Irmã Lúcia descreve a visão que teve acerca da purificação do mundo pelos pecados cometidos
- E senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N´Ele vi e ouvi -A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultados. - O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar , é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. - O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! - Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica: - Na eternidade, o Céu! (escreve a irmã Lúcia a 3 de janeiro de 1944, em "O Meu Caminho," I, p. 158 – 160 – Carmelo de Coimbra)
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quinta-feira, 7 de maio de 2009
Nestas semanas contemplamos Nossa Senhora, Mãe de Jesus e Mãe nossa, elevada ao Céu em corpo e alma, e vemo-la na alegria e na glória da Ressurreição
Carta circular do Prelado do Opus Dei
Este mês de Maio decorre inteiramente dentro do Tempo Pascal. A alegria da Ressurreição de Jesus Cristo enche a vida da Igreja, na Terra e no Céu. É esse gaudium cum pace que todas e todos nós já experimentamos.
Como é natural, nestas semanas contemplamos Nossa Senhora, Mãe de Jesus e Mãe nossa, elevada ao Céu em corpo e alma, e vemo-lana alegria e na glória da Ressurreição. As lágrimas derramadas ao pé da Cruz transformaram-se num sorriso que nada mais apagará, embora permaneça intacta a sua compaixão materna por nós. Atesta-o a intervenção da Virgem Maria em nosso socorro ao longo da história e não cessa de suscitar por Ela, no povo de Deus, uma confiança inabalável: a oração Memorare (“Lembrai-Vos”) exprime muito bem este sentimento. Maria ama cada um dos seus filhos, concentrando a sua atenção de modo particular naqueles que, como o seu Filho na hora da Paixão, se acham mergulhados no sofrimento. Ama-os, simplesmente porque são seus filhos, por vontade de Cristo na Cruz [1].
Meditemos nestas palavras do Papa para aprofundarmos sobre as razões da nossa devoção a Nossa Senhora e dar-lhe um novo esplendor. As razões são claras: Maria é Mãe de Deus e nossa Mãe. Por isso, é necessário cultivar uma ardente e terna devoção mariana, solidamente fundamentada na Revelação divina exposta pelo Magistério da Igreja. O queridíssimo D. Álvaro recordava-o numa carta que escreveu em 1987. Dizia-nos ele, considerando que a missão maternal de Maria corresponde a um desígnio de Deus bem determinado: «é um facto inegável que naqueles lugares em que a Igreja se estabelece, pela graça de Cristo e pela correspondência tenaz e sacrificada dos evangelizadores, a Mãe da Igreja está presente (…). Como consequência, nasce e desenvolve-se a gratidão a Santa Maria, e assim surge a fecunda planta da devoção mariana. Os templos e santuários que, como estela luminosa, povoam a geografia dos países em que a fé se enraíza, são dela um claro testemunho que dá à existência dos cristãos uma dimensão de família que só a Santíssima Virgem é capaz de suscitar» [2].
Grande verdade é esta! Os cristãos formamos uma família - a Santa Igreja - na qual Jesus Cristo é o primogénito entre muitos irmãos [3], e onde não falta a presença da Mãe, Maria Santíssima. Jesus indica-nos o caminho que é preciso percorrer para chegarmos à santidade, à plena identificação com Ele. E a Virgem Maria anima-nos, ao longo desta peregrinação, a alcançar a meta: a vida eterna com Deus e com todos os anjos e santos.
A arte cristã mostra-o de forma gráfica quando oferece a imagem de Maria com o Menino nos braços à nossa veneração. Com a sua atitude, com o seu olhar, a nossa Mãe parece sugerir-nos: “olha para o meu Filho, o teu Irmão mais velho e segue, em tudo, o Seu exemplo; anda por onde Ele andou; fomenta no teu coração as ânsias Redentoras do Seu Coração; compadece-te dos teus irmãos e irmãs, como Ele se compadeceu de todos”.
Nos próximos dias, milhares e milhares de pessoas irão em peregrinação aos mais variados lugares onde se venera a Santíssima Virgem, com o desejo de encontrar Jesus de novo, de se parecerem mais com Ele, seguindo o convite de S. Josemaria às suas filhas e filhos no Opus Dei, e a muitas outras pessoas. A Romaria de Maio aparece-nos já como uma alegre realidade em todas as latitudes, que vivemos sem ruído, seguindo os passos do nosso Fundador na sua primeira Romaria, em 1935. Respeito e amo essas outras manifestações públicas de piedade, mas pessoalmente prefiro tentar oferecer a Maria o mesmo afecto e o mesmo entusiasmo através de visitas pessoais ou em pequenos grupos, com sabor de intimidade [4].
