-a a expor a D. José suas dificuldades. Mas sua carta à vidente, datada da primeira quinzena de dezembro, ficou retida com a Superiora da Irmã Lúcia até meados do mês seguinte.
Antes disso, porém, em 2 de janeiro de 1944, Nossa Senhora dissipou-lhe todas as dúvidas, aparecendo a ela na enfermaria da Casa das Dorotéias em Tuy e ordenando que pusesse por escrito o que lhe era pedido. O que a vidente fez logo no dia seguinte (cfr. Pe. Joaquín María Alonso, La verdad sobre el secreto de Fátima, pp. 29-36; Cônego Dr. Sebastião Martins dos Reis, O Milagre do Sol e o Segredo de Fátima, p. 121; Pe. António Maria Martins SJ, Novos documentos de Fátima, pp. XXV-XXVI, nota 25).
Do longo itinerário que esse texto percorreu desde que foi entregue ao Bispo de Leiria, cinco meses depois, até ser publicado no ano 2000, trataremos pormenorizadamente no Capítulo IV.
Antes das aparições de Nossa Senhora, Lúcia, Francisco e Jacinta — Lúcia de Jesus dos Santos, e seus primos Francisco e Jacinta Marto, todos residentes na aldeia de Aljustrel, freguesia de Fátima — tiveram três visões do Anjo de Portugal, ou da Paz.
A atmosfera do sobrenatural, que nos envolveu, era tão intensa, que quase não nos dávamos conta da própria existência, por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição em que nos tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. A presença de Deus sentia-se tão intensa e íntima, que nem mesmo entre nós nos atrevíamos a falar. No dia seguinte, sentíamos o espírito ainda envolvido por essa atmosfera, que só muito lentamente foi desaparecendo.
Nesta aparição, nenhum pensou em falar, nem em recomendar o segredo. Ela de si o impôs. Era tão íntima, que não era fácil pronunciar sobre ela a menor palavra. Fez-nos talvez também maior impressão, por ser a primeira assim manifesta”.
A propósito de sua correspondência com o Pe. Gonçalves, a Irmã Lúcia alude, em determinada passagem, à censura a que era submetida e que lhe impedia ou dificultava tratar assuntos de consciência com ele. São suas palavras, em carta a esse mesmo Padre (21 de janeiro de 1940): “Há muito que eu também desejava escrever a V. Revcia., mas vários motivos mo têm impedido. O principal tem sido a censura. Escrever e não dizer o que precisava, parecia-me roubar-lhe tempo; escrevê-lo com a censura, impossível. A necessidade, por vezes, não tem sido pouca, mas paciência. Tudo tem passado, e o nosso bom Deus a tudo tem valido; conforme tem mandado a ferida, assim a tem curado. Ele bem sabe que é o único médico na terra. Na verdade, eu o confesso, também duvidava se V. Revcia. estaria disposto a gastar tempo comigo. Por isso agradeço imenso a carta de V. Revcia., e a caridade que usou comigo em me abrir caminho. Nosso Senhor recompense V. Revcia.” (Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 418).
* * *
Os diversos relatos redigidos pela Irmã Lúcia são habitualmente designados como I (primeira), II (segunda), III (terceira) e IV (quarta) Memória.
O primeiro, escrito num caderno pautado comum, é um repositório de memórias pessoais para a biografia de Jacinta. No dia 12 de setembro de 1935, ao ser feita a exumação dos restos mortais da pequena vidente de Fátima falecida em 1920, verificou-se que seu rosto se mantinha incorrupto. O Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, enviou à Irmã Lúcia uma fotografia que nessa ocasião se tirou, e ela, ao agradecer, referiu-se às virtudes da prima. O Prelado ordenou, então, à Irmã Lúcia, que escrevesse tudo o que sabia da vida de Jacinta, daí resultando o primeiro manuscrito, que ficou pronto por volta do Natal de 1935.
Em abril de 1937, o Pe. Ayres da Fonseca ponderou ao Bispo de Leiria que o primeiro relato da Irmã Lúcia permitia supor a existência de outros dados interessantes relativos às aparições e que permaneciam desconhecidos. A Irmã Lúcia pôs-se então a escrever, entre os dias 7 e 21 de novembro daquele ano — após nova ordem de D. José Alves Correia da Silva — a história de sua vida. Nesse segundo escrito, fala também, embora muito sumariamente, das aparições de Nossa Senhora, e relata, pela primeira vez publicamente, as aparições do Anjo. Diversas razões levaram-na a silenciar, até então, a respeito: um conselho do Arcipreste do Olival, Pe. Faustino José Jacinto Ferreira — a quem narrara as aparições — reforçado, mais tarde, por uma recomendação idêntica do Bispo de Leiria; por outro lado, as críticas e zombarias surgidas a propósito do relato das primeiras aparições do Anjo na primavera e verão de 1915, e as repreensões severas de sua mãe, induziram-na sempre a uma grande cautela e discrição. Aliás, chama a atenção, nas Memórias da Irmã Lúcia, a sua grande relutância em falar de si mesma e, por via de conseqüência, das aparições.
Em 1941, o Bispo de Leiria ordenou à vidente que escrevesse tudo o mais de que pudesse ainda lembrar-se a respeito da vida de sua prima, com vistas a uma nova edição do livro sobre Jacinta que o Cônego Galamba de Oliveira queria mandar imprimir. “Esta ordem — escreve a Irmã Lúcia — caiu-me no fundo da alma como um raio de luz, dizendo-me que era chegado o momento de revelar as duas primeiras partes do segredo” (Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 444). Assim, a Irmã Lúcia inicia o seu terceiro manuscrito revelando as duas primeiras partes do Segredo de Fátima. Em seguida, registra as impressões que elas causaram sobre o espírito de Jacinta. O relato é datado de 31 de agosto de 1941.
Surpreendido com tais revelações, o Cônego Galamba de Oliveira concluiu que a Irmã Lúcia não havia dito tudo nos documentos anteriores, e instou o Bispo de Leiria a que lhe ordenasse escrever um histórico completo das aparições: “Mande-lhe, Senhor Bispo, [...] que escreva TUDO. Mas TUDO. Que há de dar muitas voltas no Purgatório por ter calado tanta coisa”. A Irmã Lúcia se desculpa dizendo que agiu sempre por obediência. O Cônego Galamba insiste com o Bispo que lhe ordene “que diga TUDO, TUDO; que não oculte nada” (com o que aludia, ao que parece, também à terceira parte do Segredo). O Bispo, entretanto, prefere não se envolver: “Isso não mando. Em assuntos de segredos não me meto”. E ordena simplesmente, à vidente, que faça uma narração completa das aparições (cfr. IV Memória, pp. 314, 316 — os destaques em maiúscula são da própria Irmã Lúcia). Foi então redigido o quarto manuscrito, que leva a data de 8 de dezembro de 1941. Nele, a Irmã Lúcia faz pela primeira vez um relato sistemático e ordenado das aparições, declarando, por fim, que “advertidamente” nada omitiu de quanto podia ainda se lembrar, salvo, evidentemente, a terceira parte do Segredo, que não tinha até então ordem de revelar (cfr. IV Memória, pp. 316 e 352).
Imagem de Nossa Senhora de Fátima chorou em Nova Orleans |
Em abril de 1937, o Pe. Ayres da Fonseca ponderou ao Bispo de Leiria que o primeiro relato da Irmã Lúcia permitia supor a existência de outros dados interessantes relativos às aparições e que permaneciam desconhecidos. A Irmã Lúcia pôs-se então a escrever, entre os dias 7 e 21 de novembro daquele ano — após nova ordem de D. José Alves Correia da Silva — a história de sua vida. Nesse segundo escrito, fala também, embora muito sumariamente, das aparições de Nossa Senhora, e relata, pela primeira vez publicamente, as aparições do Anjo. Diversas razões levaram-na a silenciar, até então, a respeito: um conselho do Arcipreste do Olival, Pe. Faustino José Jacinto Ferreira — a quem narrara as aparições — reforçado, mais tarde, por uma recomendação idêntica do Bispo de Leiria; por outro lado, as críticas e zombarias surgidas a propósito do relato das primeiras aparições do Anjo na primavera e verão de 1915, e as repreensões severas de sua mãe, induziram-na sempre a uma grande cautela e discrição. Aliás, chama a atenção, nas Memórias da Irmã Lúcia, a sua grande relutância em falar de si mesma e, por via de conseqüência, das aparições.
Em 1941, o Bispo de Leiria ordenou à vidente que escrevesse tudo o mais de que pudesse ainda lembrar-se a respeito da vida de sua prima, com vistas a uma nova edição do livro sobre Jacinta que o Cônego Galamba de Oliveira queria mandar imprimir. “Esta ordem — escreve a Irmã Lúcia — caiu-me no fundo da alma como um raio de luz, dizendo-me que era chegado o momento de revelar as duas primeiras partes do segredo” (Memórias e Cartas da Irmã Lúcia, p. 444). Assim, a Irmã Lúcia inicia o seu terceiro manuscrito revelando as duas primeiras partes do Segredo de Fátima. Em seguida, registra as impressões que elas causaram sobre o espírito de Jacinta. O relato é datado de 31 de agosto de 1941.
