Eng. Antonio Augusto Borelli Machado, autor do best-seller internacional "As aparições e a mensage de Fatima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia |
Sob o título em epígrafe, o Engº Antonio Augusto Borelli Machado - destacado sócio da TFP brasileira, autor do best-seller internacional As aparições e a mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia e membro da Academia Marial de Aparecida - proferiu uma conferência no auditório do Augustinianum, em Roma, no dia 25 de outubro p.p..
Sobre a prestigiosa sessão comemorativa do 80º aniversário das aparições de Fátima, no decorrer da qual foi apresentado o trabalho acima aludido, já publicamos uma detalhada notícia na edição de dezembro último.
Pareceu-nos oportuno estampar nesta edição de maio - por ocasião do 81º aniversário da primeira aparição de Fátima - excertos capitais da substanciosa conferência do Dr. Antonio Augusto Borelli Machado. Os subtítulos que figuram no texto são desta redação.
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O apostolado de São Francisco Xavier no Japão trouxe para a Igreja Católica um número incontável de almas. Porém, como era previsível, logo se levantou a perseguição, que produziu a coorte de mártires de Nagasaki, Shimabara e vários outros lugares. Veio, por fim, o decreto de proibição de todo culto católico naquela nação.
Somente 250 anos depois, aproveitando um tratado comercial do Japão com nações do Ocidente, missionários católicos puderam reiniciar, muito timidamente, seu apostolado. Oficialmente só lhes era permitido dar assistência religiosa aos estrangeiros que lá se encontravam em missão diplomática ou a negócios. Obtiveram assim autorização para edificar uma igreja.
Certo dia ocorreu um episódio comovente. Um missionário católico observou um grupo de cerca de 15 pessoas, homens, mulheres e crianças, paradas diante da igreja, que era mantida habitualmente fechada. Via-se que não estavam ali por mera curiosidade. Movido por um feliz pressentimento, o Pe. Petitjean - tal era o nome do missionário - abriu a porta, entrou na igreja e ajoelhou-se diante do altar principal. Poucos minutos depois, três mulheres de seus 50, 60 anos de idade, ajoelharam-se ao lado do Padre, e uma delas disse-lhe, com toda a poesia oriental: "O coração de todos nós aqui é o mesmo que o vosso".
Transido de emoção, o missionário ficou sabendo então da existência de toda uma comunidade católica que permanecera fiel à Igreja, na clandestinidade, durante dois séculos e meio!
Efeito dissolvente da secularização do mundo moderno
O episódio histórico que acaba de ser narrado serve de introdução ao tema de nossa exposição.
Mais um século se passou, e desde então o catolicismo se expandiu pouco a pouco no país do Sol Nascente.
Mas, no entretempo, os princípios do mundo moderno fizeram suas devastações também no Brasil. A secularização pervadiu todos os ambientes, mesmo os mais religiosos, e numerosos imigrantes japoneses que procediam de famílias católicas, em poucos anos de Brasil se afastaram da prática da Fé, ateizaram-se completamente... Eles, os descendentes dos heróis que haviam permanecido fiéis - sem sacerdotes e sem Sacramentos - durante dois séculos e meio, imersos numa sociedade pagã!
O efeito dissolvente da secularização do mundo moderno foi mais forte que o de uma sociedade totalmente pagã!
Consagração do mundo e secularização: conceitos antitéticos
Pio XII cunhou a magnífica expressão "Consecratio mundi", na alocução para o II Congresso Mundial dos Leigos |
A missão própria da Sagrada Hierarquia se situa incomparavelmente acima da missão do leigo. Haveria muito que dizer sobre a excelência da missão dos Pastores, mas este não é o tema da presente exposição. Limito-me a manifestar o reconhecimento e a veneração que lhes devemos. Faço-o com empenho tanto maior quanto infelizmente houve incompreensões neste ponto, e alguns leigos, empolgados com a missão que a Igreja assinalava à Ação Católica, julgaram-se superiores ao próprio Clero.
Afastando-nos decididamente desse erro funesto, nada nos impede de reconhecer a grandeza da missão que a Igreja aponta aos leigos, desde os tempos apostólicos.
Mas a natureza dessa missão foi sendo explicitada com mais clareza à medida que se sucediam os pontificados deste século, mais especialmente por Pio XI e Pio XII.
Na alocução de 5 de outubro de 1957, para o II Congresso Mundial do Apostolado dos Leigos, Pio XII afirmava: "As relações entre a Igreja e o mundo exigem a intervenção dos apóstolos leigos. A 'consecratio mundi' é, no essencial, obra dos próprios leigos" (Discorsi e Radiomessaggi, vol. XIX, p. 459).
Assim, há quarenta anos, Pio XII já cunhara a magnífica expressão consecratio mundi (sacralização do mundo), que obviamente se opunha à secularização do mundo.
Esta última expressão é freqüente hoje em documentos emanados da Santa Sé, para designar a laicização do mundo moderno. O secularismo pode ser definido como o banimento de Deus, o banimento do sagrado, quer da vida individual, quer da vida familiar, social e política.
Podemos dizer que, em oposição ao secularismo, a sacralização do mundo consiste em impregnar a esfera temporal com os princípios do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que esta é, no essencial - como dizia Pio XII - a tarefa do laicato católico.