Muitas vezes, pomos como meta dessa peregrinação um lugar próximo da nossa casa, talvez na cidade onde vivemos ou nos arredores. Noutros casos - penso, por exemplo, nos doentes e em pessoas com outras dificuldades -, nem sequer será possível sair de casa, e, contudo, também estes podem realizar a Romaria de Maio a Nossa Senhora. Porque o importante não é a deslocação física de um sítio para outro, mas a viagem interior da alma, que nos leva a colocar-nos mais perto de Maria e, portanto, mais perto de Jesus.
O Papa João Paulo II salientava que, nos locais marianos espalhados pelo mundo, se nota uma especial presença da Mãe. Sabemos que esses lugares são incontáveis e de uma enorme variedade: desde os oratórios em casas particulares e em nichos de ruas, em que a imagem da Mãe de Deus aparece luminosa, às capelas e igrejas construídas em sua honra. Todavia, saltam à vista os sítios em que os homens sentem especialmente viva a presença da nossa Mãe: os santuários marianos. «Em todos estes lugares se realiza de maneira admirável aquele testamento singular do Senhor Crucificado: aí, o homem sente-se entregue e confiado a Maria e vem para estar com Ela, como se está com a própria Mãe. Abre-lhe o seu coração e fala-lhe de tudo: “recebe-a em sua casa”, dentro de todos os seus problemas» [5].
Os fiéis recorrem a Maria naqueles lugares com o desejo de encontrarem o fortalecimento «da fé e os meios de a alimentar. Procuram os sacramentos da Igreja, sobretudo a reconciliação com Deus e o alimento eucarístico. E voltam revigorados e agradecidos à Senhora, Mãe de Deus e nossa Mãe» [6].
Todos guardamos como um tesouro esta experiência. Quem não experimenta uma maior proximidade de Deus depois de ter visitado Nossa Senhora com o espírito de oração e de penitência que o nosso Padre nos ensinou? Quem não tocou já a eficácia deste recurso a Maria: para reavivar a fé de alguém que precisava, para o ajudar a estar mais perto de Deus, para abrir horizontes mais amplos a quem resistia a aceitar o chamamento do Senhor a uma entrega generosa? Jesus Cristo quer que a Sua graça nos chegue por meio de Maria. Por isso, não é indiferente deixar de ir aos santuários que o amor dos seus filhos lhe levantou. Não é indiferente passar diante de uma imagem sua sem lhe dirigir uma afectuosa saudação. Não é indiferente que deixemos passar o tempo, sem lhe cantarmos essa amorosa serenata do Santo Rosário, canção de fé, epitalâmio da alma que, por meio de Maria, encontra Jesus [7]. Comecemos já a perguntar-nos: em que posso melhorar ao olhar para as imagens da nossa Mãe? Como saborear cada Avé-Maria, a Salvé-Rainha, o Regina Coeli? A quem me proponho falar do amor de Maria e a Maria?
Estas e outras devoções marianas podem dar relevo e cor ao mês de Maio. O essencial é aproximar-se cada vez mais de Jesus Cristo pela senda que a Sua Santíssima Mãe nos mostra. Cada encontro com Nossa Senhora é um convite a olhar para Cristo. Como dizia Bento XVI num santuário mariano: para o homem em busca, este convite transforma-se sempre de novo num pedido espontâneo, um pedido que se dirige em particular a Maria, que nos deu Cristo como seu Filho: “Mostra-nos Jesus!”. Assim rezamos hoje com todo o coração. E assim rezamos também, para além deste momento, interiormente, em busca do Rosto do Redentor. “Mostra-nos Jesus!”. Maria responde, apresentando-O diante de nós, antes de mais, como Menino. Deus fez-se pequenino para nós [8].
Detenhamo-nos mais uma vez nas frases que S. Josemaria escreveu, pelos anos 30 do século passado, que ajudaram milhares de pessoas a meter-se por caminhos de contemplação na vida corrente: se tens desejos de ser grande, faz-te pequeno (…). O princípio do caminho, que tem por fim a completa loucura por Jesus, é um confiado amor a Maria Santíssima.
- Queres amar a Virgem? - Pois então conversa com Ela! - Como? - Rezando bem o Rosário de Nossa Senhora [9].
A meditação atenta, interiorizada, e o rezar dos mistérios do Terço fazem desfilar diante dos nossos olhos os momentos centrais da vida de Jesus e de Maria. Assim se torna mais fácil avançar pelo caminho que conduz ao Céu, rectificando o rumo, se necessário, mostrando aos que nos acompanham o atalho seguro que termina na felicidade eterna. Ao admirar estas cenas, compreendemos «que, a partir do “fiat” da humilde Serva do Senhor, a humanidade inicia o retorno a Deus e que, na glória da Toda Santa, vê a meta da sua caminhada» [10].