Surpreendido com tais revelações, o Cônego Galamba de Oliveira concluiu que a Irmã Lúcia não havia dito tudo nos documentos anteriores, e instou o Bispo de Leiria a que lhe ordenasse escrever um histórico completo das aparições: “Mande-lhe, Senhor Bispo, [...] que escreva TUDO. Mas TUDO. Que há de dar muitas voltas no Purgatório por ter calado tanta coisa”. A Irmã Lúcia se desculpa dizendo que agiu sempre por obediência. O Cônego Galamba insiste com o Bispo que lhe ordene “que diga TUDO, TUDO; que não oculte nada” (com o que aludia, ao que parece, também à terceira parte do Segredo). O Bispo, entretanto, prefere não se envolver: “Isso não mando. Em assuntos de segredos não me meto”. E ordena simplesmente, à vidente, que faça uma narração completa das aparições (cfr. IV Memória, pp. 314, 316 — os destaques em maiúscula são da própria Irmã Lúcia). Foi então redigido o quarto manuscrito, que leva a data de 8 de dezembro de 1941. Nele, a Irmã Lúcia faz pela primeira vez um relato sistemático e ordenado das aparições, declarando, por fim, que “advertidamente” nada omitiu de quanto podia ainda se lembrar, salvo, evidentemente, a terceira parte do Segredo, que não tinha até então ordem de revelar (cfr. IV Memória, pp. 316 e 352).
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Consultado a respeito D. Antonio Garcia, administrador apostólico de Tuy e arcebispo designado de Valladolid, este aconselhava-a a expor a D. José suas dificuldades. Mas sua carta à vidente, datada da primeira quinzena de dezembro, ficou retida com a Superiora da Irmã Lúcia até meados do mês seguinte.
Antes disso, porém, em 2 de janeiro de 1944, Nossa Senhora dissipou-lhe todas as dúvidas, aparecendo a ela na enfermaria da Casa das Dorotéias em Tuy e ordenando que pusesse por escrito o que lhe era pedido. O que a vidente fez logo no dia seguinte (cfr. Pe. Joaquín María Alonso, La verdad sobre el secreto de Fátima, pp. 29-36; Cônego Dr. Sebastião Martins dos Reis, O Milagre do Sol e o Segredo de Fátima, p. 121; Pe. António Maria Martins SJ, Novos documentos de Fátima, pp. XXV-XXVI, nota 25).
Do longo itinerário que esse texto percorreu desde que foi entregue ao Bispo de Leiria, cinco meses depois, até ser publicado no ano 2000, trataremos pormenorizadamente no Capítulo IV.
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Na primeira versão deste trabalho procuramos reconstituir com a maior fidelidade possível, com base nas principais fontes bibliográficas então disponíveis, o transcorrer das aparições. Infelizmente, verificavam-se pequenas discrepâncias entre os melhores autores. Com a publicação dos manuscritos da Irmã Lúcia e dos volumes já editados da Documentação Crítica de Fátima, muitas dúvidas puderam ser dirimidas. Algumas, porém, ainda subsistem e outras surgiram após a divulgação da terceira parte do Segredo. Por essa razão, em 2001 nos dirigimos respeitosamente à autoridade competente para que as apresentasse à vidente ainda viva, a fim de que ela mesma, na medida do possível, as viesse a esclarecer. Pormenores do assunto serão expostos adiante, quando analisarmos o contexto em que se insere o terceiro Segredo (cfr. Capítulo II, Terceira aparição).
Assim, para satisfazer o desejo dos leitores de uma maior autenticidade quanto ao conteúdo da mensagem de Fátima, à medida que a documentação nova ia sendo publicada e novos acontecimentos ligados a Fátima iam ocorrendo, fomos introduzindo, nas sucessivas edições deste trabalho, as precisões e modificações necessárias para mantê-lo sempre atualizado. É o que se impunha mais uma vez, nesta oportunidade, tendo em vista a publicação da terceira parte do Segredo e o falecimento da Irmã Lúcia, que encerra o ciclo das revelações de Nossa Senhora aos videntes de Fátima. Não encerra porém, como é óbvio, a sua história e o cumprimento das profecias ali feitas, cujo desfecho, ao mesmo tempo grandiosamente trágico e cheio de perspectivas luminosas para a humanidade em geral e para a Santa Igreja em particular, ainda está por ocorrer.
Desta maneira, oferecendo agora ao público o presente trabalho consideravelmente ampliado, almejamos contribuir para que a mensagem de Nossa Senhora de Fátima seja cada vez mais conhecida, amada e acatada.
Assim, para satisfazer o desejo dos leitores de uma maior autenticidade quanto ao conteúdo da mensagem de Fátima, à medida que a documentação nova ia sendo publicada e novos acontecimentos ligados a Fátima iam ocorrendo, fomos introduzindo, nas sucessivas edições deste trabalho, as precisões e modificações necessárias para mantê-lo sempre atualizado. É o que se impunha mais uma vez, nesta oportunidade, tendo em vista a publicação da terceira parte do Segredo e o falecimento da Irmã Lúcia, que encerra o ciclo das revelações de Nossa Senhora aos videntes de Fátima. Não encerra porém, como é óbvio, a sua história e o cumprimento das profecias ali feitas, cujo desfecho, ao mesmo tempo grandiosamente trágico e cheio de perspectivas luminosas para a humanidade em geral e para a Santa Igreja em particular, ainda está por ocorrer.
Desta maneira, oferecendo agora ao público o presente trabalho consideravelmente ampliado, almejamos contribuir para que a mensagem de Nossa Senhora de Fátima seja cada vez mais conhecida, amada e acatada.
Capítulo I
Aparições do Anjo de Portugal
Primeira aparição do Anjo
A primeira aparição do Anjo deu-se na primavera ou no verão de 1916, numa loca (ou gruta) do outeiro do Cabeço, perto de Aljustrel, e desenrolou-se da seguinte maneira, conforme narra a Irmã Lúcia:
“Alguns momentos havia que jogávamos, e eis que um vento forte sacode as árvores e faz-nos levantar a vista para ver o que se passava, pois o dia estava sereno. Então começamos a ver, a alguma distância, sobre as árvores que se estendiam em direção ao nascente, uma luz mais branca que a neve, com a forma de um jovem transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios do sol.
À medida que se aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições: um jovem dos seus 14 a 15 anos, de uma grande beleza. Estávamos surpreendidos e meio absortos. Não dizíamos palavra.
Ao chegar junto de nós, disse:
— “Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo”.
E ajoelhando em terra, curvou a fronte até o chão. Levados por um movimento sobrenatural, imitamo-lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar:
— “Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam”.
Depois de repetir isto três vezes, ergueu-se e disse:
— “Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas”.
E desapareceu.
“Alguns momentos havia que jogávamos, e eis que um vento forte sacode as árvores e faz-nos levantar a vista para ver o que se passava, pois o dia estava sereno. Então começamos a ver, a alguma distância, sobre as árvores que se estendiam em direção ao nascente, uma luz mais branca que a neve, com a forma de um jovem transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios do sol.
À medida que se aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições: um jovem dos seus 14 a 15 anos, de uma grande beleza. Estávamos surpreendidos e meio absortos. Não dizíamos palavra.
Ao chegar junto de nós, disse:
— “Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo”.
E ajoelhando em terra, curvou a fronte até o chão. Levados por um movimento sobrenatural, imitamo-lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar:
— “Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam”.
Depois de repetir isto três vezes, ergueu-se e disse:
— “Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas”.
E desapareceu.
A atmosfera do sobrenatural, que nos envolveu, era tão intensa, que quase não nos dávamos conta da própria existência, por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição em que nos tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. A presença de Deus sentia-se tão intensa e íntima, que nem mesmo entre nós nos atrevíamos a falar. No dia seguinte, sentíamos o espírito ainda envolvido por essa atmosfera, que só muito lentamente foi desaparecendo.
Nesta aparição, nenhum pensou em falar, nem em recomendar o segredo. Ela de si o impôs. Era tão íntima, que não era fácil pronunciar sobre ela a menor palavra. Fez-nos talvez também maior impressão, por ser a primeira assim manifesta”.
(Cfr. II Memória, pp. 114, 116; IV Memória, pp. 318, 320; De Marchi, pp. 51-52; Walsh, pp. 39-40; Ayres da Fonseca, p. 121; Galamba de Oliveira, pp. 52-57).
Segunda aparição do Anjo
A segunda aparição deu-se no verão de 1916, sobre o poço da casa dos pais de Lúcia, junto ao qual as crianças brincavam. Assim narra a Irmã Lúcia o que o Anjo lhes disse — a ela e aos primos — então:
— “Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios”.
— “Como nos havemos de sacrificar?” — perguntei.
— “De tudo que puderdes, oferecei a Deus um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim sobre a vossa pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar”.
E desapareceu.
Estas palavras do Anjo gravaram-se em nosso espírito, como uma luz que nos fazia compreender quem era Deus; como nos amava e queria ser amado; o valor do sacrifício, e como ele Lhe era agradável; como, por atenção a ele, convertia os pecadores”.
— “Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios”.
— “Como nos havemos de sacrificar?” — perguntei.
— “De tudo que puderdes, oferecei a Deus um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim sobre a vossa pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar”.
E desapareceu.
Estas palavras do Anjo gravaram-se em nosso espírito, como uma luz que nos fazia compreender quem era Deus; como nos amava e queria ser amado; o valor do sacrifício, e como ele Lhe era agradável; como, por atenção a ele, convertia os pecadores”.
(Cfr. II Memória, p. 116; IV Memória, pp. 320, 322; De Marchi, p. 53; Walsh, p. 42; Ayres da Fonseca, pp. 121-122; Galamba de Oliveira, pp. 57-58).
Terceira aparição do Anjo
A terceira aparição ocorreu no fim do verão ou princípio do outono de 1916, novamente na Loca do Cabeço, e decorreu da seguinte forma, sempre de acordo com a descrição da Irmã Lúcia:
“Logo que aí chegamos, de joelhos, com os rostos em terra, começamos a repetir a oração do Anjo: “Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos, etc.” Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava, e vemos o Anjo trazendo na mão esquerda um cálice e suspensa sobre ele uma Hóstia, da qual caíam dentro do cálice algumas gotas de Sangue. Deixando o cálice e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra junto de nós e repetiu três vezes a oração:
— “Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.
