Beata Maria, religiosa carmelita cognominada “a santa palestina”, recebe avisos concordantes com La Salette (1)
Beata Maria de Jesus Crucificado O.C.D., Mariam Baouardy no século (1846-1878). Na foto: noviça no Carmelo de Pau, França. |
O Segredo de Nossa Senhora de La Salette desvenda um panorama histórico-profético cada vez mais atual na crise que vivem a Igreja e o mundo.
É compreensível que a grandeza dos cenários e das comoções para onde se precipita a humanidade pecadora tenham também sido anunciados por outras vias sobrenaturais.
Pois a concordância entre os diversos anúncios de almas que em muitos casos não se conheceram confirma a veracidade fundamental da mensagem.
Nesse sentido, estamos difundindo em nosso blog outros avisos celestes recebidos por santos, beatos e almas eleitas cujos escritos passaram pelo crivo da crítica da hierarquia eclesiástica.
Um dos mais importantes conjuntos de revelações recebidas por almas santas no mesmo sentido de La Salette, é o da Beata Maria de Jesus Crucificado OCD, carmelita de Pau e Belém.
Talvez ela não seja conhecida no Brasil como mereceria, mas a leitura de sua vida é suficiente para conquistar a simpatia e a adesão dos fiéis.
“A santa palestina”
Mariam Baouardy nasceu em 5 de janeiro de 1846 na aldeia de Abellin, situada na estrada de Nazaré a São João de Acre. Sua família era católica, oriunda de Damasco e do Monte Líbano.
Em 15 de junho de 1867 ela se apresentou no Carmelo de Pau, perto de Lourdes, França, onde fez profissão no dia 2 de julho com o nome de religião de Sóror Maria de Jesus Crucificado.
Faleceu em 26 de agosto de 1878, com apenas 32 anos, no Carmelo de Nazaré, cuja fundação ela inspirara junto com o de Belém, na Terra Santa.
Desde criança a Beata Maria dera sinais de ser objeto de uma predileção sobrenatural extraordinária.
O seu melhor biógrafo é o Pe. Pierre Estrate (1840-1910), da Congregação do Sagrado Coração de Bétharram, que foi seu diretor espiritual e geral de sua Ordem. Ele lhe dedicou o livro Mariam, santa palestina - A vida de Maria de Jesus Crucificado (Téqui éditeur, Paris, 1999, 399 pp.), com cujos excertos aproveitamos para compor estes posts sobre a Beata.
O Pe. Estrate refere que certa feita, um ermitão desconhecido pediu hospedagem na casa dos pais. Antes de partir, a família trouxe seus filhos para receberem a bênção.
Vendo a pequena Maria, ele foi tomado por uma emoção inexplicável, ele pegou suas mãos e após um momento de silencio disse à família: “eu vos conjuro, tomai um cuidado todo especial com esta criança”. E sem dizer mais nada saiu (p. 15)
O martírio, o milagre e a profecia de Nossa Senhora
Os pais da beata morreram logo e ela ficou sob o encargo de tios que eram muçulmanos. Esses a convidavam insistentemente a apostatar.
Certa vez ela escreveu uma carta a um dos irmãos, e entregou-a a um turco que havia sido doméstico de um tio.
O turco incitou-a brutalmente a abandonar o cristianismo.
— “Jamais, protestou ela com energia sobre-humana; eu sou filha da Igreja Católica, Apostólica e Romana, e espero, com a graça de Deus, perseverar até a morte na minha religião, que é a única verdadeira”.
Ferido em seu fanatismo, o turco pegou sua cimitarra e desferiu-lhe um formidável golpe no pescoço. Envolveu depois o corpo da menina em um pano, e jogou-o num local afastado no meio da noite. Isso aconteceu em 7 de setembro de 1858.
A menina perdeu o conhecimento. E enquanto o turco completava seu crime, sua alma teve um rapto:
“Parecia-me, contava ela, estar no Céu. Eu via a Santíssima Virgem, os anjos e os santos que me acolhiam com grande bondade ... não havia sol nem lâmpadas, mas tudo brilhava com luminosidade.
“Eu me regozijava com tudo quanto via, até que, de modo surpreendente, alguém veio e me disse: ‘tu és virgem, é verdade, mas teu livro ainda não está completado’. Apenas concluiu essas palavras e a visão desapareceu.
“Eu acordei e encontrei-me, sem saber como nem por obra de quem, transportada a uma pequena gruta solitária. Eu estava deitada num pobre leito e percebia a meu lado uma religiosa que teve a caridade de costurar meu pescoço.
“Nunca a vi comer nem dormir. Ela estava sempre de pé junto à minha cabeceira. Ela me cuidava com o maior afeto e em silêncio. Estava vestida com um belo vestido da cor azul do céu, transparente como moiré; e seu véu tinha a mesma cor.
“Creio que fiquei lá por volta de um mês. Eu não comi nada nesse tempo, a religiosa se contentava em umedecer continuadamente meus lábios com uma esponja branca como a neve. Ela me fazia dormir quase o tempo todo.