Podemos ainda cuidar outros detalhes de afecto à Virgem Maria. Detenho-me de novo num hábito próprio de gente apaixonada, e que S. Josemaria difundiu por todo o lado: cumprimentar afectuosamente as imagens de Nossa Senhora que vemos em cada dia - numa rua ou praça, no interior de uma igreja, numa divisão da nossa casa… - fazendo acompanhar esse olhar de alguma jaculatória, como expressão bem pessoal do nosso amor filial. O nosso Padre fazia isso e esforçava-se particularmente por saudar as imagens de Nossa Senhora dos sítios onde trabalhava ou vivia. Eram demonstrações do seu carinho filial em que reflectia o que lhe ia na alma: olhares dolorosos, agradecidos ou suplicantes - conforme as circunstâncias - mas sempre expressões de amor verdadeiro.
Aconselhava também a usar na carteira ou no bolso uma imagem da Virgem Maria - como se usam fotografias das pessoas queridas - para a ter sempre muito presente e lhe dirigir expressões carinhosas. Sentia a alegria de ter contribuído para semear o mundo de representações marianas. No Opus Dei, dizia, mostrámos sempre o nosso amor a Nossa Senhora espalhando milhões de imagens suas por todo o mundo, promovendo práticas de piedade mariana em todos os Continentes: na Europa, na Ásia, na África, na América e na Oceânia: encaminhando por aí a juventude, com liberdade. Sem liberdade, não.
Mas tudo isto é natural: como não havemos de amar a Mãe de Deus, que é nossa Mãe? Se precisamos dela, ainda por cima! Eu preciso dela. Tal como um miúdo pequeno, quando tem medo do escuro da noite, grita “Mamã!”, assim tenho eu que clamar muitas vezes com o coração, sem ruído de palavras: “Mãe, mamã, não me abandones!”
A vida interior é assim: naturalidade, simplicidade. Eu não sei viver de outra maneira: tenho que viver como homem. E diante de Deus, que é eterno, sou uma pequena criatura que nada vale [11].
Há umas palavras de um Salmo que a Liturgia aplica à Santíssima Virgem. O Salmista, vislumbrando de longe este vínculo materno que une a Mãe de Cristo e o povo crente, profetiza a respeito da Virgem Maria: “Os grandes do povo procurarão o teu sorriso” (Sl 44, 13). E assim, solicitados pela Palavra inspirada da Escritura, sempre os cristãos procuraram o sorriso de Nossa Senhora, aquele sorriso que os artistas, na Idade Média, tão prodigiosamente souberam representar e engrandecer. Este sorriso de Maria é para todos: no entanto, dirige-se de modo especial para os que sofrem, a fim de que nele possam encontrar conforto e alívio. Procurar o sorriso de Maria não é uma questão de sentimentalismo devoto ou antiquado, é antes a justa expressão da relação viva e profundamente humana que nos liga Àquela que Cristo nos deu por Mãe [12].
Confiemos a Nossa Senhora todas as pessoas que sofrem, na alma ou no corpo: os doentes, os que se sentem abandonados, os que foram afectados por calamidades naturais, os que sofrem perseguição e violências de todo o tipo… Ninguém deve ficar fora da nossa oração.
Rezemos especialmente - recordo-vo-lo todos os meses, porque é uma necessidade sempre actual - pela Pessoa e pelas intenções do Papa. Agora, pelos frutos da sua viagem à Terra Santa, de 8 a 15 deste mês. Rezai também pelos fiéis da Prelatura que vão receber a ordenação sacerdotal no dia 23, véspera da solenidade da Ascensão, que se celebra, em muitos países, no Domingo, dia 24. Peçamos ao Espírito Santo, por ocasião da próxima festa de Pentecostes, no último dia de Maio, que derrame copiosamente os seus dons sobre a Igreja e sobre o mundo, e que disponha os corações de todos para os receber.
Regressei há dias de uma viagem ao Japão e a Taiwan, onde mais uma vez comprovei como o espírito do Opus Dei se enraíza em pessoas de todas as raças e culturas. Nos dois países, para além de me saber acompanhado por todas e por todos, e de rezar convosco, filhas e filhos, tive duas alegrias muito especiais, entre muitas outras. Em Nagasaki, a visita a Oura, ao santuário onde se veneram os mártires daquela terra e se mantém viva a lembrança amorosa dos que conservaram a fé, apesar da dura perseguição. Em Taipé, pude assistir à Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento com o templo cheio de fiéis: tínhamos entrado na igreja onde estava uma imagem da Virgem peregrina e encontrámo-nos com esse acto eucarístico. Num e noutro lugar surgia naturalmente a ideia de que temos de levar Jesus, com Maria, até ao último recanto do mundo. Dai comigo graças à Santíssima Trindade, fonte de todos os bens, e à nossa Mãe, a Virgem Maria: pela sua mediação, recebemos todas as graças. E também a S. Josemaria - no dia 17 é o aniversário da sua beatificação -, por ter sido instrumento fidelíssimo do Senhor para realizar tão abundante sementeira de santidade, de doutrina e de caridade em toda a Terra.
Com todo o afecto, abençoa-vos
O vosso Padre
+ Javier
Roma, 1 de Maio de 2009
Fonte:Opus Dei
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