Depois, levantando-se, tomou de novo na mão o cálice e a Hóstia, e deu-me a Hóstia a mim e o que continha o cálice deu-o a beber à Jacinta e ao Francisco, dizendo ao mesmo tempo:
— “Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus”.
De novo se prostrou em terra e repetiu conosco mais três vezes a mesmo oração: “Santíssima Trindade... etc.” e desapareceu.
Levados pela força do sobrenatural, que nos envolvia, imitávamos o Anjo em tudo, isto é, prostrando-nos como ele e repetindo as orações que ele dizia. A força da presença de Deus era tão intensa, que nos absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia privar-nos até do uso dos sentidos corporais por um grande espaço de tempo. Nesses dias fazíamos as ações materiais como que levados por esse mesmo ser sobrenatural que a isso nos impelia. A paz e a felicidade que sentíamos era grande, mas só íntima, completamente concentrada a alma em Deus. O abatimento físico que nos prostrava também era grande.
Não sei porque, as aparições de Nossa Senhora produziam em nós efeitos bem diferentes. A mesma alegria íntima, a mesma paz e felicidade. Mas, em vez desse abatimento físico, uma certa agilidade expansiva; em vez desse aniquilamento na Divina Presença, um exultar de alegria; em vez dessa dificuldade no falar, um certo entusiasmo comunicativo. Mas, apesar destes sentimentos, sentia a inspiração para calar, sobretudo algumas coisas. Nos interrogatórios, sentia a inspiração íntima que me indicava as respostas que, sem faltar à verdade, não descobrissem o que devia por então ocultar”.
“Logo que aí chegamos, de joelhos, com os rostos em terra, começamos a repetir a oração do Anjo: “Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos, etc.” Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava, e vemos o Anjo trazendo na mão esquerda um cálice e suspensa sobre ele uma Hóstia, da qual caíam dentro do cálice algumas gotas de Sangue. Deixando o cálice e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra junto de nós e repetiu três vezes a oração:
— “Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.
Depois, levantando-se, tomou de novo na mão o cálice e a Hóstia, e deu-me a Hóstia a mim e o que continha o cálice deu-o a beber à Jacinta e ao Francisco, dizendo ao mesmo tempo:
— “Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus”.
De novo se prostrou em terra e repetiu conosco mais três vezes a mesmo oração: “Santíssima Trindade... etc.” e desapareceu.
Levados pela força do sobrenatural, que nos envolvia, imitávamos o Anjo em tudo, isto é, prostrando-nos como ele e repetindo as orações que ele dizia. A força da presença de Deus era tão intensa, que nos absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia privar-nos até do uso dos sentidos corporais por um grande espaço de tempo. Nesses dias fazíamos as ações materiais como que levados por esse mesmo ser sobrenatural que a isso nos impelia. A paz e a felicidade que sentíamos era grande, mas só íntima, completamente concentrada a alma em Deus. O abatimento físico que nos prostrava também era grande.
Não sei porque, as aparições de Nossa Senhora produziam em nós efeitos bem diferentes. A mesma alegria íntima, a mesma paz e felicidade. Mas, em vez desse abatimento físico, uma certa agilidade expansiva; em vez desse aniquilamento na Divina Presença, um exultar de alegria; em vez dessa dificuldade no falar, um certo entusiasmo comunicativo. Mas, apesar destes sentimentos, sentia a inspiração para calar, sobretudo algumas coisas. Nos interrogatórios, sentia a inspiração íntima que me indicava as respostas que, sem faltar à verdade, não descobrissem o que devia por então ocultar”.
(Cfr. II Memória, p. 118; IV Memória, pp. 322-326; De Marchi, pp. 54-55; Walsh pp. 43-44; Ayres da Fonseca, pp. 122-123; Galamba de Oliveira, pp 58-59).
* * *
As aparições do Anjo, em 1916, foram precedidas por três outras visões, de abril a outubro de 1915, nas quais Lúcia e outras três pastorinhas, Maria Rosa Matias, Teresa Matias e Maria Justino, viram, também no outeiro do Cabeço, suspensa no ar sobre o arvoredo do vale, “uma como que nuvem mais branca que a neve, algo transparente, com forma humana”. Era “uma figura como se fosse uma estátua de neve, que os raios do sol tornavam algo transparente”. A descrição é da própria Irmã Lúcia (cfr. II Memória, p. 110; IV Memória, pp. 316 e 318; De Marchi, pp. 50-51; Walsh, pp. 27-28; Ayres da Fonseca, p. 119; Galamba de Oliveira, p. 51).
Capítulo II
Aparições da Santíssima Virgem
Quando das aparições de Nossa Senhora, Lúcia de Jesus dos Santos, Francisco e Jacinta Marto tinham 10, 9 e 7 anos de idade, respectivamente, tendo nascido em 22 de março de 1907, 11 de junho de 1908 e 11 de março de 1910. As três crianças moravam, como dissemos, em Aljustrel, lugarejo da freguesia de Fátima. As aparições se deram numa pequena propriedade dos pais de Lúcia, chamada Cova da Iria, a dois quilômetros e meio de Fátima, pela estrada de Leiria. Nossa Senhora aparecia sobre uma azinheira, ou carrasqueira, de um metro ou pouco mais de altura. Francisco apenas via Nossa Senhora, e não A ouvia. Jacinta via e ouvia. Lúcia via, ouvia, e falava com a Santíssima Virgem. As aparições ocorriam por volta do meio-dia.
Contraste entre as aparições do Anjo e as de Nossa Senhora
Respondendo a uma pergunta de Walsh, na entrevista que a ele concedeu, sobre se, ao relatar as palavras do Anjo e de Nossa Senhora, repetira as palavras exatas que ouvira, ou apenas dera o sentido geral, a Irmã Lúcia declarou:
— “As palavras do Anjo tinham uma propriedade intensa e dominadora, uma realidade sobrenatural, de modo que não podiam ser esquecidas. Pareciam gravar-se exata e indelevelmente na minha memória. Com as palavras de Nossa Senhora era diferente. Eu não podia estar segura de que cada palavra era exata. Foi antes o sentido que eu aprendi, e pus em palavras o que entendi. Não é fácil explicar isso” (Walsh, ed. em inglês, p. 224).
Não obstante essa dificuldade, de traduzir em palavras humanas o que ouvira de Nossa Senhora — como é comum em certos fenômenos místicos — a Irmã Lúcia sempre pôs, entretanto, todo o empenho em reproduzir palavra por palavra o que a Santíssima Virgem lhe comunicou. Isto se torna claro no interrogatório a que a submeteu o Pe. Iongen, e que a seguir reproduzimos:
— “Quis limitar-se, pergunta o Pe. Iongen, revelando o segredo, a dar a significação do que a Santa Virgem lhe disse, ou citou as suas palavras literalmente?”
— “Quando falo das aparições limito-me à significação das palavras; quando escrevo, faço diligência, ao contrário, de citar literalmente. Eu quis, portanto, escrever o segredo palavra por palavra”.
— “Está certa de ter conservado tudo na memória?”
— “Penso que sim”.
— “As palavras do segredo foram portanto reveladas pela ordem em que lhe foram comunicadas?”
— “Sim” (De Marchi, pp. 308-309).
— “As palavras do Anjo tinham uma propriedade intensa e dominadora, uma realidade sobrenatural, de modo que não podiam ser esquecidas. Pareciam gravar-se exata e indelevelmente na minha memória. Com as palavras de Nossa Senhora era diferente. Eu não podia estar segura de que cada palavra era exata. Foi antes o sentido que eu aprendi, e pus em palavras o que entendi. Não é fácil explicar isso” (Walsh, ed. em inglês, p. 224).
Não obstante essa dificuldade, de traduzir em palavras humanas o que ouvira de Nossa Senhora — como é comum em certos fenômenos místicos — a Irmã Lúcia sempre pôs, entretanto, todo o empenho em reproduzir palavra por palavra o que a Santíssima Virgem lhe comunicou. Isto se torna claro no interrogatório a que a submeteu o Pe. Iongen, e que a seguir reproduzimos:
— “Quis limitar-se, pergunta o Pe. Iongen, revelando o segredo, a dar a significação do que a Santa Virgem lhe disse, ou citou as suas palavras literalmente?”
— “Quando falo das aparições limito-me à significação das palavras; quando escrevo, faço diligência, ao contrário, de citar literalmente. Eu quis, portanto, escrever o segredo palavra por palavra”.
— “Está certa de ter conservado tudo na memória?”
— “Penso que sim”.
— “As palavras do segredo foram portanto reveladas pela ordem em que lhe foram comunicadas?”
— “Sim” (De Marchi, pp. 308-309).
Primeira aparição: 13 de maio de 1917
Brincavam os três videntes na Cova da Iria quando observaram dois clarões como de relâmpagos, após os quais viram a Mãe de Deus sobre a azinheira. Era “uma Senhora vestida toda de branco, mais brilhante que o sol, espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente”, descreve Lúcia. Sua face, indescritivelmente bela, não era “nem triste, nem alegre, mas séria”, com ar de suave censura. As mãos juntas, como a rezar, apoiadas no peito e voltadas para cima. Da mão direita pendia um rosário. As vestes pareciam feitas só de luz. A túnica era branca, e branco o manto, orlado de ouro, que cobria a cabeça da Virgem e Lhe descia aos pés. Não se Lhe viam os cabelos e as orelhas. Os traços da fisionomia, Lúcia nunca pôde descrevê-los, pois foi-Lhe impossível fitar o rosto celestial, que ofuscava. Os videntes estavam tão perto de Nossa Senhora — a um metro e meio de distância, mais ou menos — que ficavam dentro da luz que A cercava, ou que Ela espargia. O colóquio desenvolveu-se da seguinte maneira:
Nossa Senhora: “Não tenhais medo, Eu não vos faço mal”.
