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Estas palavras: vida de intimidade,
vida de união, vida familiar, vida íntima com a Santíssima Virgem, as quais se
encontrarão sempre numa impressão agradável, espargindo em cada página deste
livrinho, causam-nos em nossa alma algo de aprazível e reconfortante. É que para
nós, pobres criaturas, que trazemos no espírito, no coração, na alma, aspirações
para o infinito, é tão doce repousar neste pensamento da posse de Deus, da vida
de intimidade com o doce Salvador de nossas
almas.
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Examinemos esta aspiração em seu
princípio e em sua realização.
Em seu princípio, isto é, em sua
origem e em seu desenvolvimento. Em sua realização, não somente na glória onde
ela deverá terminar, mas mesmo no seu aperfeiçoamento aqui na terra, onde ela já
nos faz participar um pouco da beatitude celeste.
Reduzamos tudo aos dois princípios
seguintes:
PRIMEIRO
PRINCÍPIO:
A vida de intimidade, sendo uma
aspiração de nossa alma, é já uma antecipação da vida do céu.
SEGUNDO
PRINCÍPIO:
Sendo a glória o aperfeiçoamento da
graça, quanto mais estreita tiver sido nossa intimidade sobre a terra, tanto
mais, com as devidas proporções, ela será intensa no céu.
PRIMEIRO PRINCÍPIO
A vida de intimidade, sendo uma
aspiração de nossa alma, é já uma antecipação da vida do céu. Em geral, a vida
de intimidade é uma das aspirações mais urgentes de nossa natureza.
Ensina a psicologia que o homem traz
em si quatro inclinações sociais. Estas inclinações são as seguintes:
"A sociabilidade, ou o amor aos
outros homens em geral.
As afeições familiares, que não são mais que o amor aos nossos pais. As afeições patrióticas, ou o amor aos nossos concidadãos. E finalmente as afeições eletivas, particulares, como a amizade, o amor." (Compayé: Psicologia aplicada à educação, I Parte, cap. XV)
Não temos que analisar cada
inclinação em particular; todas elas são uma aspiração à intimidade.
Nós amamos os homens, amamos os
nossos concidadãos, amamos os nossos pais, mas todos estes amores ainda são
muito vagos; a alma, porém, aspira a uma vida mais íntima, que se esforça por
realizar, seja pela amizade, seja pelo amor propriamente dito.
O amor quer intimidade. Ele a quer,
aqui na terra ou lá no céu. O amor terreno só pode ser parcial, imperfeito;
contudo, ele pode atingir o cume, a plena realização de suas
aspirações.
O amor do céu não encontrando aqui na
terra nada que o satisfaça, dá-se a Deus, entrega-se ao Bem supremo, desejando
uma intimidade perfeita, intimidade ideal, sem nuvens, para realizá-la pouco a
pouco, pela lembrança, pelo coração e pelo espírito.
Se a vida de intimidade é uma
necessidade para toda alma racional, a vida de união a Deus é uma aspiração de
toda alma sinceramente cristã.
É esta necessidade que colocava nos
lábios do imortal gênio de Hiponna, Santo Agostinho, estas palavras tão amorosas
e tão cheias de saudade divina: "Vós nos fizestes para Vós, meu Deus, e nosso
coração está inquieto, enquanto não descansar em Vós".
Já aqui na terra Deus se dá a nós.
Ele se dá, mas não se deixa ver ainda.
Esta doação do tempo é envolvida em
trevas e combatida por mil imperfeições. Ora, o que nos é necessário é um
conhecimento que sacie o nosso espírito, repouse o nosso coração e dê à nossa
alma o seu verdadeiro alimento - o próprio Deus.
"Nós havemos de vê-lO, não mais através de um espelho, como aqui na terra, mas face à face, tal qual Ele é". (São João III, 2)
Desejamos pois o céu, porque ele é
posse de Deus, é a intimidade com Deus, intimidade perfeita, sem sombras.