Sacralização: implantação do Reino de Maria
Os três videntes de Fátima: Lúcia, Francisco e Jacinta |
Este é um aspecto do apostolado de Fátima que mereceria ser posto em especial realce. Pois se o apostolado individual é digno de todos os encômios, não podemos perder de vista que a ação organizada dos leigos deve visar uma meta de ainda maior envergadura.
Com efeito, esta ação não tem um fim meramente negativo (isto é, combater o secularismo). A sacralização da ordem temporal implica, em última análise, na implantação do Reino de Cristo na Terra.
Ora, esta é exatamente a promessa que nos foi dada em Fátima. Depois de todos os transtornos pelos quais o mundo tenha que passar para purgar os seus pecados, um desfecho é certo, como nos assegura a própria Virgem Mãe de Deus: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará".
- E em que consiste o triunfo do Imaculado Coração de Maria?
Descreveu-o em termos grandiosos São Luís Maria Grignion de Montfort, em seu famosíssimo Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. Diz ele:
"Quando virá este tempo feliz em que Maria será estabelecida Senhora e Soberana nos corações, para submetê-los plenamente ao império de seu grande e único Jesus? Quando chegará o dia em que as almas respirarão Maria, como o corpo respira o ar? Então coisas maravilhosas acontecerão neste mundo, onde o Espírito Santo, encontrando sua querida Esposa como que reproduzida nas almas, a elas descerá abundantemente, enchendo-as de seus dons, particularmente do dom da sabedoria, a fim de operar maravilhas de graça .... Ut adveniat regnum tuum, adveniat regnum Mariae'" (op. cit., nº 217).
"Que venha o Reino de Maria, para que assim venha o vosso Reino" - isto é, o de Jesus Cristo.
Esta afirmação não deve causar qualquer surpresa, pois, segundo a teologia mariana de São Luís Grignion de Montfort, Maria é o caminho que nos conduz a Cristo.
Na perspectiva desse santo, como na de Fátima, o Reino de Maria será especificamente o Reino do Seu Imaculado Coração. Isto é, o reino do coração materno da Mãe de Deus, reino de grande esplendor, tanto sobre as almas consideradas individualmente, como sobre a sociedade temporal e a Igreja, pela abundância das graças derramadas pelo Espírito Santo.
Reino de Cristo e Reino de Maria: noções coidênticas
Fica assim mais fácil compreender como o Reino de Maria é coidêntico ao Reino de Cristo. De fato, a respeito deste, eis o que Pio XI afirma na encíclica Quas primas, de 11 de dezembro de 1925, com a qual instituiu a festa de Cristo Rei:
"A realeza de nosso Redentor abraça a totalidade dos homens. .... E, neste particular, não cabe fazer distinção entre os indivíduos, as famílias e os Estados: pois os homens não estão menos sujeitos à autoridade de Cristo em sua vida coletiva do que na vida individual. Cristo é a fonte única de salvação para as nações como para os indivíduos. .... Não podem, pois, os homens de governo recusar à soberania de Cristo, em seu nome pessoal e no de seus povos, públicas homenagens de respeito e submissão" (encíclica citada, nº 14).
Quão longe estamos deste ideal! Quanto se caminhou, até, em direção oposta a ele, que era, entretanto, a meta para a qual apontava a Mensagem de Fátima!
Mensagem de Fátima, mais urgente do que nunca
A este respeito, João Paulo II teve palavras dignas da maior consideração. Em sua primeira viagem a Fátima, na homilia da Missa do dia 13 de maio de 1982, disse ele:
"O pecado adquiriu assim um forte direito de cidadania e a negação de Deus difundiu-se nas ideologias, nas concepções e nos programas humanos!" - É bem o processo de secularização - oposto à sacralização - que o Sumo Pontífice tem em vista.
De onde conclui o Pontífice: "Precisamente por isso, o convite evangélico à penitência e à conversão, expresso com as palavras da Mãe, continua ainda atual. Mais atual mesmo do que há sessenta e cinco anos atrás. E até mais urgente" (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Libreria Editrice Vaticana, 1982, vol. V, 2, p. 1575).
A civilização cristã é fundamentalmente sacral
O apostolado específico de Fátima que compete aos leigos consiste em combater o secularismo dominante no mundo moderno. E procurar reconstituir a civilização cristã, "fundamentalmente sacral", como a define o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em sua obra fundamental Revolução e Contra-Revolução (Parte II, cap. II, nº 1).
Os leigos católicos que se dedicam a essa tarefa - urgente, no dizer de S.S. João Paulo II - fazem-no com convicção tanto maior quanto sabem que, de acordo com a Mensagem de Fátima, Deus, por fim, intervirá nos acontecimentos humanos e fará com que os dias tenebrosos e angustiantes do secularismo cedam lugar a outros, nos quais a Santa Lei de Deus seja inteiramente acatada pelas nações. Tal é a civilização cristã, fundamentalmente sacral, como a concebemos, em que a grande maioria dos homens viva habitualmente em estado de graça e na feliz perspectiva da salvação eterna.
Será este - segundo entendemos - o glorioso cumprimento da magnífica profecia de Nossa Senhora em Fátima: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará".
DE:http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=896CD3D8-3048-560B-1CFF22292CEB42B7&mes=Maio1998
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