Lúcia: “Donde é Vossemecê?”
Nossa Senhora: “Sou do Céu” (e Nossa Senhora ergueu a mão para apontar o céu).
Lúcia: “E que é que Vossemecê me quer?”
Nossa Senhora: “Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos (1), no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez”.
1. Os videntes sempre entenderam que a última aparição seria em outubro, o que aliás lhes foi explicitamente dito na aparição de agosto. Os “seis meses seguidos” incluem, portanto, a primeira aparição. A sétima, da qual se falará adiante, está fora da série (cfr.Capítulo IV).
Lúcia: “E eu também vou para o Céu?”
Nossa Senhora: “Sim, vais”.
Lúcia: “E a Jacinta?”
Nossa Senhora: “Também”.
Lúcia: “E o Francisco?”
Nossa Senhora: “Também, mas tem que rezar muitos terços”.
Lúcia: “A Maria das Neves já está no Céu?”
Nossa Senhora: “Sim, está”.
Lúcia: “E a Amélia?”
Nossa Senhora: “Estará no Purgatório até o fim do mundo.
Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?”
Lúcia: “Sim, queremos”.
Nossa Senhora: “Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto”.
Foi ao pronunciar estas últimas palavras (a graça de Deus, etc.), que abriu pela primeira vez as mãos comunicando-nos — é a Irmã Lúcia quem escreve — uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazia-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz mais claramente do que nos vemos no melhor dos espelhos. Então, por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetimos intimamente: “Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento”.
Passados os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou:
— “Rezem o terço todos os dias para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra”.
Em seguida — descreve a Irmã Lúcia — começou a elevar-Se serenamente, subindo em direção ao nascente, até desaparecer na imensidade da distância. A luz que A circundava ia como que abrindo um caminho no cerrado dos astros”.
(Cfr. II Memória, p. 126; IV Memória, pp. 330, 336; De Marchi, pp. 58-60; Walsh, pp. 52-53; Ayres da Fonseca, pp. 23-26; Galamba de Oliveira, pp. 63-64).
Nossa Senhora: “Sim, vais”.
Lúcia: “E a Jacinta?”
Nossa Senhora: “Também”.
Lúcia: “E o Francisco?”
Nossa Senhora: “Também, mas tem que rezar muitos terços”.
Lúcia: “A Maria das Neves já está no Céu?”
Nossa Senhora: “Sim, está”.
Lúcia: “E a Amélia?”
Nossa Senhora: “Estará no Purgatório até o fim do mundo.
Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?”
Lúcia: “Sim, queremos”.
Nossa Senhora: “Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto”.
Foi ao pronunciar estas últimas palavras (a graça de Deus, etc.), que abriu pela primeira vez as mãos comunicando-nos — é a Irmã Lúcia quem escreve — uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazia-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz mais claramente do que nos vemos no melhor dos espelhos. Então, por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetimos intimamente: “Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento”.
Passados os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou:
— “Rezem o terço todos os dias para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra”.
Em seguida — descreve a Irmã Lúcia — começou a elevar-Se serenamente, subindo em direção ao nascente, até desaparecer na imensidade da distância. A luz que A circundava ia como que abrindo um caminho no cerrado dos astros”.
(Cfr. II Memória, p. 126; IV Memória, pp. 330, 336; De Marchi, pp. 58-60; Walsh, pp. 52-53; Ayres da Fonseca, pp. 23-26; Galamba de Oliveira, pp. 63-64).
Segunda aparição: 13 de junho de 1917
Antes da segunda aparição, os videntes notaram novamente um clarão, a que chamavam relâmpago, mas que não era propriamente tal, e sim o reflexo de uma luz que se aproximava. Alguns dos espectadores, que em número de aproximadamente cinqüenta tinham acorrido ao local, notaram que a luz do sol se obscureceu durante os minutos que se seguiram ao início do colóquio. Outros disseram que o topo da azinheira, coberto de brotos, pareceu curvar-se como sob um peso, um momento antes de Lúcia falar. Durante o colóquio de Nossa Senhora com os videntes, alguns ouviram um sussuro como se fosse o zumbido de uma abelha.
Lúcia: “Vossemecê que me quer?”
Nossa Senhora: “Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias, e que aprendais a ler (2). Depois direi o que quero”.
Lúcia: “Vossemecê que me quer?”
Nossa Senhora: “Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias, e que aprendais a ler (2). Depois direi o que quero”.
2. Sempre se entendeu que a ordem de aprender a ler era apenas para Lúcia, uma vez que os outros videntes iriam ser levados em breve para o Céu, conforme promessa de Nossa Senhora nesta mesma aparição. Entretanto, a Irmã Lúcia escreve no plural: “e que aprendam a ler” (cometendo, aliás, um pequeno lapso de redação, pois passa da segunda para a terceira pessoa do plural, na mesma frase).
Lúcia pediu a cura de uma pessoa doente.
Nossa Senhora: “Se se converter, curar-se-á durante o ano”.
Lúcia: “Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu”.
Nossa Senhora: “Sim, à Jacinta e ao Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação; e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o seu trono”.
Lúcia: “Fico cá sozinha?”
Nossa Senhora: “Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”.
Foi no momento que disse estas últimas palavras — conta a Irmã Lúcia — que abriu as mãos e nos comunicou pela segunda vez o reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco pareciam estar na parte dessa luz que se elevava para o Céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora estava um Coração cercado de espinhos que pareciam estar nele cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação” (3).
Nossa Senhora: “Se se converter, curar-se-á durante o ano”.
Lúcia: “Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu”.
Nossa Senhora: “Sim, à Jacinta e ao Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação; e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o seu trono”.
Lúcia: “Fico cá sozinha?”
Nossa Senhora: “Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”.
Foi no momento que disse estas últimas palavras — conta a Irmã Lúcia — que abriu as mãos e nos comunicou pela segunda vez o reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco pareciam estar na parte dessa luz que se elevava para o Céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora estava um Coração cercado de espinhos que pareciam estar nele cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação” (3).
3. Os videntes guardaram a mais estrita reserva sobre o que lhes foi dito na aparição do mês de junho, acerca da devoção ao Imaculado Coração de Maria, chegando mesmo a declarar que Nossa Senhora lhes tinha revelado um segredo (o chamado “segredo de junho”). Em suas Memórias, a Irmã Lúcia explica que a Santíssima Virgem não lhes pediu propriamente segredo sobre esse ponto. “Mas sentíamos que Deus a isso nos movia”, acrescentou a vidente (IV Memória, p. 336).
Quando se desvaneceu esta visão, a Senhora, envolta ainda na luz que dEla irradiava, elevou-Se da arvorezinha sem esforço, suavemente, na direção do leste, até desaparecer de todo. Algumas pessoas mais próximas notaram que os brotos do topo da azinheira estavam tombados na mesma direção, como se as vestes da Senhora os tivessem arrastado. Só algumas horas mais tarde retomaram a posição natural.
(Cfr. II Memória, p. 130; IV Memória, pp. 334 e 336; p. 400; De Marchi, pp. 76-78; Walsh, pp. 65-66; Ayres da Fonseca, pp. 34-36; Galamba de Oliveira, p. 70).
(Cfr. II Memória, p. 130; IV Memória, pp. 334 e 336; p. 400; De Marchi, pp. 76-78; Walsh, pp. 65-66; Ayres da Fonseca, pp. 34-36; Galamba de Oliveira, p. 70).
Terceira aparição: 13 de julho de 1917
Ao dar-se a terceira aparição, uma nuvenzinha acinzentada pairou sobre a azinheira, o sol se ofuscou, uma aragem fresca soprou sobre a serra, apesar de se estar no pino do verão. O sr. Marto, pai de Jacinta e Francisco, que assim o refere, diz que ouviu também um sussuro como o de moscas num cântaro vazio. Os videntes viram o reflexo da costumada luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira.
Lúcia: “Vossemecê que me quer?”
Nossa Senhora: “Quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o terço todos os dias em honra de Nossa Senhora do Rosário para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer”.
Lúcia: “Queria pedir-lhe para nos dizer quem é, e para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemecê nos aparece”.
Nossa Senhora: “Continuem a vir aqui todos os meses. Em outubro direi quem sou, o que quero, e farei um milagre que todos hão de ver para acreditarem”.
Lúcia apresenta então uma série de pedidos de conversões, curas e outras graças. Nossa Senhora responde recomendando sempre a prática do terço que assim alcançariam as graças durante o ano (4).
Lúcia: “Vossemecê que me quer?”
Nossa Senhora: “Quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o terço todos os dias em honra de Nossa Senhora do Rosário para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer”.
Lúcia: “Queria pedir-lhe para nos dizer quem é, e para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemecê nos aparece”.
Nossa Senhora: “Continuem a vir aqui todos os meses. Em outubro direi quem sou, o que quero, e farei um milagre que todos hão de ver para acreditarem”.
Lúcia apresenta então uma série de pedidos de conversões, curas e outras graças. Nossa Senhora responde recomendando sempre a prática do terço que assim alcançariam as graças durante o ano (4).
4. Os autores fornecem alguns detalhes sobre as graças aqui pedidas por Lúcia a Nossa Senhora. Uma delas foi a cura do filho paralítico de Maria Carreira. Nossa Senhora respondeu que não o curaria nem o tiraria de sua pobreza, mas que rezasse o terço todos os dias em família e dar-lhe-ia os meios de ganhar a vida (cfr. De Marchi, p. 91, e Ayres da Fonseca, p. 42).