Aspiramos por ele, porque somos feitos à imagem de Deus. E, trazendo em nós esta
imagem divina, desfigurada pelo pecado, nós aspiramos contemplar-Lhe o
arquétipo, em toda a Sua beleza, em toda a Sua pureza e em toda a Sua
glória.
Deste modo a vida de intimidade se
torna uma das aspirações mais irresistíveis e mais atraentes de nosso ser. É uma
necessidade de nosso coração, feito para amar e, que não encontrando na terra
nenhum amor capaz de saciá-lo, eleva mais alto o seu ideal, procurando-o na
beatitude eterna.
Esta aspiração é reconhecida, não
somente pelas almas piedosas, mas também por todos os psicólogos, que a unem às
inclinações ideais.
Com efeito, estas inclinações ideais
ou superiores, referem-se a quatro objetivos: a idéia do verdadeiro, a idéia do
belo, a ideia do bem e a ideia de Deus.
Esta idéia de Deus, que geralmente
chamamos o sentimento religioso, resume as três primeiras aspirações, abrange-as
todas e lhes comunica todo o seu valor.
Nada mais verdadeiro, mais belo e
mais nobre do que Deus. Eis porque o sentimento religioso exerce sobre o homem
uma influência muito mais extensa e mais forte que qualquer uma das três
primeiras aspirações.
E é este sentimento, elevado a um
grau intenso, que faz os santos, os verdadeiros heróis, pois todos eles souberam
vencer o mundo e vencer a si próprios.
Ora, o sentimento religioso é
essencialmente uma aspiração à vida de intimidade com Deus. O santo sente que
por si mesmo nada pode: por conseguinte, apoia-se sobre Deus, afim de alcançar
tudo e tudo poder por Aquele que o fortifica: Omnia possum in eo qui me
confortat, dizia o grande Apóstolo.
Só no céu esta aspiração será
plenamente satisfeita, porque lá somente é que poderemos possuí-lo, sem receio
de nunca mais perdê-lo.
Lá viveremos com Ele, viveremos dEle,
seremos verdadeiramente de Sua família: - será isto à verdadeira vida de
intimidade que se chamará então: "visão beatifica"!
Mas até que a morte venha desligar os
laços que nos prendem à terra, até que nos desembaracemos de tudo o que em nós
existe de corruptível, já aqui na terra podemos fazer um esboço e de certo modo
ir colocando os fundamentos de nossa intimidade já enunciado.
SEGUNDO PRINCÍPIO:
Sendo a glória o aperfeiçoamento da
graça, quanto mais estreita tiver sido nossa intimidade sobre a terra, tanto
mais, com as devidas proporções, ela será intensa no céu.
No céu todas as almas possuirão a
Deus, todas vê-lO-ão, todas banhar-se-ão neste Oceano de amor e de eterna
felicidade, mas não todas elas em igual medida, nem em iguais profundidades. -
"Há muitas moradas na casa de Meu Pai", disse Nosso Senhor.
Na verdade compreende-se que a visão
de Deus, a glória e a felicidade de uma seráfica Teresa de Jesus, de um apóstolo
como São Francisco Xavier, de um amante da Cruz como São Pedro de Alcântara, de
um pobre voluntário como São Francisco de Assis, de um apaixonado pela
Santíssima Virgem como os santos Bernardos, Ligórios, Eudes, beatos de Montfort,
etc... compreende-se, digo, que a glória, seja superior à de um pecador
convertido na última hora.
No céu, entre as moradas de um e de
outro, deve haver uma distância incalculável.
Aquele cujo coração já era na terra
qual chama ardente e brilhante, cuja ambição era amar e fazer amar a Deus,
receberá uma coroa mais bela, ocupará um trono mais cintilante, gozará de uma
visão divina mais intensa e mais clara, do que aquele que viveu em uma espécie
de apatia, não dando a Deus senão os estritos deveres, quase sem fazer obras de
supererogação.