“No último dia, essa religiosa me serviu uma sopa tão boa como eu nunca comi igual. Eu pedi mais, e então a religiosa, rompendo o silêncio, me disse:
—Mariam, fica sempre contente não obstante tudo o que puderes vir a sofrer, pois Deus, que é tão bom, te enviará o necessário. Jamais ouças o demônio, desconfia dele, pois ele é muito astuto. Nunca mais voltarás a ver tua família, irás à França, onde te tornarás religiosa. Tu serás filha de São José antes de ser filha de Santa Teresa. Tomarás o hábito do Carmelo numa casa, farás a profissão numa segunda e morrerás numa terceira. Sofrerás muito em tua vida, serás um sinal de contradição” (p. 20 a 25).
Nossa Senhora do Carmo, Puerto de la Cruz, Tenerife, Espanha
Mais tarde, a Beata contou a suas irmãs de religião que a “religiosa” que tinha cuidado dela era a Santíssima Virgem, que lhe predisse tudo o que aconteceria em sua vida.
Quando faleceu, o médico constatou que a cicatriz na parte dianteira do pescoço media por volta de dez centímetros e tinha um centímetro de largura. O médico testemunhou que era impossível alguém sobreviver a tamanha ferida.
A “religiosa” conduziu Mariam a uma igreja de Alexandria para se confessar. Mas como disse à criança que ficaria de fora durante a confissão, esta lhe implorou que não a abandonasse. A “religiosa” sorriu sem responder. E quando a inocente penitente saiu, Ela já não estava mais. Mariam começou então a chorar (p. 20 a 25).
Mariam se ofereceu como doméstica e passou por várias casas, onde se destacou pela sua dedicação, virtude e por fenômenos sobrenaturais. Ela passava mais tempo nas casas onde era pior tratada e fugia daquelas onde se reconheciam suas virtudes.
Afinal ela recebeu um convite para ir a trabalhar em Marselha, França. Ele aceitou lembrada da profecia da "senhora" da gruta. Em Marselha, ela acabou entrando nas religiosas de São José da Aparição, como Nossa Senhora lhe dissera na gruta.
Mas Mariam acabou não sendo aceita nesse Instituto, devido aos dons místicos de que dava impressionantes mostras e que não condiziam com a vida ativa da Congregação.
Foi assim que a mestra de noviças de São José a encaminhou ao Carmelo de Pau, numa outra extremidade da França, não distante de Lourdes. Cumpriu-se mais um anúncio da “religiosa” da gruta.
Os fenômenos místicos extraordinários da Beata Maria, já noviça do Carmo, multiplicavam-se em profusão. As religiosas anotavam quanto viam e ouviam.
Concordância com o pranto de Nossa Senhora em La Salette pelos maus sacerdotes
— “Maria vem. Ela está com Nosso Senhor e com São José”, diz uma das anotações reproduzidas pelo Pe. Estrate.
A noviça se dirigiu primeiramente ao último:
— “Pai José, eh! vós não me dizeis nada! Falai, falai, eu vos escuto”.
Em La Salette, Nossa Senhora apareceu chorando
porque não conseguia segurar o braço de Seu Filho
justamente irado pelos pecados do clero e do mundo.
São José lhe falou da Igreja, do Santo Padre, dos pecadores. Após prestar atenção, ela lançou exclamações dolorosas. E voltando-se para Nossa Senhora, disse:
— “Minha Mãe, disse ela com ar suplicante, rezai. O mundo está cego, ele não entende o mal que faz. Minha mãe, segurai as mãos de vosso Divino Filho; impedi-o de lançar o raio’“.
Jesus não se deixava dobrar; Ele enumerava os crimes que excitam sua justa ira.
“Tudo isso é verdade, dizia a noviça com o rosto inundado de lágrimas, mas perdoai”. (p. 62)
Beata Maria de Jesus Crucificado, com hábito após a profissão |
continuação do post anterior: Religiosa carmelita recebe avisos concordantes com La Salette
Na Quaresma de 1868, as carmelitas perceberam que a Beata tinha os estigmas e esforçava-se para ocultá-los.
Também fazia o que lhe era possível para não “dormir”, como ela se referia aos êxtases, até que foi proibida pelo seu diretor de consciência.
Nesse mesmo ano ela teve a transverberação do coração, como Santa Teresa de Jesus.
O fenômeno foi clinicamente constatado quando foi extraído seu coração post mortem em Belém.
A cicatriz atravessava de lado a lado o coração e foi verificada por grande número de eclesiásticos convocados como testemunhas. O coração hoje está em Pau.
Satanás obteve permissão para possuí-la durante quarenta dias, como a outro Jó. Nove legiões sucessivas de demônios abateram-se sobre ela e, finalmente, o próprio Satanás em pessoa.
No fim da possessão ela ficou como que “possuída” pelos anjos bons. Um anjo de luz falava por meio dela, dava conselhos, ensinava.