Outro enfermo pedia para ir em breve para o Céu. Nossa Senhora respondeu que não tivesse pressa, que bem sabia quando o havia de vir buscar (cfr. De Marchi, p. 91).
Walsh (p. 86) refere que “Jacinta falou [a seus pais] no desejo de Nossa Senhora que fosse o terço rezado, todos os dias, em cada família”. Entretanto, a única referência que encontramos a essa piedosa prática, nos relatos das aparições, é o conselho que acabamos de referir, dado ao filho de Maria Carreira.
Depois prosseguiu: “Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes e em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria”.
Outro enfermo pedia para ir em breve para o Céu. Nossa Senhora respondeu que não tivesse pressa, que bem sabia quando o havia de vir buscar (cfr. De Marchi, p. 91).
Walsh (p. 86) refere que “Jacinta falou [a seus pais] no desejo de Nossa Senhora que fosse o terço rezado, todos os dias, em cada família”. Entretanto, a única referência que encontramos a essa piedosa prática, nos relatos das aparições, é o conselho que acabamos de referir, dado ao filho de Maria Carreira.
Depois prosseguiu: “Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes e em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria”.
Primeira parte do Segredo
A visão do Inferno
“Ao dizer estas últimas palavras — narra a Irmã Lúcia — abriu de novo as mãos como nos dois meses passados. O reflexo [de luz que elas expediam] pareceu penetrar a terra e vimos como que um grande mar de fogo e mergulhados nesse fogo os demônios e as almas como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados — semelhante ao cair das fagulhas nos grandes incêndios — sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e faziam estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa”.
A visão demorou apenas um momento, durante o qual Lúcia soltou um “ai!”. Ela comenta que, se não fosse a promessa de Nossa Senhora de os levar para o Céu, os videntes teriam morrido de susto e pavor.
A visão demorou apenas um momento, durante o qual Lúcia soltou um “ai!”. Ela comenta que, se não fosse a promessa de Nossa Senhora de os levar para o Céu, os videntes teriam morrido de susto e pavor.
Segunda parte do Segredo
O anúncio de um Castigo e dos meios para evitá-lo
Assustados, pois, e como que a pedir socorro, os videntes, levantaram os olhos para Nossa Senhora, que lhes disse com bondade e tristeza:
Nossa Senhora: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração.
Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz.
A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior (5). Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.
Nossa Senhora: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração.
Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz.
A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior (5). Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.
5. Nas declarações prestadas em fevereiro de 1946 ao Montfortino holandês Pe. Iongen, a Irmã Lúcia confirmou ter ouvido Nossa Senhora pronunciar o nome de Pio XI, não sabendo, na ocasião, se se tratava de um Papa ou de um Rei.
Para a Irmã Lúcia não representa maior dificuldade o fato de se entender habitualmente que a guerra começou somente sob o pontificado de Pio XII. Observa ela que a anexação da Áustria — e, poderíamos acrescentar, vários outros acontecimentos políticos do fim do reinado de Pio XI — constituem autênticos prolegômenos da conflagração, a qual se configuraria inteiramente como tal algum tempo depois (cfr. entrevista ao Pe. Iongen, em De Marchi, p. 309).
Para a Irmã Lúcia não representa maior dificuldade o fato de se entender habitualmente que a guerra começou somente sob o pontificado de Pio XII. Observa ela que a anexação da Áustria — e, poderíamos acrescentar, vários outros acontecimentos políticos do fim do reinado de Pio XI — constituem autênticos prolegômenos da conflagração, a qual se configuraria inteiramente como tal algum tempo depois (cfr. entrevista ao Pe. Iongen, em De Marchi, p. 309).
Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.
Em Portugal se conservará sempre o Dogma da Fé etc.
Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco, sim, podeis dizê-lo.
Em Portugal se conservará sempre o Dogma da Fé etc.
Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco, sim, podeis dizê-lo.
Comentários
O “grande sinal” de que Deus vai punir o mundo
Lúcia julgou ver “o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes” na luz extraordinária — que os astrônomos tomaram como um aurora boreal — que iluminou os céus da Europa na noite de 25 para 26 de janeiro de 1938 (das 20h45 até 1h15, com breves intermitências). Convencida de que a guerra mundial — que “havia de ser horrível, horrível” — ia deflagrar, redobrou de esforços para obter que se atendesse aos pedidos que — como se verá no Capítulo IV — lhe tinham sido comunicados. Escreveu uma carta diretamente ao Papa Pio XI, nesse sentido (cfr. De Marchi, p. 92; Walsh, pp. 179-181; Ayres da Fonseca, p. 45).
O castigo predito na segunda parte do Segredo teria consistido exclusivamente na guerra de 1939-1945? A análise do texto parece levar à conclusão de que a segunda guerra mundial não foi senão o início ou vestíbulo do grande castigo.
De fato, Nossa Senhora anuncia que “várias nações serão aniquiladas”. Ora, várias nações foram duramente punidas durante a guerra e depois dela, mas não se pode dizer que tenham sido aniquiladas.
Por outro lado, a Irmã Lúcia, em entrevista que concedeu a Walsh, já depois de terminada a conflagração (15 de julho de 1946), observou: “Se isto for feito [a consagração da Rússia], Ela[a Santíssima Virgem] converterá a Rússia, e haverá paz. Se não, os erros da Rússia se propagarão por todos os países do mundo”. — “Na sua opinião, perguntou Walsh, isto significa que todos os países, sem exceção, serão conquistados pelo comunismo?” — “Sim”, respondeu a vidente (Walsh, ed. em inglês, p. 226).
Ora, a expansão do comunismo e a sua difusão ideológica por todo o mundo começaram mais definidamente com o fim da guerra. E não cessou sequer com a queda do Muro de Berlim (1989) e o colapso da União Soviética (1991), pois, metamorfoseado, prossegue sua expansão em diversas partes do mundo, inclusive na “católica” América Latina. Assim, deve-se pensar que o castigo anunciado pela Mãe de Deus continua em curso.
Finalmente, se o castigo já tivesse passado, dever-se-ia também ter cumprido a parte da mensagem que fala da vitória de Maria Santíssima e da instauração de seu Reino, claramente indicadas pelas palavras: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”. Ora, isto é justamente o que menos se pode dizer que tenha ocorrido.
Por tudo isto, parece-nos que os terríveis sofrimentos da segunda guerra mundial não devem ser considerados senão como prolegômenos dos castigos anunciados por Nossa Senhora e que ainda estão por se completar.
O castigo predito na segunda parte do Segredo teria consistido exclusivamente na guerra de 1939-1945? A análise do texto parece levar à conclusão de que a segunda guerra mundial não foi senão o início ou vestíbulo do grande castigo.
De fato, Nossa Senhora anuncia que “várias nações serão aniquiladas”. Ora, várias nações foram duramente punidas durante a guerra e depois dela, mas não se pode dizer que tenham sido aniquiladas.
Por outro lado, a Irmã Lúcia, em entrevista que concedeu a Walsh, já depois de terminada a conflagração (15 de julho de 1946), observou: “Se isto for feito [a consagração da Rússia], Ela[a Santíssima Virgem] converterá a Rússia, e haverá paz. Se não, os erros da Rússia se propagarão por todos os países do mundo”. — “Na sua opinião, perguntou Walsh, isto significa que todos os países, sem exceção, serão conquistados pelo comunismo?” — “Sim”, respondeu a vidente (Walsh, ed. em inglês, p. 226).
Ora, a expansão do comunismo e a sua difusão ideológica por todo o mundo começaram mais definidamente com o fim da guerra. E não cessou sequer com a queda do Muro de Berlim (1989) e o colapso da União Soviética (1991), pois, metamorfoseado, prossegue sua expansão em diversas partes do mundo, inclusive na “católica” América Latina. Assim, deve-se pensar que o castigo anunciado pela Mãe de Deus continua em curso.
Finalmente, se o castigo já tivesse passado, dever-se-ia também ter cumprido a parte da mensagem que fala da vitória de Maria Santíssima e da instauração de seu Reino, claramente indicadas pelas palavras: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”. Ora, isto é justamente o que menos se pode dizer que tenha ocorrido.
Por tudo isto, parece-nos que os terríveis sofrimentos da segunda guerra mundial não devem ser considerados senão como prolegômenos dos castigos anunciados por Nossa Senhora e que ainda estão por se completar.
Crise da fé — crise da Igreja
A frase “Em Portugal se conservará sempre o Dogma da Fé” se encerrava, no manuscrito da Irmã Lúcia (IV Memória, p. 340), com um etc. Ao escrever a IV Memória, a Irmã Lúcia declara explicitamente que “excetuando a parte do segredo que por agora não me é permitido revelar, direi tudo, advertidamente não deixarei nada” (p. 316). Chegava-se assim facilmente à conclusão de que a terceira parte do Segredo se inseria precisamente aqui.
Feita por fim essa revelação, no dia 26 de junho de 2000, a frase em questão deve, pois, ser considerada, salvo ulteriores esclarecimentos, como conclusiva da segunda parte do Segredo, e não como a frase inicial da terceira parte, conforme se chegou a pensar.
O que essa frase tem de interessante é que, colocada desse modo no final do segundo Segredo, ela parece ficar solta no ar, o que levava os leitores à idéia de que o terceiro Segredo seria uma explanação dela. Como o terceiro Segredo, ora divulgado pela Santa Sé, constitui algo de natureza bem diversa — uma visão e não um texto discursivo — impõe-se reler o segundo Segredo tomando-a como sentença final.
Ora, desta frase concluíram os fatimólogos, de uma maneira praticamente unânime, ser ela indicativa de uma grande crise da fé que afetaria o mundo inteiro, tornando-se digno de nota o fato de que numa nação — Portugal — o Dogma da Fé sempre se conservaria (o que, aliás, não exclui que, nessa mesma nação, recebesse duros golpes).
