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domingo, 8 de novembro de 2009

A Idade Média: “segunda Criação” obra da Igreja


“Na Idade Média há muitas coisas. Por um lado o isolamento das cidades, a queda de impérios, luta de raças, confusão de povos, violências, gemidos; corrupção, barbárie, instituições que caem ou ficam apenas no bosquejo; homens que vão aonde vão os povos; e povos que vão aonde outro quer e eles nem sabem; há luz apenas suficiente para ver que todas as coisas estão fora de seu lugar e que não lugar para coisa alguma: Europa é caos.

“Porém, além do caos há uma outra coisa: a presença da Igreja, Esposa imaculada de Nosso Senhor. Então, há um grande acontecimento nunca antes visto pelos povos: há uma segunda Criação operada pela Igreja.


“Da Idade Média nada me parece assombroso senão a sua criação, e nada há que me pareça adorável salvo a Igreja.

“Para operar esse grande prodígio, Deus escolheu esses tempos obscuros, eternamente famosos ao mesmo tempo pela explosão de todas as forças brutais e pela manifestação da impotência humana.

“Nada é mais digno da Divina Majestade e da divina grandeza que trabalhar ali, onde homens, povos e raças se agitam confusamente e ninguém obtém nada.

“Querendo Deus demonstrar em duas solenes ocasiões que a corrupção só é estéril e que só a virgindade é fecunda, quis que Maria nascesse e contraísse desposórios com a Igreja. Então, a Igreja foi mãe de povos, como Maria é Mãe dEla.

“Viu-se então àquela imaculada Virgem, ocupada em fazer o bem – do mesmo modo que seu divino Esposo ‒, levantar o ânimo dos caídos e moderar o ímpeto dos violentos; dar a uns o pão dos fortes e a outros o pão dos mansos.

“Aqueles ferozes filhos do pólo, que humilharam a majestade romana escarnecendo-a, caíram vencidos pelo amor aos pés da indefensa Virgem.


“Então o mundo todo contemplou, entre atônito e assombrado, por espaço de muitos séculos, a renovação da Igreja, a renovação do prodígio de Daniel protegido contra todo mal em meio à cova dos leões.

“Após ter amansado amorosamente aquelas grandes iras e após ter serenado só com um olhar aquelas furiosas tempestades, viu-se a Igreja tirar um monumento da ruína; uma instituição de um costume; um princípio de um fato; uma lei de uma experiência.

“Para dizer tudo de vez: o ordenado do esdrúxulo; o harmônico do confuso.

“Sem dúvida, todos os instrumentos de sua Criação, como o próprio caos, existiam antes em meio ao caos; mas pertenceu a Ela a força vivificante e criadora.

“No caos estava, como no embrião, tudo o que haveria de vir e de ganhar vida. Porém, na Igreja despojada de tudo, só havia o ser e a vida.

“Tudo passou a viver quando o mundo prestou ouvido atento às suas amorosas palavras e fixou o olhar na sua resplandecente beleza.”

(Fonte: “Obras Completas de D. Juan Donoso Cortés", BAC, Madri, vol. II, p. 630).

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