Perguntaram ao anjo quem ele era, ao que respondeu:
— “Eu sou o espírito de Maria; eu sou o anjo de Maria“ (p. 150). E também: “Eu sou daqueles que sobem e que descem”. Mais frequentemente dizia: “Eu sou Maria, filha do Bem-amado”. (p. 143)
Em 1870, a Madre Superiora de Pau aceitou a fundação de um Carmelo em Mangalore, Índia. Porém, faltavam os recursos econômicos.
Por outro lado, acontecera de um rico católico belga, o senhor de Nédonchel, residente em Roma, perder sua filha Matilde em circunstâncias edificantes.
“Esta senhorita – escreve o Pe. Estrate – havia pedido a Deus que lhe tirasse a vida em lugar de levar o Beato Papa Pio IX, cuja saúde deixava a desejar.
“O Senhor ouviu o oferecimento e ela foi levada rapidamente por um mal misterioso em Roma com apenas 24 anos, sem nunca antes ter conhecido doença alguma. (...) Ora, Matilde apareceu várias vezes à Beata Maria e lhe disse que se dirigisse a seu pai para a fundação de Mangalore.” (p. 204)
”Para ter certeza da verdade dessa visão, a Madre Elias, superiora de Pau, mostrou à noviça diversas fotografias, entre as quais havia misturada uma de Matilde de Nédonchel; e depois lhe pediu que apontasse qual era a pessoa que tinha aparecido a ela. A noviça Maria apontou Matilde sem hesitar um instante sequer.” (op.cit., p. 204, nota)
Sangue dos estigmas da Beata
Na viagem rumo à fundação na Índia, a Madre Elias faleceu. Mas aparecendo à Beata em 22 de julho de 1871, ela lhe anunciou sua profissão em 21 de novembro, como de fato aconteceu, cumprindo-se mais uma vez a profecia da “religiosa” (p. 229).
A Beata teve de voltar para Pau. Em novembro de 1872, recém retornada da Índia, ela declarou à Madre priora que Jesus queria sua ida para Belém a fim de ali morrer.
E que queria também absolutamente um Carmelo na cidade onde Ele nasceu. Como prova, ela enfiou na terra um galho seco de gerânio, que brotou e floresceu assombrosamente.
Em 3 de setembro de 1875 o barco que levava as carmelitas fundadoras rumo a Terra Santa fez escala em Alexandria. Ela então mostrou às religiosas o local onde foi jogada ‘morta’ e a gruta onde foi curada, ainda identificável apesar das construções posteriores.
A Beata Maria de Jesus Crucificado ficou indignada com a presença maometana e cismática nos locais da Paixão em Jerusalém, especialmente no local da Flagelação:
“As religiosas consagraram três dias para visitar os principais santuários de Jerusalém. As piedosas peregrinas ficaram desconsoladas vendo a maioria desses lugares tão sagrados nas mãos de turcos e cismáticos, escreve o Pe. Estrate.
“Visitando o Cenáculo, onde os muçulmanos fizeram uma mesquita, o rosto de Sóror Maria, que resplandecia de alegria celeste, ficou pálido e abatido; seus olhos tinham uma expressão de dor infindável:
— “Eu digo a Jesus, contou ela mais tarde : Como, Senhor podeis permitir coisas semelhantes, posto que Vós sois Deus? Ah! Isto é forte demais! Se eu fosse Jesus, jamais suportaria uma tal profanação!
“Mas logo pedi perdão a Jesus, acrescentando: Senhor, tende piedade de mi, escusai minha ousadia, é meu amor por Vós que me fez soltar esse brado. Se eu fosse Jesus, faria como Vós, eu teria paciência, porque teria em meu coração vossa bondade infinita.
“Oh! Senhor, em quantas almas ainda mais abomináveis que esse Cenáculo Vós sois obrigado a descer! Eu compreendo a profanação desse lugar santo pensando em todas as Comunhões indignas e sacrílegas em vossa Santa Igreja!" (p. 282)
A Beata dirigiu os operários, pois era a única que falava árabe, tendo ficado admirada em toda a região.
“Havia tanta majestade em toda a sua pessoa, tanto fogo em seu olhar e tanta autoridade em seu falar, que era impossível não se submeter. (...) Suas palavras ficavam gravadas na alma: ao mesmo tempo elas eram uma espada, uma luz e um bálsamo”, observou o Pe. Estrate (op.cit. p. 317)
A Beata inspirou também a fundação do Carmelo de Nazaré, que Nosso Senhor lhe pediu que fosse como um quartel.
Na gruta, Nossa Senhora lhe anunciou que morreria em Belém e que não viveria mais de três anos na Terra Santa. Mas sua saúde era excelente. Quando pouco faltava para o prazo, um acidente caseiro e complicações inesperadas acabaram tirando-a da Terra.
Por ocasião de seu falecimento, fenômenos sobrenaturais aconteceram em Belém e em Pau, especialmente perfumes celestes, e desde então numerosos milagres lhe são atribuídos.
continua no próximo post: o dom de profecía
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