Uma crise da fé de tais proporções desemboca naturalmente numa crise da Igreja, e está na raiz mesma dessa crise.
O fato de a terceira parte do Segredo não conter essa explanação, em nada afeta o acerto dela, que, ademais, basta ter olhos para ver e ouvidos para ouvir. Livros volumosos já se têm escrito sobre o assunto. Para os efeitos deste comentário é suficiente lembrar os célebres pronunciamentos de Paulo VI sobre o processo de autodemolição instalado na Igreja durante a crise pós-conciliar (alocução de 7 de dezembro de 1968 aos alunos do Seminário Lombardo) e a terrível sensação do Pontífice de que, após o Concílio, “por alguma fissura tenha penetrado a fumaça de Satanás no templo de Deus” (alocução de 29 de junho de 1972, na comemoração da Festa dos Apóstolos São Pedro e São Paulo). Também João Paulo II se referiu diversas vezes a essa crise, e num documento solene denunciou os graves erros doutrinários e práticos no campo moral que entraram a circular na Igreja, “no âmbito das discussões teológicas pós-conciliares” (encíclica Veritatis splendor, de 6 de agosto de 1993, no29).
Que ligação fazer entre essa crise e o que vem dito no corpo da segunda parte do Segredo?
Um dos aspectos mais espantosos da crise da Igreja é justamente o da infiltração esquerdista em meios católicos. Esse aspecto já era tão alarmante em 1968, que nesse ano 1.600.368 brasileiros, 266.512 argentinos, 121.210 chilenos e 37.111 uruguaios subscreveram uma mensagem a S.S. o Papa Paulo VI pedindo urgentes medidas para conter tal infiltração (os memoráveis abaixo-assinados foram promovidos pelas Sociedades de Defesa da Tradição, Família e Propriedade dos respectivos países).
Seria, aliás, muito limitativo restringir os erros do marxismo aos aspectos econômicos, sociais ou políticos. O seu igualitarismo radical é de natureza metafísica e afeta todas as suas concepções antropológicas, morais e, paradoxalmente, teológicas (apesar do seu fundamental ateísmo). Por isso, em 1984, a Congregação para a Doutrina da Fé se viu na contingência de denunciar, em documento de larga repercussão, a infiltração de erros marxistas até em certas correntes da Teologia da Libertação.
Ora, o comunismo é exatamente o flagelo com que Deus quis punir o mundo de seus crimes. Nossa Senhora diz, na segunda parte do Segredo, que “a Rússia espalhará os seus erros pelo mundo”. Quando vemos que esses erros atingiram a nau sacrossanta da Igreja Católica, torna-se clara a correlação entre o núcleo do segundo Segredo e sua frase final, referente à conservação da fé em Portugal, que desvenda aos nossos olhos a crise na Igreja.
Assim, é lícito pensar que, se Nossa Senhora não julgou necessário explanar detalhadamente essa crise, entretanto Ela nos deixou, em sua maternal bondade, uma simples frase a partir da qual não só os teólogos experientes, como até os simples fiéis instruídos podem deduzir a existência de uma crise da fé — crise da Igreja e abrir os olhos para ela.
Desse modo, uma frase aparentemente suspensa no ar — “Em Portugal se conservará...” — é rica de sentido e conteúdo, e nos alerta para uma pungente realidade que, sem essa frase, muitos talvez não soubessem avaliar em toda a sua extensão e transcendência.
Feita por fim essa revelação, no dia 26 de junho de 2000, a frase em questão deve, pois, ser considerada, salvo ulteriores esclarecimentos, como conclusiva da segunda parte do Segredo, e não como a frase inicial da terceira parte, conforme se chegou a pensar.
O que essa frase tem de interessante é que, colocada desse modo no final do segundo Segredo, ela parece ficar solta no ar, o que levava os leitores à idéia de que o terceiro Segredo seria uma explanação dela. Como o terceiro Segredo, ora divulgado pela Santa Sé, constitui algo de natureza bem diversa — uma visão e não um texto discursivo — impõe-se reler o segundo Segredo tomando-a como sentença final.
Ora, desta frase concluíram os fatimólogos, de uma maneira praticamente unânime, ser ela indicativa de uma grande crise da fé que afetaria o mundo inteiro, tornando-se digno de nota o fato de que numa nação — Portugal — o Dogma da Fé sempre se conservaria (o que, aliás, não exclui que, nessa mesma nação, recebesse duros golpes).
Uma crise da fé de tais proporções desemboca naturalmente numa crise da Igreja, e está na raiz mesma dessa crise.
O fato de a terceira parte do Segredo não conter essa explanação, em nada afeta o acerto dela, que, ademais, basta ter olhos para ver e ouvidos para ouvir. Livros volumosos já se têm escrito sobre o assunto. Para os efeitos deste comentário é suficiente lembrar os célebres pronunciamentos de Paulo VI sobre o processo de autodemolição instalado na Igreja durante a crise pós-conciliar (alocução de 7 de dezembro de 1968 aos alunos do Seminário Lombardo) e a terrível sensação do Pontífice de que, após o Concílio, “por alguma fissura tenha penetrado a fumaça de Satanás no templo de Deus” (alocução de 29 de junho de 1972, na comemoração da Festa dos Apóstolos São Pedro e São Paulo). Também João Paulo II se referiu diversas vezes a essa crise, e num documento solene denunciou os graves erros doutrinários e práticos no campo moral que entraram a circular na Igreja, “no âmbito das discussões teológicas pós-conciliares” (encíclica Veritatis splendor, de 6 de agosto de 1993, no29).
Que ligação fazer entre essa crise e o que vem dito no corpo da segunda parte do Segredo?
Um dos aspectos mais espantosos da crise da Igreja é justamente o da infiltração esquerdista em meios católicos. Esse aspecto já era tão alarmante em 1968, que nesse ano 1.600.368 brasileiros, 266.512 argentinos, 121.210 chilenos e 37.111 uruguaios subscreveram uma mensagem a S.S. o Papa Paulo VI pedindo urgentes medidas para conter tal infiltração (os memoráveis abaixo-assinados foram promovidos pelas Sociedades de Defesa da Tradição, Família e Propriedade dos respectivos países).
Seria, aliás, muito limitativo restringir os erros do marxismo aos aspectos econômicos, sociais ou políticos. O seu igualitarismo radical é de natureza metafísica e afeta todas as suas concepções antropológicas, morais e, paradoxalmente, teológicas (apesar do seu fundamental ateísmo). Por isso, em 1984, a Congregação para a Doutrina da Fé se viu na contingência de denunciar, em documento de larga repercussão, a infiltração de erros marxistas até em certas correntes da Teologia da Libertação.
Ora, o comunismo é exatamente o flagelo com que Deus quis punir o mundo de seus crimes. Nossa Senhora diz, na segunda parte do Segredo, que “a Rússia espalhará os seus erros pelo mundo”. Quando vemos que esses erros atingiram a nau sacrossanta da Igreja Católica, torna-se clara a correlação entre o núcleo do segundo Segredo e sua frase final, referente à conservação da fé em Portugal, que desvenda aos nossos olhos a crise na Igreja.
Assim, é lícito pensar que, se Nossa Senhora não julgou necessário explanar detalhadamente essa crise, entretanto Ela nos deixou, em sua maternal bondade, uma simples frase a partir da qual não só os teólogos experientes, como até os simples fiéis instruídos podem deduzir a existência de uma crise da fé — crise da Igreja e abrir os olhos para ela.
Desse modo, uma frase aparentemente suspensa no ar — “Em Portugal se conservará...” — é rica de sentido e conteúdo, e nos alerta para uma pungente realidade que, sem essa frase, muitos talvez não soubessem avaliar em toda a sua extensão e transcendência.
A infiltração marxista em outras correntes progressistas
Não foi, entretanto, só nas correntes extremadas da Teologia da Libertação — como acaba de ser lembrado — que a ideologia marxista encontrou campo propício para infiltração. Em outras correntes teológicas progressistas, a fascinação pela doutrina de Marx levou alguns a pensarem que seria possível haver um comunismo não ateu, de forma que, extirpado dele o ateísmo, o comunismo até seria bom! E importantes próceres do progressismo dito católico chegaram a preconizar que aparecesse em nossos dias um novo “Santo Tomás de Aquino” que “cristianizasse” o marxismo, assim como Santo Tomás expurgou os erros da filosofia de Aristóteles e a aproveitou para melhor explanar a doutrina católica.
Sucede que não pode haver um comunismo não ateu pela simples razão de que o ateísmo constitui o cerne do pensamento marxista, o qual rejeita Deus em todas as suas concepções científicas, econômicas, culturais, sociológicas, políticas, morais e religiosas.
Dessa forma, certas correntes teológicas pervadidas, em grau maior ou menor, pelas concepções marxistas deixam transparecer esse ateísmo fundamental no relativismo generalizado que professam (não existe o Absoluto, tudo é relativo). Assim, por exemplo, no campo moral, chegam a defender o aborto, a eutanásia, o controle antinatural da natalidade, a pesquisa genética com embriões humanos, o “casamento” homossexual, etc.; e no campo social e político, manifestam um laicismo radical (que implica na exclusão de Deus de todos os aspectos da vida). Essas opiniões relativistas e secularizadas se refletem inclusive no campo eclesiológico (ao preconizarem a abolição do celibato sacerdotal, a administração dos Sacramentos a pessoas divorciadas e recasadas, etc.) e até no campo litúrgico, com a realização de cerimônias dessacralizadas, em que o senso do mistério e do sagrado está quase que completamente ausente, quando não ausente de todo. Nelas, Deus termina sendo o grande marginalizado. Não admira que essas igrejas, esvaziadas de Deus, se tenham esvaziado também de fiéis.