É assim que, desde agora, nós podemos
e devemos pôr os fundamentos de nossa vida de intimidade no céu.
Podemos até, com o socorro da graça,
fazê-la atingir uma intensidade tal que seja verdadeiramente uma antecipação da
vida celestial.
"Prometendo um céu para a eternidade,
diz muito bem S.João Crisóstomo, Deus já nos deseja um céu sobre a
terra".
E qual é este céu?
É a vida de intimidade, como ela
existia antes do pecado entre Deus e nossos primeiros pais. "O prazer (a
vontade) de Deus, diz uma santa alma (Mère M. de Salles Chappuis) é fazer
conosco o que Ele queria fazer antigamente antes do pecado".
"A intimidade da terra conduz
verdadeiramente a intimidade do céu".
(F.Maucourant - Vida de intimidade com o bom Salvador)
E, além disso, "a felicidade do céu
não é outra coisa que uma grande familiaridade com Deus, elevada a um grau que
ultrapassa toda a compreensão humana", - (R.P. Coulé S.J) - e, em outras
palavras, como diz Santo Tomás, "toda graça é um gérmen do que existirá na
glória" e consequentemente segundo observa S. Ligório, "a caridade nos
bem-aventurados revestirá a forma que o amor tinha durante a vida terrena." (S.
Ligório: A verdadeira esposa)
Ao entrar no céu, o cristão não muda
o coração; conserva-o somente concluído e aperfeiçoado. Lá Jesus se nós dá, como
Ele o havia entrevisto e desejado aqui na terra.
"O que começardes aqui na terra, diz
Bossuet, continuá-lo-eis na eternidade".
(Bossuet: Sermões)
É o que o Espírito Santo nos faz
compreender por estas conhecidas palavras: "Cada um será premiado conforme tiver
trabalhado". (Isaías LIII, II)
***
Em resumo, qual é então a natureza da
vida de intimidade?
É uma antecipação da vida dos anjos,
dos santos, que já alcançaram o céu - é um começo do que faremos eternamente na
glória.
Donde se segue que esta vida de
intimidade é necessária a todo cristão, desejoso de se salvar, já que esta mesma
vida é a medida da glória e da felicidade que ele gozará um dia no
céu.
Seria necessária outra consideração,
para nos fazer amá-la, para nos impelir a praticá-la e mesmo para torná-la como
que o centro e o fim de nossa vida?
Antes de prosseguirmos nesta
consoladora e profunda doutrina, recolhamo-nos por alguns instantes, para
recitar com amor esta pequena oração do grande São Bento, pedindo a Deus a graça
desta vida de intimidade:
"Dignai-Vos, ó Pai amantíssimo, ó
Deus boníssimo, dignai-Vos dar-me uma inteligência que compreenda Vossos
pensamentos, um coração que penetre em Vossos sentimentos, uma energia que Vos
procure e ações que aumentam a Vossa glória. Meu Deus, dai-me olhos fitos sobre
Vós sem cessar, uma língua que Vos pregue, uma vida que seja inteiramente
dedicada a Vosso bel prazer. Dai-me, enfim, ó meu Salvador, a felicidade de Vos
contemplar um dia, face a face, com os Vossos santos".
(Oratio Sancti Benedicti)
(Princípios da vida de intimidade com
Maria Santíssima segundo os Santos, os Doutores e os Teólogos, pelo Pe. Júlio
Maria, continua com o post: A vida de intimidade e a
graça)
http://www.espacomaria.com.br/?cat=8&id=2661 |
Irmã Lúcia descreve a visão que teve acerca da purificação do mundo pelos pecados cometidos
- E senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu! (escreve a irmã Lúcia a 3 de janeiro de 1944, em "O Meu Caminho," I, p. 158 – 160 – Carmelo de Coimbra)
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sexta-feira, 23 de agosto de 2013
A vida de intimidade com Maria Santíssima
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