Tais são manifestações evidentes da crise da Igreja, hoje do conhecimento da generalidade dos fiéis. Para essa crise que viria, conseqüência inevitável da crise na fé, Nossa Senhora discretamente atraiu a atenção na frase final da segunda parte do Segredo de Fátima (cfr. Comentário anterior sobre Crise da fé — crise da Igreja).
Sucede que não pode haver um comunismo não ateu pela simples razão de que o ateísmo constitui o cerne do pensamento marxista, o qual rejeita Deus em todas as suas concepções científicas, econômicas, culturais, sociológicas, políticas, morais e religiosas.
Dessa forma, certas correntes teológicas pervadidas, em grau maior ou menor, pelas concepções marxistas deixam transparecer esse ateísmo fundamental no relativismo generalizado que professam (não existe o Absoluto, tudo é relativo). Assim, por exemplo, no campo moral, chegam a defender o aborto, a eutanásia, o controle antinatural da natalidade, a pesquisa genética com embriões humanos, o “casamento” homossexual, etc.; e no campo social e político, manifestam um laicismo radical (que implica na exclusão de Deus de todos os aspectos da vida). Essas opiniões relativistas e secularizadas se refletem inclusive no campo eclesiológico (ao preconizarem a abolição do celibato sacerdotal, a administração dos Sacramentos a pessoas divorciadas e recasadas, etc.) e até no campo litúrgico, com a realização de cerimônias dessacralizadas, em que o senso do mistério e do sagrado está quase que completamente ausente, quando não ausente de todo. Nelas, Deus termina sendo o grande marginalizado. Não admira que essas igrejas, esvaziadas de Deus, se tenham esvaziado também de fiéis.
Tais são manifestações evidentes da crise da Igreja, hoje do conhecimento da generalidade dos fiéis. Para essa crise que viria, conseqüência inevitável da crise na fé, Nossa Senhora discretamente atraiu a atenção na frase final da segunda parte do Segredo de Fátima (cfr. Comentário anterior sobre Crise da fé — crise da Igreja).
Ponto de inserção da terceira parte do Segredo
Ao redigir a terceira parte do Segredo, a Irmã Lúcia não indicou o ponto exato em que essa parte deveria ser inserida na narração por ela feita da terceira aparição (cfr. IV Memória, pp. 336-342). O ponto natural de inserção seria no lugar do etc., conforme acabamos de ponderar. Neste caso, o inciso final “Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco, sim, podeis dizê-lo” se situaria após a visão que constitui o terceiro Segredo ora divulgado.
Diante desta solução, ponderaram alguns que isso poderia significar não ter sido Francisco favorecido com tal visão. Ora, Francisco nada ouvia, mas via tudo que se passava. Logo, a inserção da terceira parte antes dessa frase deveria ser excluída.
Tal conclusão, entretanto, parece excessiva. Com efeito, as três partes do Segredo, embora distintas, constituem um todo único e harmônico, e assim, a nosso ver, a proibição de divulgá-lo — “Isto não o digais a ninguém” — entraria perfeitamente bem ao seu final. A permissão para contá-lo ao Francisco, embora dita ao final do Segredo, se referiria, obviamente, à parte discursiva (segunda parte).
A outra alternativa seria encaixar a terceira parte do Segredo após a frase “Ao Francisco, sim, podeis dizê-lo”. Mas, por seu turno, tal solução teria o inconveniente de excluir a terceira parte do Segredo — justamente ela! — da proibição de divulgação.
Mas tampouco este raciocínio deve ser considerado rigorosamente conclusivo. Ainda que a proibição tivesse sido feita ao fim da segunda parte do Segredo, Nossa Senhora poderia ter inculcado nos videntes que ela abrangia as três partes. Neste ponto, os videntes eram mais bem reservados, como se viu no chamado “segredo de junho”, a respeito do qual a Irmã Lúcia explica terem os videntes guardado silêncio, embora Nossa Senhora não lhes tivesse pedido, porque “sentíamos que Deus a isso nos movia” (cfr. Segunda aparição, nota 3).
Configura-se desse modo uma situação de impasse entre os estudiosos, que ficam sem saber onde inserir a terceira parte do Segredo. Era, portanto, de toda conveniência tentar esclarecer esse importante pormenor junto à própria Irmã Lúcia ainda viva.
Para esse efeito, o autor do presente trabalho dirigiu-se a Mons. Tarcisio Bertone, então secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, posteriormente arcebispo de Gênova e atual Secretário de Estado da Santa Sé. A carta foi enviada por Correio registrado e deu entrada na referida Congregação no dia 17 de outubro de 2001. Nessa carta, fazíamos notar que a falta desse esclarecimento deixava uma lacuna na narração seqüencial do Segredo de Fátima feita pela vidente, o que deixava embaraçados os estudiosos do assunto, como acabamos de descrever. Com a agravante de que, não sabendo onde encaixar o terceiro Segredo, não faltou quem quisesse atribuir arbitrariamente essa lacuna ao próprio texto divulgado pela Santa Sé, o qual, portanto, não estaria completo. Alguns espíritos mais suspicazes chegaram a pôr em dúvida que ele fosse autêntico.
Mons. Tarcisio Bertone — que fora designado por João Paulo II para os contatos com a Irmã Lúcia — voltou pois a encontrar-se com ela em 17 de novembro de 2001 (a vidente, que completaria 95 anos no dia 22 de março do ano seguinte, se encontrava em ótima forma, lúcida e vivaz). Dessa reunião se redigiu um relatório em italiano subscrito por Mons. Bertone e pela Irmã Lúcia, o qual foi divulgado pela Sala Stampa do Vaticano.
Por esse relatório se vê que a Santa Sé estava mais preocupada em elucidar pretensas novas visões de Nossa Senhora de teor apocalíptico, que a vidente teria encaminhado por interpostas pessoas ao Soberano Pontífice, o que ela negou categoricamente. Na mesma ocasião reiterou que considerava válida a consagração do mundo feita por João Paulo II em 25 de março de 1984, objeto de controvérsia entre fatimólogos (tema do qual trataremos oportunamente no Capítulo IV). Por fim, confirmava que a descrição por ela feita da visão do terceiro Segredo era autêntica, cabendo-lhe apenas acrescentar um pormenor que se lhe havia esquecido na redação: o de que Nossa Senhora tinha em sua mão direita um coração e na mão esquerda um rosário. Fora isso, sua narração era completa.
Não querendo pois alongar uma conversa que já se dilatava por mais de duas horas, compreende-se que Mons. Bertone não tenha podido esclarecer outros assuntos que também importavam, inclusive para o efeito de cortar pela raiz elucubrações malsãs, conforme ponderávamos em nossa carta-consulta ao secretário da Congregação para a Doutrina da Fé (cfr. Apêndice I).
Sobre as circunstâncias em que se deu a revelação da terceira parte do Segredo nos estenderemos pormenorizadamente no Capítulo IV. De momento, convém ter presente que a divulgação foi feita pela Congregação da Doutrina da Fé, por ordem de S.S. João Paulo II, no dia 26 de junho de 2000, conforme já mencionamos. Na ocasião foi dado a público o opúsculo intitulado A Mensagem de Fátima, contendo diversos documentos atinentes ao Segredo, em especial um Comentário teológico de autoria do Cardeal Joseph Ratzinger, então prefeito da referida Congregação, ao qual nos referiremos nos comentários que se seguem. Na transcrição do Segredo, feita a seguir, respeitou-se a grafia da Irmã Lúcia.
Diante desta solução, ponderaram alguns que isso poderia significar não ter sido Francisco favorecido com tal visão. Ora, Francisco nada ouvia, mas via tudo que se passava. Logo, a inserção da terceira parte antes dessa frase deveria ser excluída.
Tal conclusão, entretanto, parece excessiva. Com efeito, as três partes do Segredo, embora distintas, constituem um todo único e harmônico, e assim, a nosso ver, a proibição de divulgá-lo — “Isto não o digais a ninguém” — entraria perfeitamente bem ao seu final. A permissão para contá-lo ao Francisco, embora dita ao final do Segredo, se referiria, obviamente, à parte discursiva (segunda parte).
A outra alternativa seria encaixar a terceira parte do Segredo após a frase “Ao Francisco, sim, podeis dizê-lo”. Mas, por seu turno, tal solução teria o inconveniente de excluir a terceira parte do Segredo — justamente ela! — da proibição de divulgação.
Mas tampouco este raciocínio deve ser considerado rigorosamente conclusivo. Ainda que a proibição tivesse sido feita ao fim da segunda parte do Segredo, Nossa Senhora poderia ter inculcado nos videntes que ela abrangia as três partes. Neste ponto, os videntes eram mais bem reservados, como se viu no chamado “segredo de junho”, a respeito do qual a Irmã Lúcia explica terem os videntes guardado silêncio, embora Nossa Senhora não lhes tivesse pedido, porque “sentíamos que Deus a isso nos movia” (cfr. Segunda aparição, nota 3).
Configura-se desse modo uma situação de impasse entre os estudiosos, que ficam sem saber onde inserir a terceira parte do Segredo. Era, portanto, de toda conveniência tentar esclarecer esse importante pormenor junto à própria Irmã Lúcia ainda viva.
Para esse efeito, o autor do presente trabalho dirigiu-se a Mons. Tarcisio Bertone, então secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, posteriormente arcebispo de Gênova e atual Secretário de Estado da Santa Sé. A carta foi enviada por Correio registrado e deu entrada na referida Congregação no dia 17 de outubro de 2001. Nessa carta, fazíamos notar que a falta desse esclarecimento deixava uma lacuna na narração seqüencial do Segredo de Fátima feita pela vidente, o que deixava embaraçados os estudiosos do assunto, como acabamos de descrever. Com a agravante de que, não sabendo onde encaixar o terceiro Segredo, não faltou quem quisesse atribuir arbitrariamente essa lacuna ao próprio texto divulgado pela Santa Sé, o qual, portanto, não estaria completo. Alguns espíritos mais suspicazes chegaram a pôr em dúvida que ele fosse autêntico.
Mons. Tarcisio Bertone — que fora designado por João Paulo II para os contatos com a Irmã Lúcia — voltou pois a encontrar-se com ela em 17 de novembro de 2001 (a vidente, que completaria 95 anos no dia 22 de março do ano seguinte, se encontrava em ótima forma, lúcida e vivaz). Dessa reunião se redigiu um relatório em italiano subscrito por Mons. Bertone e pela Irmã Lúcia, o qual foi divulgado pela Sala Stampa do Vaticano.
Por esse relatório se vê que a Santa Sé estava mais preocupada em elucidar pretensas novas visões de Nossa Senhora de teor apocalíptico, que a vidente teria encaminhado por interpostas pessoas ao Soberano Pontífice, o que ela negou categoricamente. Na mesma ocasião reiterou que considerava válida a consagração do mundo feita por João Paulo II em 25 de março de 1984, objeto de controvérsia entre fatimólogos (tema do qual trataremos oportunamente no Capítulo IV). Por fim, confirmava que a descrição por ela feita da visão do terceiro Segredo era autêntica, cabendo-lhe apenas acrescentar um pormenor que se lhe havia esquecido na redação: o de que Nossa Senhora tinha em sua mão direita um coração e na mão esquerda um rosário. Fora isso, sua narração era completa.
Não querendo pois alongar uma conversa que já se dilatava por mais de duas horas, compreende-se que Mons. Bertone não tenha podido esclarecer outros assuntos que também importavam, inclusive para o efeito de cortar pela raiz elucubrações malsãs, conforme ponderávamos em nossa carta-consulta ao secretário da Congregação para a Doutrina da Fé (cfr. Apêndice I).
Sobre as circunstâncias em que se deu a revelação da terceira parte do Segredo nos estenderemos pormenorizadamente no Capítulo IV. De momento, convém ter presente que a divulgação foi feita pela Congregação da Doutrina da Fé, por ordem de S.S. João Paulo II, no dia 26 de junho de 2000, conforme já mencionamos. Na ocasião foi dado a público o opúsculo intitulado A Mensagem de Fátima, contendo diversos documentos atinentes ao Segredo, em especial um Comentário teológico de autoria do Cardeal Joseph Ratzinger, então prefeito da referida Congregação, ao qual nos referiremos nos comentários que se seguem. Na transcrição do Segredo, feita a seguir, respeitou-se a grafia da Irmã Lúcia.
Terceira parte do Segredo
Visão profética de um castigo iminente,
de uma catástrofe imensa
e do Grande Retorno das almas a Deus
de uma catástrofe imensa
e do Grande Retorno das almas a Deus
“J.M.J.
A terceira parte do segredo revelado a 13 de Julho de 1917 na Cova da Iria — Fátima.
Escrevo em acto de obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe.
Comentário
A Irmã Lúcia escreve pois por ordem do Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, e da própria Mãe de Deus. Em seu livro Novos documentos de Fátima, o Pe. António Maria Martins S.J. transcreve um documento do acervo do Cônego Sebastião Martins dos Reis, no qual se lê: “Segundo declarações escritas da Madre Cunha Mattos, que fora superiora da Irmã Lúcia em Tuy e que recebera as confidências mais íntimas da Vidente, Nossa Senhora apareceu à religiosa no dia 2 de janeiro de 1944 e disse-lhe para escrever a terceira parte do Segredo. Essa aparição deu-se porque a Vidente não sabia o que fazer, dado que o Bispo de Leiria lhe ordenara que o escrevesse e o Arcebispo de Valladolid, que tomava conta da diocese de Tuy, lhe dizia que não” (op. cit., pp. XXV-XXVI).
Primeira cena
A ameaça do castigo que pende sobre o mundo
Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fôgo em a mão esquerda; ao centilar, despedia chamas que parecia iam encendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência!
Comentário
A humanidade afastada de Deus merece um castigo supremo
“A Irmã Lúcia concorda com a interpretação segundo a qual a terceira parte do ‘segredo’ consiste numa visão profética, comparável às da história sagrada», afirma Mons. Bertone no relatório de seu colóquio com a vidente em 27 de abril de 2000 (A Mensagem de Fátima, p. 27).
A visão se divide em três cenas esquematicamente distintas, mas que se articulam de modo muito coerente e profundo. Na primeira cena, como o faz notar o Cardeal Ratzinger em seu Comentário teológico, “o anjo com a espada de fogo à esquerda da Mãe de Deus lembra imagens análogas do Apocalipse: ele representa a ameaça do juízo que pende sobre o mundo” (A Mensagem de Fátima, p. 39).
O Anjo — narra a Irmã Lúcia — com o cintilar de sua espada “despedia chamas que, parecia, iam incendiar o mundo». É óbvio que o Anjo não iria executar essa ação por decisão própria, mas havia recebido ordens de Deus para isso. De onde se deduz facilmente que o mundo está numa situação espiritual e moral tal que mereceria ser castigado por Deus por essa forma. E, ao que parece, tratar-se-ia de uma destruição total. Assim o interpreta o próprio Cardeal Ratzinger: “A possibilidade que este [o mundo] acabe reduzido a cinzas num mar de chamas, hoje já não aparece de forma alguma como pura fantasia: o próprio homem preparou, com suas invenções, a espada de fogo” (A Mensagem de Fátima, p. 39).
O primeiro ponto a reter, portanto, é que a humanidade está de tal maneira afastada de Deus e de sua Igreja — o que se manifesta claramente por uma recusa teórica e/ou prática de sua Doutrina e de sua Moral — que isto implica num ato de rebelião contra Deus, merecedor de um castigo supremo. É fundamental frisar tal conclusão, pois muitos católicos de hoje, inclusive de grande projeção, pensam, falam e se comportam como se a situação atual do mundo não fosse essa.
Entretanto, Nossa Senhora intervém, e obtém de Deus que o Anjo não leve a ação ao seu termo normal, que seria a destruição do mundo. As chamas lançadas pelo Anjo em direção à terra “apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro” — descreve a Irmã Lúcia. O que significa que Nossa Senhora tem desígnios de misericórdia em relação ao mundo, e quer dar a este uma oportunidade de salvação. Mas para isto é preciso que a humanidade reconheça o seu pecado e faça penitência. Por isso, no quadro final desta cena, “o Anjo, apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência!”.
O fato de o Anjo clamar “com voz forte” e repetir o brado de “Penitência” por três vezes — o sublinhado da palavra é da própria Irmã Lúcia — indica que não se trata de uma penitência feita com superficialidade de espírito, mas de uma penitência séria, que implique numa conversão profunda. O que, mais uma vez, denota a gravidade do estado de afastamento de Deus em que a humanidade se encontra.
A primeira cena é, pois, de uma coerência perfeita.
A visão se divide em três cenas esquematicamente distintas, mas que se articulam de modo muito coerente e profundo. Na primeira cena, como o faz notar o Cardeal Ratzinger em seu Comentário teológico, “o anjo com a espada de fogo à esquerda da Mãe de Deus lembra imagens análogas do Apocalipse: ele representa a ameaça do juízo que pende sobre o mundo” (A Mensagem de Fátima, p. 39).
O Anjo — narra a Irmã Lúcia — com o cintilar de sua espada “despedia chamas que, parecia, iam incendiar o mundo». É óbvio que o Anjo não iria executar essa ação por decisão própria, mas havia recebido ordens de Deus para isso. De onde se deduz facilmente que o mundo está numa situação espiritual e moral tal que mereceria ser castigado por Deus por essa forma. E, ao que parece, tratar-se-ia de uma destruição total. Assim o interpreta o próprio Cardeal Ratzinger: “A possibilidade que este [o mundo] acabe reduzido a cinzas num mar de chamas, hoje já não aparece de forma alguma como pura fantasia: o próprio homem preparou, com suas invenções, a espada de fogo” (A Mensagem de Fátima, p. 39).
O primeiro ponto a reter, portanto, é que a humanidade está de tal maneira afastada de Deus e de sua Igreja — o que se manifesta claramente por uma recusa teórica e/ou prática de sua Doutrina e de sua Moral — que isto implica num ato de rebelião contra Deus, merecedor de um castigo supremo. É fundamental frisar tal conclusão, pois muitos católicos de hoje, inclusive de grande projeção, pensam, falam e se comportam como se a situação atual do mundo não fosse essa.
Entretanto, Nossa Senhora intervém, e obtém de Deus que o Anjo não leve a ação ao seu termo normal, que seria a destruição do mundo. As chamas lançadas pelo Anjo em direção à terra “apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro” — descreve a Irmã Lúcia. O que significa que Nossa Senhora tem desígnios de misericórdia em relação ao mundo, e quer dar a este uma oportunidade de salvação. Mas para isto é preciso que a humanidade reconheça o seu pecado e faça penitência. Por isso, no quadro final desta cena, “o Anjo, apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência!”.
O fato de o Anjo clamar “com voz forte” e repetir o brado de “Penitência” por três vezes — o sublinhado da palavra é da própria Irmã Lúcia — indica que não se trata de uma penitência feita com superficialidade de espírito, mas de uma penitência séria, que implique numa conversão profunda. O que, mais uma vez, denota a gravidade do estado de afastamento de Deus em que a humanidade se encontra.
A primeira cena é, pois, de uma coerência perfeita.
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